terça-feira, 22 de novembro de 2016

Crítica: "A Chegada"

A Chegada
(Arrival)
Drama/SciFi
Data de Estreia no Brasil: 24/11/2016
Direção: Denis Villeneuve
Distribuição: Sony Pictures

Em um ano como 2016, de acontecimentos terríveis tanto no cinema, política, catástrofes naturais e etc, seria fácil para que um filme como “A Chegada” caísse num cinismo ácido, ou mesmo que demonstrasse propensões sentimentalistas extremamente artificiais (estou olhando para você, Interestelar!). Felizmente, estamos falando do mais novo longa de Denis Villeneuve, que é um diretor talentoso que consegue abordar temas extremamente humanos e complexos enquanto cultiva uma narrativa coesa e de atmosfera melancólica e inquietante. Com uma disposição para explorar tanto o intelecto quanto o emocional de sua protagonista, o filme é desde já um dos melhores do ano e com toda certeza um dos favoritos para abocanhar alguns prêmios na próxima temporada.
Se desenvolvendo a partir do roteiro de Eric Heisserer, adaptado de um conto de Ted Chiang, “A Chegada” se assemelha muito ao jovem clássico “Contato”, de 1997, tanto na forma com que enxerga na humanidade uma natureza explosiva quanto ao desconhecido, mas ainda mais no que diz respeito a suas protagonistas. Enquanto no filme de Robert Zemeckis a personagem principal demonstrava uma determinação intelectual tremenda ao fazer um primeiro contato com uma raça alienígena, ao mesmo tempo que a morte de seu pai e a importância deste em sua vida era retomado pelo filme ao passo que a narrativa avançava, neste longa de 2016 seguimos Dr. Louise Banks (Amy Adams), uma renomada linguista que é chamada para tentar fazer contato com seres extraterrestres após estes terem posicionado 12 naves ao redor do globo. Nossa protagonista ainda é bombardeada por lembranças envolvendo sua filha, desde o nascimento até a morte desta.
Ao partir do ponto de vista de uma linguista, a película consegue estabelecer questionamentos importantes quanto a própria forma com que encaramos o nosso mundo e utilizamos da nossa própria vivência para medir o desconhecido. Assim, constantemente a Dr. Banks se vê tendo de explicar seus métodos de abordagem com os aliens para o coronel Weber (Forest Whitaker, imponente), já que estes se assemelham aos usados para alfabetizar crianças – E não poderia ser diferente, já que logo a Dra. descobre uma não linearidade na forma de escrita dos alienígenas, o que reflete na própria dificuldade dos cientistas de compreender a forma com que as habilidades cognitivas dos seres visitantes se constroem.
Compreendendo como balancear o aspecto intimista com uma trama de “invasão” globalizada, Villeneuve estabelece uma narrativa cíclica de maneira dinâmica e completamente funcional graças ao fato de que o espectador parte do ponto de vista da personagem de Adams. Assim, ouvimos apenas o que ela poderia ouvir, temos um verdadeiro vislumbre das naves somente quanto ela entra em real contato com uma delas, e muitas vezes partimos para uma câmera subjetiva que nos coloca literalmente no lugar da linguista, fazendo com que possamos nos relacionar com esta, ao mesmo tempo em que quando Louise chega a alguma conclusão, ou compreende alguma revelação importante na estória, nós participamos e recorremos com a memória da moça para compreender que atitudes tomar.
Contudo, nada destes elementos funcionaria se não fosse pela performance espetacular e muito bem dosada de Amy Adams, que aqui se entrega ao papel sem grandes monólogos, mas com uma composição complexa e melancólica que nunca destoa da personagem. Nesse sentido, o personagem de Jeremy Renner, Ian Donnelly, funciona bem para equilibrar o tom tenso da narrativa estabelecendo um alívio cômico que soa sempre como um ser humano fazendo comentários divertidos em momentos de tensão, não para soar um mero engraçadinho, mas por isso fazer parte da personalidade dele.
Montado de forma inteligente a partir de movimentos de câmera deliberadamente lentos de seu diretor, mas trazendo uma concisão narrativa de extrema importância, o trabalho de cinematografia de Bradford Young (“Selma” e “O Ano Mais Violento”) é também perfeito em suas composições belíssimas na contraluz em momentos chaves da narrativa - E o fato de Villeneuve enquadrar a personagem como presa num retângulo, formado pelos batentes da porta e da janela, em determinadas cenas é uma pista visual perfeita do contraste entre o mundo linear "fechado" (representado pela caixa) para a nova forma com que a Dra. encarará o mundo após o contato com a não linearidade da escrita alienígena (sendo a comunicação destes se dando em formas de círculos).Young ainda trabalha bem com Villeneuve na longa tomada de helicóptero que nos apresenta o local onde se encontra a nave, soando poética e impactante.
Some a tudo isso uma direção de arte e efeitos especiais que são utilizados para contar a estória sem parecer mero espetáculo visual e você perceberá que “A Chegada” é o que Interestelar tentou ser, mas fracassou (até mesmo o designe e a mixagem de som podem ser um exemplo magnifico disso). Não que este seja um filme perfeito, pois não é: a tensão interacional entre países é utilizada da maneira arbitrária pelo filme, e enquanto os maiores países "inimigos" dos EUA tomam decisões equivocadas, o Tio Sam parece se utilizar destas somente quando em estado de emergência - Algo que o filme consegue contornar ao mostrar o estado de histeria atingindo até mesmo soldados norte americanos.
Mas ainda assim, é impossível sair da sala de cinema indiferente a este “A Chegada”, que, me perdoem o trocadilho, mas chegou em excelente hora nesse ano fraco. Levantando temas como amor, tempo, memória, finitude humana e nossa própria incapacidade de nos comunicarmos, nos compreendermos e nos ajudarmos, o filme ainda termina numa nota agridoce que ressalta uma perspectiva bastante otimista quanto a humanidade, mas ainda assim dolorosa no que diz respeito a subjetividade humana. E qualquer filme de drama/SciFi que consegue tão bem explorar a temática deste segundo para revelar tanto do primeiro, já merece aplausos, nossa atenção e os prêmios que conquistar.









 Excelente

Por Han Solo

Um comentário:

  1. É interessante, não? Também achei uma excelente produção! Conheço o trabalho de Jeremy Renner já faz um tempo, na verdade é um dos meus diretores preferidos, e faz pouco tempo que vi o Filme A Chegada e fiquei encantada, esta muito bem feita e muitas das cenas que fazem são ótima e belas Tenho certeza que você vai gostar, é um bom filme.

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