segunda-feira, 9 de maio de 2016

Crítica: "Equipe Foxcatcher"

Equipe Foxcatcher
(Team Foxcatcher)
Documentário/Drama
Data de Estreia Mundial: 29/04/2016
Direção: John Greenhalgh
Distribuidora: Netflix

“Equipe Foxcatcher”, novo documentário da Netflix, possui tanto as maiores virtudes de um excelente documentário quanto graves defeitos que este tipo de filme de maneira alguma poderia possuir. Enquanto revela um arsenal maravilhoso de material documental e aspectos técnicos precisos, o filme comete o erro de omitir certos momentos e personagens, ficando paradoxalmente no meio do caminho entre o acrescentar e ser inferior à obra lançada em 2014 “Foscatcher” de Bennett Miller que, mesmo com seus defeitos e licenças poéticas típicas de dramatizações de casos reais, permanecia como um estudo interessante e melancólico de todos os seus personagens. 
Partindo de uma estrutura que aposta muito mais numa espécie de “estudo coral”, a obra busca dar voz aos diversos lutadores que viveram e trabalhavam na fazenda Foxcatcher a serviço do time de atletas que era financiado pelo “excêntrico” magnata John Du Pont até chegar aos eventos mais famosos da vida deste: o assassinato, e consequentemente o julgamento do caso, de Dave Schultz pelo próprio Du Pont. É justamente este elemento que enriquece a narrativa já que acompanhamos diversos depoimentos que revelam uma crescente preocupação dos atletas em relação a saúde mental do milionário, algo que soa ainda mais trágico ao chegarmos a conclusão de que aquilo tudo poderia ter sido evitado.
Dessa forma, os momentos de ira repentina de Du Pont, bem como relatos de suas paranoias (em certo momento conta-se que este acreditava não só haver tuneis sob a sua casa, mas também que alguns atletas, incluindo Schultz, estavam utilizando de tais passagens para apavorar o proprietário, além de se “infiltrarem” nas paredes para lhe vigiar) ganham força justamente ao vermos seus momentos de psicose aflorando, bem como se tornam um estudo eficiente ao abordar a solidão deste, sua necessidade de aceitação pelos demais e seus problemas familiares na infância.
A montagem do documentário que, abastado com excelentes gravações em vídeo feito na época, consegue conectar todas as informações de maneira coesa levando-nos ainda a momentos de puro brilhantismo que unem sons e imagens de momentos diferentes a partir de seus temas (há uma sequencia brilhante que se passa nos dias de hoje dentro da casa antiga dos Schultz, mas com o áudio de uma gravação antiga mixado ao funto). Aliás, toda a montagem dos seguimentos envolvendo os fatos de o proprietário da fazenda afirmar repentinamente que era Búlgaro, bem como o ato racista de demitir todos os esportista negros de sua equipe, contribuem para que entendamos ainda mais o ambiente crescente de hostilidade que viviam os atletas.
Aliás, ao tratar destes, a obra faz um belo trabalho ao exemplificar porque determinados indivíduos decidiram participar da equipe e permanecer nesta mesmo que a insanidade do patrocinador estivesse cada vez mais a mostra. A necessidade de recursos e um ambiente bem preparado com aparatos técnicos chamava a atenção de qualquer lutador, mais do que isso, ganhava a confiança e cativava o próprio governo norte americano que via o futuro assassino como um bem feitor. Neste ponto, o documentário acerta novamente ao não simplesmente abandonar o tema a partir da prisão do herdeiro milionário, incluindo ainda um estudo midiático eficiente e um embate interessante no julgamento de Du Pont que alegou insanidade. 
Porém, é justamente com a família Schultz, a maior prejudicada na história, que o filme derrapa. Retratando Dave Schultz quase que como um benfeitor universal e extremamente ingênuo (algo que a performance de Mark Ruffalo evitava com maestria já que o ator sabia como transparecer a desconfiança de forma sutil), o filme ainda comete o pecado capital de nem ao menos citar uma só vez Mark Schultz nem como a ponte que ligou Du Pont ao seu irmão, nem como um atleta que conviveu com o magnata, nem como um familiar que perdeu um ente querido.
Assim, não se pode negar que, por mais que não seja uma obra reveladora frente ao longa de 2014, Equipe Foxcatcher faz justamente o que seu título propõe ao exemplificar a ascensão e ruína de uma das equipes esportivas mais vitoriosas do ultimo século, perdendo um pouco de força quanto a personagens de inquestionável relevância, mas se destacando justamente por seu drama principal que conta com a figura intrigante, assustadoramente poderosa e extremamente solitária que foi John Du Pont.






Ótimo
Por Han Solo

Nenhum comentário:

Postar um comentário