(Hail, Caesar!)
Comédia/Mistério
Data de Estreia no Brasil:14/04/2016
Direção: Joel Coen e Ethan Coen
Distribuição: Universal Pictures
“Ave,
César!” é uma obra estranha, com uma proposta irreverente e um senso de humor
peculiar diferente da maioria das obras estadunidenses. Em outras palavras, é
um bom filme dos irmãos Coen. Mais uma vez subvertendo gêneros cinematográficos
e trabalhando em uma linha tênue entre a sátira e a homenagem ao mundo da indústria
do cinema dos anos 50, o novo filme da famosa dupla de cineastas trás nas
entrelinhas qualidades técnicas e temáticas acima da média no cinema moderno,
mas uma estrutura que deixa a desejar em relação à obra completa dos irmãos.
No
decorrer da história, a “gramática” do filme aposta numa montagem (feita pelos
próprios Coen, como de costume) em tons episódicos e totalmente dispersos no
filme. A grande maioria dos personagens possui duas cenas para apresentar uma
problemática na primeira e “resolve-la” na segunda, assemelhando o filme quase
que a um “Road movie”, no qual os personagens surgem, interagem com o
protagonista e vão embora após servirem ao seu propósito. De fato este é um
elemento de subversão de gênero tão clássico na filmografia dos irmãos Coen e
que aqui, embora bem executado, soa sempre muito divagante.
Parecendo
se divertir imensamente ao retratar a linguagem dos filmes da velha Hollywood,
a criatividade dos Coen alça vôo na medida com que estes devem lidar com
construções de cenas de westerns, filmes “bíblicos” e musicais que perpassam
pelo filme sempre com um tom de ironia tão marcante dos irmãos. Assim, a
metalinguagem do filme ganha novas proporções a cada nova produção da Capitol
Pictures que somos apresentados, dando espaço para que ainda os diretores se
divirtam com o próprio filme ao colocar personagens agindo de forma cartunesca
(com suas reações e com a forma “peculiar” de Mannix correr), ou mesmo numa
cena na qual dois personagens cantam em meio a um jantar sem motivo aparente
algum (exatamente como aconteceria num musical).
Aliás,
para que tal linguagem complexa funcione dentro da projeção, a direção de arte
e a fotografia do mestre Roger Deakins tem importância máxima. Deakins utiliza
luz e sombras para dramatizar perfeitamente o momento (como de hábito),
manipulando ainda lentes grandes e abertas e usando brilhantemente uma paleta
de cores quentes que não só casa bem com o tom dramático forçado do filme, como
também ainda representa certa doçura e homenagem ao período. A direção de arte,
por outro lado, ajuda diretamente a proposta dos diretores nas mudanças de
gêneros cinematográficos - Por exemplo, quando vemos uma Roma distante avistada
por um exército, a imagem que temos parece amadora para os dias atuais, mas
perfeita para os padrões das produções do período.
É interessante
pensar como que os aspectos técnicos possuem todos sua funcionalidade, ainda
que rendendo certa irregularidade também ao filme. Isto se deve ao fato de
ficar claro ao longo da projeção que os Coen deliberadamente sacrificaram
qualquer foco narrativo e estrutural de roteiro para apresentar um verdadeiro
caos no dia do protagonista, em meio a tantos problemas, bem como para servir à
uma análise macro estrutural, já que embora sejam “dramas” de indivíduos que
vemos em diversos pontos da projeção, estes estão diretamente calcados na
industria do cinema estadunidense em suas características como um todo. Até
mesmo a certa “organização” por trás do sequestro de Baird Whitlock está ligada
a tal perspectiva – E não direi mais nada para não estragar a divertida
surpresa e desenvolvimento deste ponto da projeção. Assim, não posso dizer foi
um erro tal decisão “anti-estrutural” dos produtores, mas é inegável o fato de
que a falta de uma coesão narrativa mais palpável torna o filme mais maçante, com esta
decisão não funcionando tão bem como em “O Grande Lebowski”, por exemplo.
Além
disso, não há qualquer desenvolvimento de personagem em um arco estabelecido (algo
que claramente, volto a frisar, é proposital), não que isto afete o elenco estelar,
pois este não deixa a desejar demonstrando caracterizações divertidas. Na
verdade, este é outro aspecto que tem funcionalidade no filme, mas com certas
ressalvas: enquanto Ralph Fiennes, Scarlett Johansson, Shanning Tatum e Tilda
Swinton atuam de maneira extremamente divertida e até mesmo caricata (algo que
funciona bem dentro do tom da “narrativa”), seus personagens foram escritos em
referências a outros artistas reais dos anos 50 como Laurence Olivier e Gene
Kelly, tornando-se muito mais divertido para o espectador que consegue
identificar tais referências, restringindo um pouco a comédia do filme que já
não é muito abrangente.
No
fim das contas, cabe mesmo a Josh Brolin e George Clooney protagonizarem os
melhores momentos do longa. Enquanto o primeiro demonstra perfeita segurança
para guiar o filme como seu protagonista sempre atarefado, de fala rápida,
inteligente e metódico, Clooney demonstra uma falta de egocentrismo tremenda ao
servir ao filme quando este necessita de sua presença de cena forte, mas não
busca chamar a atenção a qualquer custo, numa composição corajosa de um
verdadeiro astro de Hollywood. Aliás, é este clima de colaboração mutua e
perfeita ciência do resultado almejado que torna “Ave, César!” um filme tão
divertido e interessante. Porém, por mais que a execução da proposta seja
perfeita, para atingi-la sacrificam-se aspectos narrativos básicos e
importantes.
Bom
Por Han Solo
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