Flight
Direção: Robert Zemeckis
Disponibilidade: Online/Download/Netflix
Por: Obi-Wan
Lançado nos Estados Unidos no final do ano de 2012, durante a chamada "temporada do Oscar", "O Voo" é um filme de grandes ambições. A narrativa constitui um estudo de personagem focado na figura de Whip Whitaker, interpretado por Denzel Washington. Whip é um piloto aparentemente no topo de sua carreira profissional. Porém, a situação de sua vida particular está longe de atingir esse mesmo sucesso. Whip é um álcoolotra que, incapaz de admitir sua condição para si mesmo, prefere se esconder sob a negação de que bebe por uma questão de escolha, o que o leva a perder seu casamento e a relação com seu filho. Essa descrição é extremamente genérica e, suprimindo-se o nome do personagem e sua profissão, pode ser aplicada a inúmeros outros grandes filmes. Os elementos que fazem de "O Voo" um filme único são a criativa premissa que serve como movimentadora da auto-destrutiva jornada do personagem principal, aliada à brilhante atuação de Denzel Washington.
O que começa como apenas mais um dia rotineiro de trabalho para Whitaker, aparentemente acostumado a pilotar sob o efeito do álcool, culmina em uma das mais empolgantes cenas já filmadas sobre uma queda de avião. Com uma manobra ousada e genial, Whitaker evita uma colisão direta com o chão, salvando muitas vidas. Porém, um exame de sangue feito após a queda aponta para seu estado de embriaguez durante o voo. A partir daí, o roteiro, indicado ao Oscar, cria diversos cenários que tentam expor cada aspecto da personalidade de seu fascinante personagem principal, humanizando a figura considerada por muitos como um herói. Porém, o verdadeiro destaque e alma do filme é certamente a atuação de Denzel Washington, muito digna de sua sexta indicação ao Oscar. O personagem que constrói jamais soa superficial ou caricato, pois o ator foge do estereótipo de alcoólatra desorientado e agressivo, interpretando um homem arrogante que acredita estar acima de todos os tipos de vícios, recusando-se a admitir seus sérios problemas, mesmo depois que estes o afastam de sua família.
"O Voo" conta também com um muito competente elenco coadjuvante, com destaque para o sempre ótimo Don Cheadle, que vive Hugh, o advogado encarregado de livrar Whip de suas atuações, John Goodman e sua sempre marcante figura, interpretando aqui Harling Mays, traficante e antigo amigo de Whip, e a britânica Kelly Reilly, que vive Nicole, uma viciada em heroína que, apesar da falta de tempo e de desenvolvimento por parte do roteiro, traz uma importante colaboração para a construção do personagem principal e do roteiro como um tudo. Talvez sua personagem seja uma das poucas falhas do roteiro, pois ela entra e sai de cena dependendo muito de coincidências e seu arco é muito pouco claro, sofrendo pela faltando um melhor fechamento. Outro ponto a ser destacado é a ótima e marcante direção do experiente diretor Robert Zemeckis, que ajuda a aumentar a originalidade do filme, com seu característico uso de câmera lenta e uma excelente trilha sonora, com uma maneira muito particular de tomar conta de algumas cenas. No fim das contas, se faltou a "O Voo" um pequeno passo para alcançar suas altas ambições em relação a premiações (o filme não recebeu indicação para Melhor Filme), trata-se de um filme extremamente marcante, nos trazendo uma série de reflexões através da espinhosa jornada de seu complexo e inesquecível personagem principal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário