(Irrational Man)
Comédia/Drama
Data de Estréia no Brasil: 27/08/2015
Direção: Woody Allen
Distribuidora: IMAGEM FILMES
Nem
sempre um diretor consegue entender o material que lhe foi entregue pelo
roteiro, algo que pode gerar resultados desastrosos (sim, pense em A.I –
Inteligência Artificial) ou mesmo gerar uma obra irregular como este “Homem
Irracional”, um trabalho que evidencia tal disparidade entre roteiro e
direção... O que é mesmo irônico é o fato de ambos serem assinados por Woody
Allen.
Mas,
mesmo sendo irregular, esta é uma história típica do cineasta: Abe Lucas
(Joaquin Phoenix), um professor de filosofia, leva sua vida na base do cinismo,
depressão e muito uísque, envolvendo-se com sua jovem aluna Jill (Emma Stone) e
com uma colega de trabalho, eis que um dia Lucas ouve uma conversa em uma
cafeteria e ele vê um novo motivo para viver.
Para
qualquer cinéfilo que já se dedicou às principais obras do veterano diretor, é
fácil de notar ao longo da projeção características básicas presentes em outras
obras (Match Point, Crimes e Pecados e Manhattan estão presentes em cada
dinâmica entre personagens e seus diálogos) e assim, é prazeroso perceber como
que as idéias do roteirista ficam coesas em seus dois primeiros atos,
principalmente o primeiro que conta com a apresentação básica de seus
personagens e quando temos contato com as melhores falas do filme (minha
preferida, particularmente, é aquela que resume o cinismo de Abe Lucas: “Eu
esqueci o motivo pelo qual viver e quando lembrei não valia a pena...”)
O
segundo ato possui seus momentos também, principalmente quando desenvolvida a
dinâmica entre Abe e Jill para além da paixonite entre professor e aluna, e a
direção sempre econômica de Allen acabam por dar fluidez aos enormes debates
existencialistas presentes no filme. É mesmo uma pena que no resto de suas
competências como diretor, o nova-iorquino parece completamente perdido no tom
da narrativa que sempre parece mais leve do que o tema realmente é. Assim, se
no momentos de humor negro o filme pode até funcionar (e existe uma cena
envolvendo roleta russa que despertou risos nervosos na sessão que eu estava)
em outros de drama mais pesado temos a impressão de estar vendo apenas uma
comédia romântica esquizofrênica.
Mas
não posso culpar totalmente a direção por tal impressão. A fotografia do filme
é linda, limpa, de cores fortes e... bem, não faz o menor sentido para a
discussão de culpa, valor da vida e filosofia existencialista. Eis um claro
exemplo para aqueles que procuram compreender como funcionam premiações de
categorias técnicas: não é por ser apenas uma fotografia linda que esta seja
uma boa fotografia, devido a sua incoerência com o resto do filme.
Com
um terceiro ato completamente desconexo com os dois primeiros, a homogeneidade
da película fica mesmo por parte das atuações. Se Emma Stone demonstra mais uma
vez carisma e completa capacidade de saltar do drama para a comédia, utilizando
ainda de seus enormes olhos extremamente expressivos, Joaquin Phoenix comprova
mais uma vez ser um dos melhores atores da atualidade por sua versatilidade. A
partir da imagem decadente do personagem barrigudo e sempre bêbado, Phoenix
ainda consegue dizer suas falas com um cinismo extremamente convincente e por
vezes divertido.
"Homem
Irracional" acaba por ser o exemplar que melhor define a carreira de Woody
Allen: sempre interessante de acompanhar, porém irregular (principalmente nesses
últimos anos). Um bom filme de boas idéias, mas tanto o Allen roteirista quanto
o diretor já produziram obras melhores, com temas semelhantes melhor abordados,
nos quais ambos se entendiam.
Bom
Por: Han Solo
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