Por: Clóvis Gruner
Nasci e cresci no interior, e nas
décadas de 1970 e 80 isso significava uma relação problemática com o cinema.
Minha cidade natal, Joinville,por exemplo, tinha dois cinemas somente, e isso
até 1983, quando um incêndio destruiu o Cine Colon, restando apenas a
gigantesca sala do Cine Palácio, vendido em 1995 para a Igreja Universal. No
primeiro, assistia uma exibição comemorativa de “Branca de Neve e os sete
anões”. No segundo, “ET, o extraterrestre” quando, por volta de 1983, o filme
passou por Joinville.
Isso era bastante comum também:
além de poucas salas, os cinemas do interior amargavam uma longa espera, não
raro um ano ou mais até, para que um filme estreasse por lá. Para um adolescente,
isso podia significar meses de uma angústia interminável, especialmente se o
filme ansiosamente aguardado havia arrebatado multidões em salas americanas e
europeias e repetia a trajetória de sucesso nos cinemas das grandes cidades
brasileiras.
Mas aconteceu: em algum momento de
1985 ou 1986 (não lembro ao certo), circulou a notícia que “Purple Rain”, o
filme estrelado por Prince, entraria em cartaz no Cine Palácio. Eu já sabia
algo sobre ele, porque provavelmente li a respeito nos jornais ou, mais
provavelmente, em alguma revista de cultura pop da época. Conhecia a carreira
de Prince de alguns clipes exibidos no “Fantástico” domingo à noite e das
“matinés” de domingo à tarde, onde dançávamos ao som de “Whendovescry” e
“Raspberryberet”.
Levei anos para
perceber a importância de Prince e de “Purple Rain” na minha adolescência. Com o
tempo, deixei de acompanhar a carreira do artista e apenas muito raramente revi
o filme. Mas nesta semana, com o seu desaparecimento, me dei conta de que, ao
menos para mim, assisti-lo naquele momento da minha vida foi extremamente
significativo. Prince e “Purple Rain” não resolveram nenhuma das minhas crises.
Mas me ajudaram a perceber que era possível ser diferente e sobreviver a isso.
E quando se é adolescente, isso já é muita coisa
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