quarta-feira, 6 de abril de 2016

Crítica: "The Walking Dead" (6ª Temporada)

The Walking Dead
Drama/Horror/Thriller
Data de Estreia: 11/10/2015 - 03/04/2016
Distribuição: American Movie Classics (AMC)
Produção: Scott M. Gimple


       Desde sua estreia em 2010, "The Walking Dead" foi uma série incrivelmente inconstante. Com um excelente primeiro episódio, que é sem dúvida um dos melhores pilotos da história da televisão, a série apresentava ao público um impressionante tom de horror e impotência de um ser humano frente a um universo de morte e desolação, brilhantemente resumido pelo aviso escrito na porta do hospital em que Rick se encontrava: Don't Open. Dead Inside. Tenho certeza que muitos, assim como eu, foram instantaneamente cativados pelas incríveis possibilidades oferecidas pela nova série da AMC, canal responsável também por duas das melhores séries dos últimos tempos: "Mad Men" e "Breaking Bad", e que partia para a ambiciosa adaptação de uma das mais famosas e bem sucedidas HQs fora do eixo Marvel/DC.
      Porém, a qualidade mediana dos episódios seguintes estabeleceu o padrão que acompanharia a série ao longo de todas as suas temporadas: um excelente começo, episódios de meio medianos ou ruins e um excelente final. Credito à segunda temporada o começo deste péssimo hábito da série, sempre esticando demais arcos desnecessários e desinteressantes enquanto "cozinha" a temática principal da temporada. Não me entenda mal, gosto muito dos episódios que desenvolvem bem algum certo personagem, como o episódio mostrando o passado de Morgan nesta sexta temporada, mas a maioria dos arcos mostrados no miolo da temporada são verdadeiros fillers, que só existem por conta da estrutura com episódios demais e só servem para guardar o final bombástico para os últimos dois episódios.
         A questão é que mesmo com esse padrão em muitos momentos decepcionante, "The Walking Dead" sempre conseguiu cativar seus fãs com uma premissa extremamente inteligente. O foco da série nunca foi estritamente os zumbis, ou a luta da humanidade para sobreviver à eles, mas a nova sociedade que se forma a partir do apocalipse e como seus membros interagem em si. Isso ficou claríssimo na terceira temporada, quando a série começou sua estrutura de ter um grupo para rivalizar com o de Rick. Porém, a quarta temporada foi irregular até para os padrões da série e teve algo desastroso e sem precedentes até então: um final ruim. O arco do Governador, um dos personagens mais interessantes que já vi em uma HQ, foi extremamente mal concluído na série, o que levou a brigas internas e a saída do produtor Frank Daranbont.
         Conheço muitas pessoas que abandonaram a série neste ponto e certamente não as culpo, porém posso garantir: a entrada de Scott Gimple como produtor na quinta temporada rendeu a "The Walking Dead" sua melhor temporada até agora. A série passou a resolver seus conflitos de maneira mais rápida e partir para outros, diminuindo em muito os famosos episódios fillers e desenvolvendo melhor os arcos dos personagens principais e os apresentando a novas possibilidades com as muralhas fortificadas de Alexandria. Seguindo a história dos quadrinhos, criou-se uma enorme expectativa para a sexta temporada da série, pois deveria ser o momento em que a história ficaria ainda maior, com o surgimento de uma "rede integrada" de comunidades quando o grupo descobre a Colônia de Hilltop.
        O começo da temporada conseguiu manter o alto nível deixado pelo final da anterior, se não o superou. Achei particularmente interessante o elemento de uma horda enorme de zumbis próximo à comunidade de Alexandria, que fez com que os zumbis voltassem a constituir um elemento de alto perigo para os personagens, que ao mesmo tempo tiveram de lidar com a invasão dos Lobos. Esta mistura dos elementos foi muito bem conduzida, conseguindo manter um alto nível de acontecimentos importantes na primeira metade da temporada. O desenvolvimento paralelo de Morgan e Carol, dois dos personagens mais interessantes atualmente, também foi muito interessante, colocando a frente duas maneiras absolutamente opostas de se lidar com as situações extremas apresentadas pelo mundo da série. A situação de sítio imposta por outro grupo serviu também para demonstrar novamente que não há nenhuma situação de real segurança em "The Walking Dead".
          O problema é que velhos hábitos dificilmente morrem. A sexta temporada vinha em altíssimo nível, até que incorreu em algo extremamente comum em séries de TV, mas muitas vezes prejudicial à história: o famoso cliffhanger. A questão da morte de Glenn foi algo insistentemente irritante que pairou por todo o hiato entre a primeira e a segunda metade da série e mostrou o quanto ele é prejudicial, quebrando o ritmo da temporada e obrigando os produtores a jogar algum grande acontecimento para a metade da temporada para segurar o expectador para o ano seguinte. A questão da morte ou sobrevivência de Glenn tornou os primeiros dois episódios de 2016 extremamente arrastados. Porém, a meu ver, a série conseguiu retomar sua força no décimo episódio, que introduziu um ótimo personagem da HQ, Jesus, e a complexa e interessantíssima questão da colônia Hilltop e a opressão dos Saviors
        Os episódios seguintes contiveram alguns dos piores momentos da temporada, como o arco de Carol, que passou subitamente demais de uma matadora a sangue frio a alguém que tem aversão total ao ato. O arco em si faz todo o sentido, mas foi feito de maneira apressada demais e sem acontecimentos significativos o suficiente para justificar a radical mudança. Entretanto, os sucessivos confrontos com os Saviors bastaram para manter os episódios intrigantes, nos levando diretamente ao extremamente polêmico season finale de mais de uma hora de duração.
          Desde o começo do ano, com o anúncio da escalação do ótimo Jeffrey Dean Morgan para o papel de Negan, muito se discutiu qual caminho a série tomaria com o personagem dos quadrinhos. A grande característica de Negan para mim sempre foi o seu incessante sadismo violento. Enquanto o governador praticava atos de violência por conta de seu desequilíbrio psicológico, cada ação vilanesca de Negan é friamente calculada. Negan é acima de tudo um sobrevivente, alguém que tenta sempre se posicionar no topo da cadeia alimentar originada pelo apocalipse, provavelmente algo semelhante ao que o Shane da série se tornaria se tivesse sobrevido mais tempo. A força de Negan está nos números de seu grupo e na lealdade cega que todos dedicam a sua figura, transformando-o ao mesmo tempo em um temível líder personalista, mas que se apóia na força de seu grupo.

-----------------------------PS: Se você ainda não assistiu o último episódio, spoilers à frente-----------------------------

Primeiro preciso comentar que o figurino e a interpretação de Jeffrey Dean Morgan casaram perfeitamente com o conceito do personagem. Acredito também que tenha sido muito acertada a decisão de segurar o personagem até o último momento possível, criando uma aura de misticismo em torno de Negan que casa com o que ele representa para os Saviors
        Agora chegamos ao cerne da questão, a polêmica sequência final: honestamente a achei genial. Tanto pelo poder imagético de pôr de joelhos todos os protagonistas da série, que pareciam imortais a este ponto, quanto pelo bem escrito monólogo de Negan  e a direção bem conduzida, principalmente na última cena, visualmente muito bem arquitetada. Considero que a situação seja muito diferente do que foi feito com Glenn no meio da temporada. Sim, ambos são cliffhangers na mais pura definição da palavra, mas enquanto um tratava-se de um único personagem e da binária questão de sua sobrevivência ou não, este último traz a óbvia vantagem de manter a discussão sobre a série viva por mais tempo, mas também acredito que acrescente um maior peso à morte de um personagem central, algo que ficou mal feito na HQ e acabou parecendo totalmente arbitrário e sem graça. Entendo a reclamação entusiástica dos fãs, mas tenho certeza que a maioria deles assistirá a sétima temporada, pois afinal se trata de "The Walking Dead" e de seu peculiar poder magnético de fascinar e prender os espectadores a cada nova temporada.







Ótimo


Por Obi-Wan

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