quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Crítica: "A Grande Aposta"

 A Grande Aposta
(The Big Short)
Data de Estreia no Brasil: 14/01/2015
Direção: Adam McKay
Distribuidora: Paramount Pictures

Tanto quanto o próprio ramo imobiliário, a crise econômica de 2008 sempre me pareceu um assunto de difícil compreensão o qual envolvia termos complexos e jogos políticos obscuros calcados em uma base econômica de mesma natureza. Eis então que o brilhante didatismo desta obra magnífica, "A Grande Aposta", possibilita não só um maior entendimento por parte do expectador a cerca dos assuntos citados acima, como também, sendo um filho perfeito de "Margin Call- O Dia Antes do Fim" e "O Lobo de Wall Street", consegue criar um clima de envolvimento e revolta por parte do público com esta obra que é, sem dúvida alguma, um dos filmes mais importantes e conscientes da macro estrutura econômica e sua corrupção sistêmica. 

Para tanto, a narrativa não se movimenta a partir de "heróis" que salvam o dia. Não! O expectador entra em contato com aqueles que conseguiram perceber e mapear a crise que se aproximava antes dos demais, para então assistir como (de uma forma ou de outra) estes indivíduos conseguiram tirar proveito da bolha econômica. Assim, o brilhante roteiro escrito por Charles Randolph e Adam McKay (que tem assina a direção virtuosa) e baseado na obra de Michael Lewis utiliza de recursos eficientes para a melhor compreensão do expectador. Aqui obtemos um dos melhores exemplos da quebra da quarta parede (quando o personagem fala direto com a plateia) que, remetendo ao já citado "O Lobo de Wall Street", demonstra como certos termos são utilizados pelos "especialistas" para simplesmente soarem mais complicados e importantes do que realmente são. Assim, a participação especial de celebridades que intervém e explicam certos conceitos é genial por não só expor bem o assunto que trata, como também por fazê-lo em contribuição ao tom de "comédia" que permeia a projeção.
Aliás, esses recursos contribuem também para a empatia do público quanto as motivações dos personagens, sendo o ápice de tal sentimento as atuações de Ryan Gosling (como Jared Vennett) e Steve Carell (interpretando Mark Baum). Enquanto o primeiro, em sua arrogância e inteligência expostas como narrador da história,  soam divertidos e magnéticas ao expectador, Carell prova que Foxcatcher não foi um mero acaso (embora sempre tenha provado ao longo da sua carreira o seu talento como ator) e funciona como medida de indignação do público, já que o dilema de ambição e consciência do personagem é exposto tanto por filme, roteiro e atuação de forma brilhante.
Não menos complexa é a atuação do sempre dedicado Christian Bale que interpreta o solitário Michael Burry pontuando perfeitamente a dificuldade de interação social do personagem ao mesmo tempo que convence em sua arrogância que basicamente segue uma lógica de números na tela do computador. Até mesmo as dúvidas do personagem em suas explosões de raiva (que soam menos perturbadoras do que seus sorrisos forçados durante uma conversa, vale ressaltar) são salientadas pela performance perfeita de Bale e muito bem exemplificadas pela direção de Mckay que nunca enquadra o personagem ao lado de outra pessoa, já que sua interação se dá sempre no "plano e contra-plano". 
A energética direção deste cineasta, que a muito tempo já estava marcado como um diretor de comédias com o Will Ferrell, é um ponto que vale muito ser lembrado. Criando uma lógica visual de câmera na mão que usa e abusa de zoom in e out assim como planos fechados, a linguagem adotada por McKay se mostra interessante por conseguir passar por um assunto que normalmente causaria sono na maioria das pessoas com uma fluidez invejável, já que esta se conecta perfeitamente na edição e montagem lancinantes. Mas ainda assim, devo ressaltar que embora a linguagem adotada tenha seu mérito e motivo, esta também acaba poluindo o filme tornando-se um pouco cansativa para o final do segundo ato. 
Mesmo assim, o filme merece muitos aplausos por conseguir estabelecer uma avaliação das repercussões socioeconômicas de milhares de famílias que perderam suas casas além de ironizar a possibilidade de as pessoas culpadas pela tragédia financeira de milhares de indivíduos serem presas, num momento que ainda contem um comentário sobre aqueles que recebem a culpa nessas horas: estrangeiros, pobres e professores. Aliás, tal tom de ironia proposto pelo filme ainda chama atenção em outros pontos do roteiro que, assim com a quebra da quarta parede já comentada, parece lembrar-nos como o filme é uma obra de ficção literalmente “baseada em fatos reais”, como no momento no qual determinado personagem argumenta como que determinados eventos realmente aconteceram na vida real.
Intrigante, inteligente e ainda uma obra de entretenimento realmente eficiente, “A Grande Aposta” é um filme importante para a compreensão das motivações financeiras e da podridão da ganância humana sem que com isso se torne uma obra “moralista”. Um estudo didático magnífico de conceitos sempre “nublados” na mente do público em geral, que utiliza da estilização do cinema para expor uma dura realidade. 






Excelente
POR HAN SOLO

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