Por Fábio D. A. L. Silva
Honestamente,
eu nunca tinha sequer ouvido falar de Ricardo Darín até o furor que se fez em
torno de "Relatos Selvagens", filme portenho de 2014, composto por esquetes ácidas
que colocam a ira cotidiana de todos nós sob os holofotes. Bombita, personagem
de Darín em um dos segmentos do longa, definitivamente se destaca no todo, por
sua humanidade, sua empatia, sua consciência.
Bombita ficou
vários dias instigando a minha curiosidade e, em tempos de Youtube, não há
curiosidade que precise arrefecer em vão. Corri pra internet na intenção de
conhecer mais sobre esse cara que tinha me impressionado para além do
personagem.
Naquela mesma
semana, não à toa, um vídeo de uma entrevista concedida por Darín em um
programa argentino, havia viralizado nas redes sociais. Nele, o ator interpela,
magistralmente, o entrevistador que o pergunta a razão de nunca ter alçado
carreira em Hollywood apesar dos inúmeros convites que deve ter recebido ao
longo da carreira. Darín, então, não se furta ao refletir sobre o conceito de
fama e argumenta sobre uma espécie de ganância existencial que toma conta dos
atores em geral, além de dizer, categoricamente, que se ressentia pelo tipo de
papel que lhe era oferecido, quase que de maneira invariável, o de hispânico
marginal.
Pronto. Meu
encantamento não era mais apenas por Bombita, mas sim por Darín!
Algum tempo
passou e o filme mais recente dele entrava em cartaz. "Truman"(2015) contava a saga de
um velho ator de teatro diagnosticado com uma doença terminal, e de como esse
panorama afetava aqueles que transitavam à sua volta. Não teve erro! Outro
bálsamo de simplicidade e poetização do cotidiano com Darín dosando divinamente
suas emoções como se nos trouxesse para dentro daquele drama com pitadas de
comédia.
Saí de "Truman" tão fascinado que fui atrás de
outros filmes de Ricardo, coisa que me arrependo de não ter feito logo depois
de Relatos. Pensei comigo que, com dois filmes tão excelentes, ele com certeza
valia o esforço. Daí foi que tomei conhecimento da longa parceria dele com o
diretor Juan José Campanella, parceria esta que desenvolveu um estilo próprio e
tornou ambos, sinônimo de bom cinema.
Escolhi "O Filho da Noiva" (2001) para inaugurar minha jornada e logo identifiquei o segredo, o toque que fazia aquilo especial. Além de roteiro preciso e atuações comoventes e envolventes, a latinidade da produção era o diferencial definitivo. Tudo ali era tipicamente sul-americano, sem pudores ou retoques.
Nesse filme e nos outros da parceria que já pude conferir, a predileção por filmar em Buenos Aires ou em outros locais de língua castelhana, abraça o espectador latino de maneira ímpar, brotando certo orgulho de pertencer a um continente tão belo e confuso.
Por essas e muitas outras, Darín é, sem dúvida, um mensageiro, um agente cujo propósito é espalhar a verdadeira América do Sul por aí. Darín não é apenas um ator, um (ex)-galã. Darín é um dos mais certeiros, agradáveis e sábios pensadores que já vi no chamado “mundo do cinema”.
Tanto que, apesar de estar com toda a filmografia em mãos, tenho feito o máximo para apreciar o mais detalhadamente possível, essa longuíssima maratona, alongando também assim, o prazer de conhecer Ricardo Darín.
Como sempre, o comentário de Fábio atrai meus olhares sobre atores intensos ... aqueles que se orgulham de ser íntegros em suas escolhas para representar.
ResponderExcluirA crítica embasada em pesquisas além do ver o filme, faz de Fábio um crítico confiável e robusto.