quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Crítica: "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)"

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance)
Comédia/ Drama - 2014 (Estados Unidos)
Data de Estreia no Brasil: 29/01/2015
Direção: Alejandro Gonzáles Iñarritu
Distribuidora: Fox Filmes


Riggan Thomson (Michael Keaton) fez muito sucesso na década de 90 ao interpretar no cinema o super-herói Birdman, mas após recusar estrelar mais um filme da franquia sua carreira declinou e agora ele tenta recuperar o reconhecimento e fama perdidos adaptando, dirigindo e atuando um texto para a Broadway. As coisas vão se complicando cada vez mais com os problemas que enfrenta com sua filha Sam (Emma Stone), que acaba de sair da reabilitação, com as preocupações financeiras de seu agente Brandom (Zach Galifianakis), precisando ainda lidar com questões do seu elenco após a chegada do brilhantemente talentoso, porém problemático, Mike Shiner (Edward Norton) enquanto a voz de Birdman insiste em lhe provocar em sua mente.

Cerca de vinte anos atrás Michael Keaton abandonava o papel de protagonista da franquia Batman, dirigida por Tim Burton, tentando dedicar a sua carreira em outros tipos de projetos, infelizmente sua fama e carreira acabaram por declinar. Enquanto isso, Edward Norton despontou durante a década de 90 como um grande talento, o que se confirmou de maneira excepcional, mas com o passar do tempo foi se revelando um ator difícil de se trabalhar por sua obsessão e controle das produções que estrelou. É exatamente esta dinâmica da vida real com a cinematográfica, a partir destes dois atores, que está no centro de Birdman.
Então, falar de Birdman é falar de atuações, e estas são excepcionais em um todo. Ao começar pelo próprio Michael Keaton que compõe Thomson como um homem cheio de ego, porém fragilizado, obstinado, porém frustrado. Riggan Thomsom é alguém (assim como a maioria de nós) que coloca o amor do próximo, assim como o próprio, diretamente relacionado ao prestigio criativo/artístico, e Keaton demonstra todas as facetas do personagem de maneira sensacional mesmo que todas se entrelacem o tempo todo. Ao fazer o discurso final sobre amor em sua peça, por exemplo, este se familiariza muito com a sua real necessidade de amor, assim como os sussurros de Birdman causam as “alucinações” do protagonista que não consegue diferenciar a realidade dos seus sonhos de grandeza, acreditando ainda poder mover objetos com a força do pensamento ou mesmo voar.
Assim, os personagens coadjuvantes se estabelecem como extensões ou complementos interessantes à Thomson. Se sua filha Sam representa as suas frustrações de vida como um homem comum, pai ou marido, pela forma com que ela reage a proximidade com o pai (e Emma Stone faz um ótimo trabalho ao retratar suas aflições enquanto Sam se aproxima lentamente de uma visão mais clara do pai), Mike Shiner poderia muito bem ser, se tratando de temas de HQs, o “antagonista” de Thomson, por representar ao mesmo tempo o inverso e o complemento do ex-Birdman. Norton faz um trabalho digno de sua indicação ao Oscar ao compor Shiner como arrogante e indiferente a aceitação pública, e assim que este surge em cena percebemos que ele era o talento que faltava na peça ao mesmo tempo em que vamos percebendo os problemas que aquela figura pode representar.
Por mais que o resto do elenco mereça aplausos por suas atuações (Brandom de Zach Galifianakis representa a urgência logística da situação enquanto a Lesley de Naomi Watts representa o sonho de uma carreira “pura” de atriz da Broadway a muito abandonada por Riggan), grande parte dos elogios devem ser dados a duas figuras: o diretor Alejandro Iñarritu e o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki. Iñarritu cria uma narrativa dinâmica e fluida, sem problemas de ritmo, mesmo trabalhando quase que o filme inteiro com planos sequencias (ou com a ilusão destes). Suas decisões estilísticas se mostram coerentes com a narrativa seja dando toques de fantasia extremamente interessantes, pela inserção da trilha sonora de forma diegética ou pelos próprios planos sequencias que dão a impressão de estarmos nos bastidores daquela peça ao mesmo tempo que sentimos a urgência e pressão dos acontecimentos.
Quanto a Lubezki, após ser o responsável por algumas das fotografias mais sensacionais na história do cinema (Gravidade, A árvore da vida e Filhos da Esperança), este faz um trabalho impecável sobre os planos sequencias da produção, e mesmo com tanto movimento seus jogos de luzes e decisões estéticas nunca se perdem. Se houvesse um prêmio pra melhor parceria de 2014 esse deveria ser dado a estes dois profissionais.
Não que este filme seja perfeito. Os críticos são retratados de forma caricata e a visão diminutiva e simplista dos filmes de super-heróis chega soar injusta, porém as questão dos críticos desempenha uma função dramática funcional e a crítica aos blockbusters não deve ser ignorada visto que estes filmes estão sendo usados realmente como caça níqueis. Esse talvez seja o ponto mais importante de Birdman, com roteiro, elenco e produção beirando a perfeição qualquer “erro” vira pecadilho nesta magnífica obra cinematográfica. Birdman merece a atenção que recebe... Acho Riggan Thomson ficaria feliz com tal resultado.

Obs. NÃO LEIA ESTE PARÁGRAFO SE AINDA NÃO VIU O FILME.
A cena final, maravilhosamente ambígua, é um desfecho dramaticamente perfeito. Após ganhar uma nova "identidade" ao atirar no próprio nariz, ficando parecido agora verdadeiramente com Birdman, Riggan Thomson se atira pela janela e o filme sugere, a partir da visão de Sam, de que Thomson alçou voo. Tal cena funciona como metáfora do relacionamento do personagem com a filha ou mesmo com a fama, e seu voo seria visto como a retomada de respeito da filha e do publico que agora o adora (o que para o personagem representaria também amor). Poderia ser uma cena literal de fantasia ou até mesmo algo nos moldes de Taxi Driver: Estaria Riggan Thomson vivo após o tiro? Ou aquela cena seria os últimos momentos do personagem idealizando um resultado final perfeito de adoração que este sempre sonhou sendo a sequencia final uma metáfora para a sua morte? Seja qual for a sua interpretação este brilhante filme abre espaço dramático e fantástico para as mais diversas.








Excelente

Por Han Solo

Nenhum comentário:

Postar um comentário