(The Big Short)
Data de Estreia no Brasil: 14/01/2015
Direção: Adam McKay
Distribuidora: Paramount Pictures
Tanto quanto o próprio ramo
imobiliário, a crise econômica de 2008 sempre me pareceu um assunto
de difícil compreensão o qual envolvia termos complexos e jogos
políticos obscuros calcados em uma base econômica de mesma natureza. Eis então
que o brilhante didatismo desta obra magnífica, "A Grande Aposta",
possibilita não só um maior entendimento por parte do expectador a cerca dos
assuntos citados acima, como também, sendo um filho perfeito de "Margin
Call- O Dia Antes do Fim" e "O Lobo de Wall Street", consegue
criar um clima de envolvimento e revolta por parte do público com esta obra que
é, sem dúvida alguma, um dos filmes mais importantes e conscientes da macro
estrutura econômica e sua corrupção sistêmica.
Para tanto, a narrativa não se movimenta a partir de
"heróis" que salvam o dia. Não! O expectador entra em contato com
aqueles que conseguiram perceber e mapear a crise que se aproximava antes dos
demais, para então assistir como (de uma forma ou de outra) estes indivíduos
conseguiram tirar proveito da bolha econômica. Assim, o brilhante roteiro
escrito por Charles Randolph e Adam McKay (que tem assina a direção virtuosa) e
baseado na obra de Michael Lewis utiliza de recursos eficientes para a melhor
compreensão do expectador. Aqui obtemos um dos melhores exemplos da quebra da
quarta parede (quando o personagem fala direto com a plateia) que, remetendo ao
já citado "O Lobo de Wall Street", demonstra como certos termos são
utilizados pelos "especialistas" para simplesmente soarem mais
complicados e importantes do que realmente são. Assim, a participação
especial de celebridades que intervém e explicam certos conceitos é genial por
não só expor bem o assunto que trata, como também por fazê-lo em contribuição ao
tom de "comédia" que permeia a projeção.
Aliás, esses recursos contribuem também para a empatia do público
quanto as motivações dos personagens, sendo o ápice de tal sentimento as
atuações de Ryan Gosling (como Jared Vennett) e Steve Carell (interpretando
Mark Baum). Enquanto o primeiro, em sua arrogância e inteligência expostas como
narrador da história, soam divertidos e magnéticas ao expectador,
Carell prova que Foxcatcher não foi um mero acaso (embora sempre tenha
provado ao longo da sua carreira o seu talento como ator) e funciona como
medida de indignação do público, já que o dilema de ambição e consciência do
personagem é exposto tanto por filme, roteiro e atuação de forma brilhante.
Não menos complexa é a atuação do sempre dedicado Christian Bale
que interpreta o solitário Michael Burry pontuando perfeitamente a dificuldade
de interação social do personagem ao mesmo tempo que convence em sua arrogância
que basicamente segue uma lógica de números na tela do computador. Até mesmo as
dúvidas do personagem em suas explosões de raiva (que soam menos perturbadoras
do que seus sorrisos forçados durante uma conversa, vale ressaltar) são salientadas
pela performance perfeita de Bale e muito bem exemplificadas pela direção de
Mckay que nunca enquadra o personagem ao lado de outra pessoa, já que sua
interação se dá sempre no "plano e contra-plano".
A energética direção deste cineasta, que a muito tempo já estava
marcado como um diretor de comédias com o Will Ferrell, é um ponto que vale
muito ser lembrado. Criando uma lógica visual de câmera na mão que usa e abusa
de zoom in e out assim como planos fechados, a linguagem adotada por McKay se
mostra interessante por conseguir passar por um assunto que normalmente
causaria sono na maioria das pessoas com uma fluidez invejável, já que esta se
conecta perfeitamente na edição e montagem lancinantes. Mas ainda assim, devo
ressaltar que embora a linguagem adotada tenha seu mérito e motivo, esta também
acaba poluindo o filme tornando-se um pouco cansativa para o final do segundo
ato.
Mesmo assim, o filme merece muitos
aplausos por conseguir estabelecer uma avaliação das repercussões socioeconômicas
de milhares de famílias que perderam suas casas além de ironizar a possibilidade
de as pessoas culpadas pela tragédia financeira de milhares de indivíduos serem
presas, num momento que ainda contem um comentário sobre aqueles que recebem a
culpa nessas horas: estrangeiros, pobres e professores. Aliás, tal tom de
ironia proposto pelo filme ainda chama atenção em outros pontos do roteiro
que, assim com a quebra da quarta parede já comentada, parece lembrar-nos como
o filme é uma obra de ficção literalmente “baseada em fatos reais”, como no
momento no qual determinado personagem argumenta como que determinados eventos
realmente aconteceram na vida real.
Intrigante, inteligente e ainda uma
obra de entretenimento realmente eficiente, “A Grande Aposta” é um filme
importante para a compreensão das motivações financeiras e da podridão da ganância
humana sem que com isso se torne uma obra “moralista”. Um estudo didático
magnífico de conceitos sempre “nublados” na mente do público em geral, que
utiliza da estilização do cinema para expor uma dura realidade.
Excelente
POR HAN SOLO
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