
(Hardcore Henry)
Ação
Data de Estreia no Brasil: 04/08/2016*
Direção: Ilya Naishuller
Distribuição: Diamond Filmes
A
originalidade de "Hardcore: Missão Extrema" (a partir de agora
somente "Hardcore") e seu alto grau de entretenimento estão
diretamente ligados a seus defeitos. Produzido como uma grande sequencia de
ação retirada totalmente de missões de jogos de vídeo games, o longa abraça sua
origem sem qualquer receio para criar sequencias de ação visualmente
impressionantes que nos guiam por uma história de personagens sem qualquer
profundidade, mas com uma funcionalidade indiscutível mostrando que todos os
defeitos e os acertos do filme são minuciosamente pensados e calculados pelos
produtores em seus curtos, porém extremamente divertidos, 96 minutos de
projeção.
Adaptando
de um curta divertido e famoso que circulou pela internet, Ilya Naishuler
assina tanto o roteiro quanto a direção deste longa que conta a história de
Henry, um homem que sobreviveu a um acidente e que acorda em um laboratório
após ter sido trazido de volta a vida graças a um uso de tecnologia que
praticamente o transformou num ciborgue com habilidades sobre-humana. Em sua
busca por respostas quanto a seu passado e o misterioso vilão Akan (que sem
duvidada alguma é um vilão no sentido mais clássico do cinema), é claro que a
história é meramente uma desculpa para que Naishuller possa se divertir com uma
câmera subjetiva ao melhor estilo POV, resultando num trabalho de coreografia,
mise-en-scène, edição e montagem não só completamente virtuosos como também que dão
sinais promissores para a carreira deste jovem diretor russo.
Assim,
Henry é um ser completamente sem identidade ou complexificação,
um sacrifício feito pelo roteirista do conteúdo pela forma, sendo auxiliado pelo fato de que uma câmera subjetiva obriga o espectador a
estar do lado do personagem, e assim com o passar do tempo, por mais que nunca
perca seu aspecto lúdico, a plateia preenche o personagem com suas próprias fobias e emoções
(causadas pela adrenalina dos movimentos radicais de Henry)
sentindo-se no meio de todas aquelas ações. Com isso "Hardcore" é um "filme de cinema" no melhor sentido destes termos, já que por mais que haja a
imersão do espectador em cada nova missão de Henry nunca se perde o sentimento
de passatempo lúdico e inofensivo que o próprio filme deseja ser.
Com isso,
o leitor não deve pensar que a técnica empregada pelo longa é utilizada de
forma banal e sem qualquer inventividade, pois isso seria um terrível engano. Na
verdade, a própria escolha de lentes grande angulares (as famosas "olho de
peixe") se mostra uma decisão acertada que deforma as bordas da tela nos
colocando uma perspectiva de estarmos dentro dos olhos de Henry, observando o
mundo somente até onde o máximo de sua visão periférica permite. Ainda
assim, "Hardcore" não se prende a uma montagem em tempo real - o que
só delongaria cenas que mostram o protagonista correndo por corredores, por exemplo - empregando pequenos cortes que avançam a narrativa soando muitas vezes como
jump-cuts. Tal abordagem dá ainda dinamismo para as sequencias de ação que
envolvem lutas com facas, tiroteios complexos em edifícios, perseguições
longas que envolvem coreografias de "le parkour" montadas com agilidade e energia sem que deixemos de entender o que está acontecendo na cena.
Contando
ainda com momentos de alívio cômico bem empregados sem que soem como meras
gracinhas do roteiro, este ainda é bem estruturado em sua história extremamente
simplória e construída através de pequenas missões tão características de vídeo
games que possuem sempre um personagem que literalmente narra o que deve ser
feito para passar de fase... digo, resolver os problemas que são apresentados.
Em sua leveza descompromissada o script falha justamente por, ao final de cada
missão, sempre apresentar uma resolução repetitiva que dá aos espectadores (de forma manipulativa) somente partes específicas e medidas da história de Henry para que a narrativa avance. Assim, todos os
personagens do filme são interpretados como meras caricaturas por seus
interpretes e como meras ferramentos de roteiro pelo filme, porém soando sempre mais divertido e completamente dentro da
proposta do longa, sendo um destaque mesmo a atuação carismática de Shalrto Copley com seus "múltiplos Jimmys".
Tirando todo o proveito das situações que cria, "Hardcore"
mostra, assim como o último "Mad Max" fez, que para se criar um filme de ação
interessante não é necessário uma grande trama (ainda que o filme de George
Mueller seja uma obra muito superior). Este longa russo sabe explorar bem suas
qualidades mascarando seus defeitos, nos brindando no meio do caminho com o
mais puro cinema pipoca - ainda que, aqui e ali, os efeitos digitais falhem em
sua construção por soarem artificiais demais. Um grande
acerto despretensioso e divertido num ano tão frustrante quanto
2016 vinha se mostrando.
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