domingo, 20 de setembro de 2015

Crítica: "Que Horas Ela Volta?"

Que Horas Ela Volta?
Drama
Data de Estréia no Brasil: 27/08/2015
Direção: Anna Muylaert
Distribuição: Gullane Filmes/Africa Filmes/Globo Filmes (co-produção)


         A primeira impressão que a maioria das pessoas pode ter sobre “Que Horas Ela Volta?”, desconhecendo o enredo, é que seria mais uma comédia fraca semelhante a muitas outras produzidas pela Globo Filmes, afinal é protagonizado por Regina Casé, apresentadora do programa Esquenta. Se o seu impedimento para assistir esse filme se baseia nisso, tenho o prazer em dizer que você está errado, e eu também estava.
Dirigido e roteirizado por Anna Muylaert, “Que Horas Ela Volta?” narra a saga da pernambucana Val (Regina Casé) que semelhante a muitos nordestinos deixou sua cidade e família para tentar algo melhor em São Paulo. Lá ela passa a trabalhar de doméstica na casa de uma família da elite paulistana. Sua vida muda quando sua filha Jessica (Camila Mardila) entra em contato avisando que se mudaria para São Paula para prestar vestibular. Tendo uma visão completamente diferente da mãe, Jessica não vê com naturalidade a relação entre Val e seus patrões, tão pouco Barbara (Karine Teles) fica a vontade com as atitudes da menina. Desde sua chegada, Jessica não se mostra submissa aos donos da casa ou a sua mãe, para ela sua condição dentro da casa é de hóspede, portanto pode ir e vir quando quiser.

Aos olhos de Barbara, Val e até do espectador, o comportamento de Jessica não está de acordo com sua posição de filha de doméstica. Seu jeito arrogante e imponente acaba por tirar sua mãe e a dona da casa de suas zonas de conforto. Todo o antigo relacionamento visto até então vai se reconfigurando, expondo as diferenças e preconceitos da família. Se antes a animosidade imperava na casa, com o tempo um clima de tensão começa a surgir, em especial de Barbara descontente com as reações de seu filho e marido em relação à Jessica.
Paralelamente às questões sociais, que são mais evidentes no longa, Anna Muylaert aborda as dificuldades de mães que “abrem” mão da criação de seus filhos pelo trabalho, deixando com que outras pessoas o façam. Tanto Val quanto Barbara tem dificuldades em se relacionar com seus filhos e ambas sofrem com esse distanciamento. Nos dois casos a responsabilidade do pai é secundária, portanto suas ações errôneas são minimizadas. Ainda que o abismo social entre Val e Barbara seja imenso, o papel de mães as torna iguais.
Ainda que hajam elementos engraçados durante o filme que amenizam o tema tratado, “Que Horas Ela Volta?” consegue te deixar desconfortável do inicio ao fim, sobretudo porque Val e Barbara enxergam como normal essa divisão de “castas” em que vivem.  Isso me permitiu fazer um paralelo com o atual momento político, onde Barbara representa uma elite cada vez mais prepotente e Val representando uma sociedade cega perante a essa cultura preconceituosa que ainda preservamos. Com atuações autênticas e contundentes das atrizes principais e um enredo incrível este filme é um belo tapa na cara da sociedade brasileira.








Excelente


Por: uma jovem padawan

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