quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Crítica: "Armas na Mesa"

Armas na Mesa
(Miss Sloane)
Data de Estreia no Brasil: 02/02/2017
Direção: John Madden
Distribuição: Paris Filmes


         Dirigido pelo experiente John Madden e protagonizado pela duas vezes indicada ao Oscar Jessica Chastain, "Miss Sloane" se encaixa na categoria de filmes conhecidos como oscar baits, ou seja, películas que tem seu lançamento programado pelo estúdio para estrearem no fim do ano, temporada das premiações mais importantes no circuito norte-americano. A ironia fica por conta do fato de se atribuir esta alcunha aos filmes que falham nesta pretensão. Estreando no Brasil 3 meses após seu lançamento nos Estados Unidos, onde chamou pouca atenção por parte do público e da crítica, "Miss Sloane" acompanha Elizabeth, uma lobista trabalhando para uma empresa em Washington que opera dentro do sistema congressista norte-americano com o objetivo de "convencer" os senadores a vetar ou aprovar leis de acordo com o interesse de seus clientes.

            Uma espécie de híbrido entre "House of Cards" (2013) e "Tudo Pelo Poder" (2011), o filme utiliza a figura de Elizabeth Sloane como representante de todos os problemas éticos existentes na prática comum do lobby em regimes democráticos representativos, explorando os mecanismos e práticas do poder envolvidos nas decisões parlamentares que supostamente deveriam seguir o melhor interesse da nação e se basear na opinião dos eleitores, mas não o fazem. O roteiro escolhe como fio condutor a tentativa recorrente nos EUA de limitar o acesso da população a armas de fogo, algo que sempre gera controvérsia e enfrenta a feroz oposição de uma série de milionárias empresas e organizações de venda e compra de armamentos. Quando a empresa de Sloane tenta a colocar a serviço deste grupo como lobista, ela deixa seu emprego e trabalha no esforço de fazer passar uma lei de regulamentação da compra de armas.
         A escolha do ponto central da narrativa mostra-se muito acertada por parte do roteirista Jonathan Perera, que parte de situações reais para criar personagens e situações ficcionais que reúnem em si informações e críticas sobre o sistema que busca representar, algo já feito no excelente "A Grande Aposta" (2015). No entanto, é fruto justamente desta comparação entre os dois filmes a percepção do principal problema de "Miss Solane": apesar de um começo muito promissor e uma grande atuação por parte de Jessica Chastain, o filme não tem nada de muito novo a oferecer. Suas críticas são interessantes em sua representação do sistema corrompido do congresso, mas a já citada premiada série da netflix, "House of Cards", já vem fazendo isso ao longo de três temporadas inteiras.
        "Miss Sloane" não consegue se decidir quanto a humanizar sua protagonista ou mantê-la como alguém implacável, sofrendo muito com essa hesitação e acabando por prejudicar seu resultado final. A impressão que fica é que faltou qualidade narrativa para carregar a história uma vez que a instigante premissa e protagonista foram estabelecidas. Assistindo ao filme senti durante o segundo ato a incômoda impressão de que o filme não ficaria melhor do que aquilo, de que faltava um caminho claro a seguir. O terceiro ato de "Miss Sloane" peca por sua inconsistência quanto às demais partes da história, apresentando uma série de "revelações" que não condizem com a inteligência do restante do roteiro e arrastam o filme por no mínimo 15 minutos além do que era necessário.
            Indubitavelmente o filme poderia ser melhor se tivesse definido um caminho mais claro desde o começo, mas o resultado final passa longe de ser ruim. Pelo contrário, muitos dos diálogos presentes em "Miss Sloane" são excelentes, algo essencial a um filme que se constrói a partir deles. A direção de Madden foge do óbvio e faz opções interessantes no que diz respeito a seus enquadramentos de câmera, principalmente quanto as variações entre planos abertos e fechados e zooms in  e out. A edição é também precisa em construir cenas rápidas e montagens que dão muitas informações utilizando-se de pouco tempo. Aliás, estar preparado para uma torrente de informações e diálogos rápidos é a primeira coisa que você precisa ter em mente se pretende assistir este filme. Coisa que eu de fato recomendo. Apesar da ausência do brilho de um "Grande Aposta" ou da sociopatia carismática de Frank Underwood, "Miss Sloane" é um filme que consegue ao mesmo tempo entreter e transmitir informações políticas relevantes, equilíbrio muito difícil de se conseguir em um filme e algo que deve ser valorizado.








Bom

Por Obi-Wan
            

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