(Zootopia)
Animação/Mistério/Drama
Data de Estreia no Brasil: 17/03/2016
Direção: Byron Howard e Rich Moore
Distribuidora: Disney/Buena Vista
Existe uma ironia patente entre o subtítulo de
"Zootopia" e a abordagem que o filme faz de seus temas: enquanto o
primeiro (montado de maneira preguiçosa) demonstra uma falta de confiança
tremenda com seu público alvo de entender que se trata de uma cidade fictícia
povoada por animais, o segundo é um estudo eficaz de formas de preconceitos
naturalizadas numa sociedade que, independente de milhares de anos de evolução,
tende a separar indivíduos e atitudes a partir de um determinismo biológico.
Assim, temas complexos e intrigantes são embalados em uma animação que, lançada
em circuito comercial, tem maior apelo com o público infantil, sempre com idéias
que lançam “piscadelas” aos pais que acompanharão seus filhos ao cinema e,
consequentemente, participam de sua educação.
Para tanto, o roteiro dá um show metafórico que atinge a qualquer
um com seus simbolismos sem que com isso deixe de representar um passatempo
efetivo. Girando em torno de um caso de desaparecimento de vários “predadores”,
o filme conta a história de Juddy Hopps (Ginnifer Goodwin), a primeira coelha a
se tornar policial e que desde pequena sonha em tornar o mundo um lugar melhor.
Entrando de cabeça na investigação, a coelha acaba por contar com a ajuda da
astuta raposa Nick Wild (Jason Bateman), deixando que filme então parta para
uma abordagem de contrastes entre ambos personagens, enquanto seu
relacionamento se desenvolve e o mistério se desenrola.
É fácil assim identificar todos os elementos de filmes de detetive
e thrillers policiais que envolvem a trama. Parceiros disfuncionais, chefes de
polícia teimosos e autoritários, além de um belo contraste de luz e sombras
(advindo diretamente do cinema noir) são encontrados na projeção sem que com
isso o filme soe referencial demais. Todos estes elementos são colocados na
trama de maneira orgânica e inteligente sendo que o paralelo entre o cinismo de
Wild e a esperança/ingenuidade de Hopps representam um embate sutil que,
verbalizado sempre com maestria por excelentes diálogos, movem emocionalmente
os personagens, fazendo com que estes se desenvolvam diante de nossos olhos
criando uma conexão com o espectador.
O senso
de humor do filme acaba ficando em segundo plano, mas nunca deixado de lado ou
simplesmente utilizado de maneira preguiçosa. De fato é justamente uma
sequencia envolvendo bichos preguiças que roubam o filme com o brilhantismo do
roteiro e da técnica precisa de animação. Esta, por exemplo, é irretocável já
que o mundo de “Zootopia” tem uma composição a partir de suas ambientações
climáticas diferentes (como savanas e ambientes polares) além de adaptações de
funcionalidade da cidade a partir do tamanho das criaturas – O bairro dos ratinhos,
a utilização de tubos de transporte para Hamsters e as portas de diversos
tamanhos presentes nos trens são um belo exemplo disso. A cidade é um deleite
visual que faz jus a complexidade emocional presente em seus personagens.
E se
cito “complexidade” novamente é porque este é o elemento que faz esta obra
merecer um lugar de destaque nas premiações do próximo ano. A discussão sobre
racismos e estereótipos vai desde a fala de nossa heroína sobre como “coelhos
podem chamar outros coelhos de fofinhos, mas outros animais não”, num exemplo
mais claro, até certa declaração de um personagem no final do segundo ato que
revela um racismo naturalizado emitido justamente por um personagem que se
mostra “esclarecido” quanto à preconceitos, tendo sofrido deles. Aqui o filme
amplia seus horizontes muito além do que as mentes que acreditam em racismo
inverso poderiam admitir. Contudo,
deve-se alertar para que o espectador não faça uma projeção direta dos
personagens para o “nosso mundo”, já que o filme utiliza de elementos próprios
de sua sociedade para exemplificar elementos na nossa, não possuindo uma
estrutura idêntica, mas semelhantes – Tentar separar raposas e coelhos
diretamente como negros e brancos, por exemplo, seria um erro que simplificaria
muito a idéia do filme.
Elogios
rasgados à parte, deve-se criticar uma certa fragilidade narrativa ao roteiro
utilizar de um elemento por três vezes ao longo do filme para solucionar seus
problemas , além de obter uma estrutura de caso parcialmente solucionado e "revelação final". Contudo, a obra conta ainda com uma música que certamente concorrerá a
prêmios e que, na voz de Shakira, comenta perfeitamente a obstinação da
personagem principal com uma melodia extremamente grudenta (ainda estou cantando
ela enquanto escrevo esta crítica). Lançado a mais de um mês, “Zootopia” é uma
obra tão divertida e intrigante que merece uma crítica escrita mesmo que com atraso. Seus
temas e personagens têm o potencial de ensinar tanto crianças quanto adultos... Na verdade, principalmente estes.
Excelente
Por Han Solo
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