Crítica: "LEGO Batman: O Filme"

LEGO Batman: O Filme
(The LEGO Batman Movie)
Data de Estreia no Brasil: 09/02/2017
Direção: Chris McKay
Distribuição: Warner Bros.

          Dona de uma famosa linha de brinquedos de plástico produzidos durante boa parte do século XX (quem aqui nunca chorou por pisar descalço numa pecinha dessas?), a empresa dinamarquesa LEGO traçou a estratégia perfeita para se modernizar a partir da virada do século. Quem quer que esteve na direção da empresa soube perceber a mudança dos tempos e associou sua marca à outras marcas adoradas por crianças atualmente. Foi assim que surgiram os adoráveis jogos da série lego (começando por Star Wars) e finalmente o estrondoso sucesso de bilheteria "Uma Aventura Lego" (2014). Naturalmente, menos de 3 anos depois chega às telas o primeiro spin-off da franquia, utilizando um dos personagens mais famosos de todos os tempos e dando início ao que promete ser uma longa e bem-sucedida franquia de filmes.

           Iniciei minha crítica falando sobre a modernização da marca lego justamente por ser este um dos mais presentes e bem-sucedidos temas de "LEGO Batman". Tendo como protagonista um personagem que já existe há mais de 70 anos, o filme dirigido por Chris McKay tinha a difícil missão de adaptar o (atualmente) sombrio personagem da DC Comics para seu público alvo, que são, afinal, crianças. E devo dizer, como fã do personagem desde criança, que os produtores do filme acertaram em cheio. O roteiro elabora um Batman/Bruce Wayne satisfatoriamente condizente com o que foi definido nas HQs mais importantes do personagem sem perder o bom-humor, sabendo adaptar as principais angústias e temáticas do personagem para um público mais jovem sem dissipar sua essência.

           Além de fazer engraçadíssimas referências a todas as "fases" do Batman nos demais filmes do personagem, "LEGO Batman" emprega em vários momentos uma alta dose de sarcasmo completamente cabível à figura do justiceiro e playboy bilionário. O mais impressionante, no entanto, é que a narrativa elaborada por 6 roteiristas consegue ir além do básico, discutindo temáticas extremamente densas e pertinentes sobre o personagem. O filme não se esquiva dos problemas de se ter um justiceiro bilionário saindo a noite para bater em supostos criminosos. Ainda que seja apenas por um breve momento e de forma simples (porém efetiva), o roteiro questiona a efetividade dos métodos do Batman, enquanto uma recém comissionada Bárbara Gordon propõe que este abandone sua "ética duvidosa" para aplicar "verdadeiras leis" trabalhando junto com a polícia de Gotham.

           Aliás, é este questionamento o que de fato move a trama do filme, uma vez que a motivação do principal antagonista, o Coringa (tinha que ser ele), é fazer com que o morcego reconheça nele seu arqui-inimigo. Evocando dois dos principais pilares que fundamentam o personagem, Alan Moore, Frank Miller e Neil Gaiman, "LEGO Batman" discute o que há de mais essencial sobre o personagem: existiriam supervilões se não houvesse um Batman?

       Há de se elogiar também a estética construída para o filme, com excelentes reimaginações de personagens e cenários clássicos do personagem. Gosto principalmente da forma como a batcaverna é construída com peças de lego e da incrível quantidade de detalhes e texturas presente na máscara do Batman. A animação criada para o filme se encaixa perfeitamente com a vivacidade dos personagens e com a multicoloridade e por vezes "cafonice" dos principais personagens deste universo.

        Entretanto, "LEGO Batman" não é impecável em tudo o que se propõe a fazer. O terceiro ato do filme é claramente seu momento menos criativo, provendo uma resolução satisfatória mas muito pouco inspirada para os conflitos interessantes originados na primeira metade de filme. A ação acaba sendo muito entrecortada por incessantes momentos em que os personagens param tudo o que estão fazendo para ter longas discussões sobre suas relações pessoais. Há também uma série de trocadilhos ruins e as letras das músicas simplesmente não funcionam, mas isso provavelmente deve ser atribuído à tradução. A dublagem para o português é competente, mas algumas piadas ficam simplesmente impossíveis de se fazer sem suas palavras e significados gerais.

         No fim das contas, "LEGO Batman" é uma agradável surpresa para um mês que só nos costuma trazer filmes atrasados da temporada de premiações norte-americana ou longas de qualidade duvidosa. Fazendo jus ao brinquedo no qual é baseado, este spin-off da franquia LEGO é realmente capaz de agradar a todos os públicos, contendo piadas tanto para os adultos quanto para as crianças e discussões capazes de agradar os mais antigos fãs do personagem, façanha admirável que é mais do que o suficiente para balancear as falhas estruturais presentes no enredo.

Ótimo

Por Obi-Wan