sábado, 30 de maio de 2015

Clássicos Cinemark - Semana 02: "O Resgate do Soldado Ryan"

O Resgate do Soldado Ryan
(Saving Private Ryan)
Ação/Drama/Guerra- 1998 (Estados Unidos)
Data de Estreia no Brasil: 11/09/1998
Direção: Steven Spielberg
Distribuidora: DreamWorks Distribution



      O erro mais recorrente cometido por dramas de guerra é a tentativa de seus roteiros de abraçar o mundo, tentar encapsular uma trama grandiosa demais em tempo de menos. Isso é ainda mais frequente em filmes sobre a Segunda Guerra Mundial, que muitas vezes tentam abarcar toda a extensão do conflito, com demasiados cortes temporais e inúmeros personagens. Fosse um filme menos inteligente, "O Resgate do Soldado Ryan" poderia tentar mostrar a jornada dos irmãos Ryan desde quando moravam em Iowa, sua separação, até a morte dos 3 irmãos e... viraria uma bagunça. Ao invés disso, o roteiro do filme é extremamente contido em si mesmo, apresentando uma premissa extremamente simples, que vai se desenvolvendo em um roteiro cada vez mais imbricado a medida que se desenrola, nos introduzindo a personagens extremamente complexos e construindo a cada minuto uma percepção mais apurada sobre tamanho desperdício de vidas humanas que foi uma guerra de tal proporção.

           Mas antes de entrar nessa discussão, é preciso falar sobre  a cena de abertura do filme, que representa o desembarque de tropas dos Aliados na Normandia, e talvez seja a mais incrível sequência de ação já utilizada como abertura de um filme. Aqueles são alguns dos minutos mais intensos da história do cinema, com uma ação absolutamente visceral, que a cada minuto consegue nos deixar mais enjoados ante à crueza da guerra e sem palavras frente à representação da extrema fragilidade da vida humana, desperdiçada de maneira tão inescrupulosa. Essa é uma importantíssima reflexão que o filme nos traz logo nos segundos iniciais, quando vemos 5, 6 soldados  morrendo mesmo antes de saírem de seus barcos, tornando-se mais uma estatística entre os milhões de mortos.
        Principalmente essa primeira cena, e também durante todo o restante do filme, há uma excepcional sensação de imersão. É incrível o quanto algumas cenas filmadas por Steven Spielberg me fazem sentir dentro de um jogo de tiro em primeira pessoa, transmitindo o peso esmagador do conflito. Além da direção extremamente inspirada e experiente de Spielberg, "O Resgate do Soldado Ryan" tem um enorme valor de produção, com maravilhosos cenários de uma França caindo aos pedaços, absurdamente realistas cenas de explosões e mutilações, figurinos muito bem feitos e, algo que sempre me chama a atenção, maquinários de guerra extremamente convincentes. Não poderia me esquecer também da mixagem de som e efeitos sonoros, que renderam ao filme duas de suas 5 estatuetas no Oscar de 1999. Spielberg também levou Melhor Diretor, mas Melhor Filme acabou ficando para "Shakspeare Apaixonado" (vai entender a Academia...).
          O roteiro do filme, completamente original, também recebeu uma indicação em sua respectiva categoria e, em minha opinião, também merecia ter levado a vitória. Estamos falando de um filme sobre a Segunda Guerra Mundial que não recorre a nenhum dos temas mais tradicionais quando se trata do conflito, como o Nazismo, a figura de Hitler ou o Holocausto. Os pontos mais cruciais da guerra aparecem apenas como contextualização, seja na já citada primeira cena, ou em uma conversa de Capitão Miller sobre a tomada do noroeste da França, chegando até Paris. O real foco do filme está claramente na construção de personagens, na forma como cada um destes homens lida com a enormidade de uma Segunda Guerra Mundial. Sem serem estereotipados, cada um dos personagens do filme ilustra uma situação diferente, uma forma de se encarar a Guerra. Os personagens que melhor simbolizam isso são Miller e Upham. O primeiro é o típico homem comum de uma cidade pequena, um professor de redação obrigado a encarar um cenário de guerra, e ir, como ele próprio diz, ficando mais longe de casa e de quem uma vez foi, a cada homem que mata. Upham por outro lado, é o "verde" rapaz que chega não tendo a menor ideia do que está fazendo ali, e que continua não sabendo até o fim do filme. Porém, na última cena em que o vemos, há algo em seus olhos. A experiência de guerra o mudou para sempre, algo está quebrado dentro dele, irremediavelmente.
           É claro que o filme possuí alguns defeitos, como por exemplo sua melodramática trilha sonora, que acaba por passar do ponto em alguns momentos, e a maneira como nenhuma oportunidade de se ostentar a bandeira norte-americana é desperdiçada. Apesar desses pequenos tropeços, acredito que "O Resgate do Soldado Ryan" é um dos melhores dramas de guerra produzidos por Hollywood, justamente por não tentar glorificar a Segunda Guerra Mundial, mas sim mostrá-la de uma forma muito mais humana e crua, retratando os soldados dos dois lados como vítimas de atrocidades às quais nós mesmos nos submetemos.
 




Excelente

Por Obi-Wan

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