sábado, 23 de maio de 2015

Clássicos Cinemark - Semana 01: "O Satânico Dr. No"

O Satânico Dr. No
(Dr. No)
Ação/Aventura- 1962 (Estados Unidos)
Data de Estreia no Brasil: 07/09/1963
Direção: Terence Young
Distribuidora: United Artists Corporation



          Primeiro filme produzido sobre James Bond, quase tudo em "O Satânico Dr. No" soa clássico nos dias atuais. O filme nos faz pensar: ah, o início dos anos 60, com seus belos carros, ternos impecáveis, penteados estilosos... e a Guerra Fria. O longo conflito que marcou tão profundamente toda uma era, deixou sua clara e significativa marca na produção cinematográfica da época. Seja de maneira satírica, como em Dr. Strangelove, ou a partir de uma inteligentíssima metáfora, como em "Vampiros de Almas" (1956), ou ainda de maneira extremamente clara como nos primeiros filmes  como 007. Analisando somente "O Satânico Dr. No", podemos observar inúmeros destes elementos, como por exemplo a forte presença da corrida espacial, o excêntrico vilão oriental, a obsessão pelo tema da radiação e, é claro, a espionagem.

          "O Satânico Dr. No" é a primeira adaptação cinematográfica dos livros de Ian Fleming, iniciando a mais duradoura e financeiramente bem-sucedida franquia do cinema. Em grande parte isso se deve ao formato episódico em que foi idealizado, permitindo que os filmes funcionem sempre de maneira independente uns dos outros. Apesar dessa falta de uma única linha narrativa entre os filmes, é em "O Satânico Dr. No" que podemos ver pela primeira vez todos os elementos que tornam Bond um dos personagens mais icônicos da história do cinema. Já na hoje antológica abertura do filme, temos a muito clara impressão de estarmos acompanhando um dos mais importantes pedaços de história do cinema. Nada mais saudoso do que acompanhar, mais de 50 anos depois do lançamento do filme, a sempre charmosa apresentação de Bond, James Bond, ou o clássico pedido, Martini batido, não mexido.
         Sempre há discordâncias quando se pensa a escalação de um ator para interpretar um personagem já existente em outra mídia. Isso não foi diferente com "O Satânico Dr. No". Durante a pré-produção de "O Satânico Dr. No", os responsáveis pelo elenco tentaram a contratação de Gary Grant, um ícone dos anos 50, que aparentemente era o favorito de Fleming. Após uma recusa de Grant, os produtores partiram em busca de novas opções e, reza a lenda que após uma única entrevista, ficaram absolutamente convencidos pelo escocês Sean Connery, um semi-desconhecido ator de quase dois metros de altura e voz grave, que apesar de sua grande imponência física, movia-se com enorme graça e leveza, "como um gato". Após o grande sucesso internacional do filme, Connery acabou ele próprio tornando-se uma um grande ícone dos anos 1960. Já tivemos outros 5 atores interpretando James Bond no cinema, e isso em nada danifica a essência do personagem, porém, o Bond clássico será sempre Sean Connery. Mas não é assim que pensava Ian Fleming, pelo menos inicialmente. Apesar de convencido pela performance após o lançamento do filme, o criador do personagem não via o suficiente de Bond em Connery, e classificou o primeiro filme como: "Horrível. Simplesmente Horrível".
         É importante fazer a observação de que o filme contém inúmeros elementos que, apesar de não terem gerado grande comoção na época, seriam extremamente criticados se lançados em um filme hoje em dia. Podemos citar dentre eles: a posição de inferioridade em que é sempre colocado o personagem jamaicano, Quarrel; a escalação do norte-americano Joseph Wiseman para interpretar, sob pesada maquiagem, um personagem de ascendência chinesa; e principalmente a forma como o filme objetifica suas personagens femininas, as famosas bond-girls. Diferentemente do que ocorre nos filmes da franquia desde os anos 90, as mulheres que aparecem em "O Satânico Dr. No" não exercem função nenhuma dentro da narrativa do filme, estando lá apenas para auxiliar na construção da aura de charme que envolve o personagem principal, e o próprio filme. Prova disso é o jeito extremamente absurdo e sem sentido que o filme nos apresenta a personagem de Ursula Andress. Nunca sabemos o porquê dela ter aparecido (de biquíni, é claro) e sua personagem não influencia em quase nada o resto da trama, simplesmente ficando ao lado de Bond durante o clímax. Como se isso não bastasse, Bond a chama durante todo o filme de Honey (algo como "querida"), pois seu nome é Honey Ryder. Mais claro que isso, impossível.
         Falando sobre o clímax, é durante seu terceiro ato que "O Satânico Dr. No" perde muito de sua força, tornando-se até um filme chato em alguns momentos. Entretanto, é nesse ponto do filme que aparece o primeiro bond-vilão, Dr. No. Envolto em uma aura de mistério e excentricidade, o personagem é a própria definição de vilão, pois não há nada mais clássico do que o antagonista com planos de dominação mundial. Apesar de oriundo de uma China comunista, algo que certamente não é um acaso, Dr. No é representado como indiferente aos conflitos entre "Leste" e "Oeste", dizendo inclusive: "Leste, Oeste, apenas pontos na bússola, um mais estúpido do que o outro". É no mínimo interessante ver tal frase proferida por um vilão chinês, interpretado por um norte-americano, em um filme britânico sobre espionagem. É também nesse diálogo entre o mocinho ocidental e o vilão oriental que é revelado o nome de sua organização, SPECTRE, sigla que reúne os maiores medos do público do filme nos anos 60: Contra-Inteligência, Terrorismo e Extorsão.
         Apesar de não ser um filme perfeito e contar com um roteiro fraco, "O Satânico Dr. No" certamente deve ser assistido por se tratar de um dos maiores clássicos da história do cinema, que apresenta um dos personagens mais icônicos de todos os tempos. É interessante acompanhar o filme com bastante atenção para todas as alegorias feitas à Guerra Fria e todos os aspectos que nos dão grandes vislumbres da sociedade da qual o filme é oriundo.








Ótimo

Por Obi-Wan

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