sábado, 30 de janeiro de 2016

Crítica: "99 Homes"

99 Homes
Data de Estreia no Brasil: sem previsão
Direção: Ramin Bahrani
Distribuição: Broad Green Pictures


"99 Homes" se encaixa em um subgênero muito bem definido de filmes hollywoodianos: aqueles que tratam de temas muito comuns na vida econômica norte-americana, mega transações envolvendo imóveis, bancos e o Governo. A trama em torno destes filmes costuma focar no que é micro dentro dessas grandes movimentações de dinheiro, ou seja, a história pessoal das pessoas e famílias por trás das hipotecas e desapropriações. O que mais chama atenção sobre a narrativa de "99 Homes" é provavelmente seu pano de fundo, a grave crise econômica que abalou os Estados Unidos em 2008 (assunto que também aborda A Grande Aposta, sob outro aspecto). O filme se passa em 2010 e explora as consequências diretas da crise no mercado de imóveis, onde muitos perderam tudo e outros viram nisso uma grande oportunidade para lucrar.

A primeira metade de "99 Homes" conta uma história extremamente envolvente e interessante, que promete se desenvolver em um grande desfecho. O roteiro é muito bem escrito, conseguindo introduzir ao público ao intrincado mercado dos imóveis, explorando em tela parte do esquema utilizado por pessoas como Richard Carver, que viram na crise econômica uma grande oportunidade para alavancar seus negócios. O problema do filme está justamente no outro lado da moeda, aquele que visa explorar a consequência direta disso na vida dos envolvidos. Isso não significa que o filme aborde esse lado psicológico de maneira superficial, havendo sim alguns momentos de grande profundidade emocional, porém acredito que pouco tempo de tela tenha sido dedicado ao problema, ante à magnitude do que se tentava encapsular.
Dito isso, nos momentos em que envereda por este caminho, "99 Homes" geralmente acerta em cheio. Nisso, grande parte do crédito deve ser dado às atuações. Laura Dern e Andrew Garfield se dão muito bem com a tarefa de interpretar personagens que subitamente veem seu mundo ruir e tem que segurar nas costas as consequências de perder seu lar e seus empregos. As performances parecem tão verdadeiras que os excelentes primeiros minutos de "99 Homes" chegam a parecer um documentário.
São também estes primeiros momentos que apresentam o grande destaque deste filme, o personagem de Rick Carver maravilhosamente bem interpretado por Michael Shannon. O grande mérito do ator e do filme está em humanizar um personagem que normalmente é tratado como um tubarão que vê sua presa e não hesita em atacá-la em benefício próprio. Segundo o que mostra o filme, é esta imagem que Rick pretende passar como um homem de negócios, porém suas atitudes não são guiadas por um puro senso de maldade e pura frieza. Rick é um homem como Nash, que cuida de sua família e teme pela segurança de suas filhas e dele próprio. Porém, é o tipo de pessoa que jamais se contentaria em ser "mais um", decidido a fazer o necessário, atingindo quem preciso for, para se destacar. Suas ações, como mostradas no filme, são guiadas acima de tudo por seu ego.
Como já tinha dito no começo desta crítica, o que acaba faltando para que "99 Homes" se torne um filme excepcional é tempo, mas também coragem. Com sua duração de 105 minutos, o filme tenta ser mais comercial, comprimindo alguns de seus temas e suavizando outros. Para o desastroso tema que trata, falta a "99 Homes" a coragem para um grande impacto, alguma tragédia que realmente tornasse o filme memorável na mente de quem o assiste. Isso não significa que não há uma grande dose de drama no filme, mas este hesita em dar o passo final rumo à grandeza, como tantos outros o fizeram. Apesar disso, "99 Homes" é ainda assim um ótimo filme, que conta uma história cativante do começo ao fim.






Ótimo
Por Obi-Wan

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