terça-feira, 24 de maio de 2016

Crítica: "Jogo do Dinheiro"

Jogo do Dinheiro
(Money Monster)
Data de Estreia no Brasil: 26/05/2016
Direção: Jodie Foster
Distribuição: Sony Pictures Releasing


          Depois do crash da Bolsa de Valores de Wall Street em 2008, a temática dos acionistas e do mercado por estes controlado passou a ter uma forte presença na mentalidade dos norte-americanos e, consequentemente, em seu cinema. O tema foi retratado das mais variadas formas, indo desde o sério e reflexivo "Margin Call: o Dia Antes do Fim" até o altamente sarcástico "O Lobo de Wall Street", prova de que há uma grande variedade de possibilidades ao se explorar o mundo das obscuras transações de mercado. "Jogo do Dinheiro" explora o tema a partir de dois eixos principais: a representação construída pela mídia sensacionalista e o desespero do homem comum que perdeu tudo o que tinha por conta dos jogos monetários dos poderosos. 
         A trama de "Jogo do Dinheiro" começa quando Kyle Budwell entra num set de televisão armado com uma pistola e um colete atrelado a um detonador, numa tentativa desesperada de descobrir como os 60 mil dólares que investiu em uma companhia promissora desapareceram de uma hora para outra. Até aí é uma premissa bastante simples de uma situação de refém, muito bem explorada pelo cinema em diversos filmes. O que há de original e interessante em "Jogo do Dinheiro" é o fato de que todas as atitudes tomadas por Kyle estão sendo transmitidas de maneira instantânea para o mundo inteiro, pois o programa que invade, "Money Monster", é apresentado diariamente por Lee Gates ao vivo para todo o país.
         Um dos aspectos mais interessantes trazidos por "Jogo do Dinheiro" está no contraste entre o programa de TV "Money Monster", onde o Lee Gates de George Clooney faz todo o tipo de coisa ("todo" não é retórico, ele vai desde dançar repetidas vezes até criar metáforas sexuais com um gráfico de crescimento do valor de ações) para convencer seus espectadores a comprar as ações de determinadas empresas. É dessa forma que Kyle decide juntar todo o dinheiro guardado que ele e sua namorada grávida têm para investir na IBIS, uma das companhias que Gates eloquentemente promove em seu programa. O mais interessante da situação é o choque entre o circo promovido por Gates em seu estúdio fechado e a dose de realidade trazida por Kyle, que primeiramente é confundido com mais um quadro do programa que os produtores esqueceram de avisar a Gates. Essa tensão entre as mentiras contadas pelos poderosos empresários para os simples acionistas da população em geral perpassa todos os acontecimentos do filme.
             Este elemento da tensão e do suspense é algo muito bem conduzido pela diretora Jodie Foster, que consegue encontrar um ritmo perfeito para o filme, fazendo com que a trama se mova rapidamente ao longo de seus 96 minutos, tão dinâmicos quanto a própria televisão. Jodie Foster não inova, mas sua direção segura é responsável por conseguir balancear muito bem os diversos acontecimentos simultâneos, no estúdio, entre os policiais e na própria sede da IBIS, tentando montar um panorama geral do que está acontecendo. Nisso, a diretora tem o auxílio de um elenco muito forte, que se divide entre os diferentes momentos e locais da trama, principalmente na figura de Julia Roberts, a diretora do programa de Gates que permanece com ele até o final, a talentosa Caitriona Balfe, importante dentro da IBIS e Giancarlo Esposito, capitão da polícia de Nova York e responsável por tentar controlar a situação.
             O problema está justamente no fato de que "Jogo do Dinheiro" tenta responder perguntas demais ao mesmo tempo, esbarrando em seu reduzido tempo de duração. O principal defeito que decorre disso é a falta de tempo dedicado ao desenvolvimento de personagens, que fica inteiro relegado ao talento do elenco principal. George Clooney até consegue se virar traçando a personalidade de seu Lee Gates, mas Jack O'Connell sofre por conta da falta de tempo dedicado ao estudo do personagem de Kyle Budwell. O talentoso ator consegue transmitir através de olhares toda a frustração de seu personagem, um trabalhador comum que foi enganado pelo esquema da Bolsa de Valores. Porém, o roteiro se esforça para tirar o foco deste aspecto e coloca-o em uma trama mirabolante e implausível demais criada pelo presidente da IBIS, simplificando uma questão complexa e tirando muito da crítica social que o filme poderia conter. No entanto, um thriller muito bem conduzido e inteligentes e pertinentes considerações sobre o estado atual da mídia e da sociedade altamente informatizada fazem com que "Jogo do Dinheiro" seja uma interessante adição a lista de ótimos filmes que discutem o mercado de ações e seus aspectos.






Ótimo

Por Obi-Wan

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