(Room)
Data de Estreia no Brasil: 18/02/2016
Direção: Lenny Abrahamson
Distribuidora: A24
Antes de mais nada,
me sinto na obrigação de dar a você leitor o seguinte aviso: "Room" é um filme pesado. Não no sentido gráfico (há
inclusive um grande cuidado por parte dos produtores em mostrar pouco de cenas chocantes), mas em
sua temática. "Room" acompanha a vida de Joy e seu filho de 5 anos,
Jack, ambos prisioneiros de um homem que sequestrou Joy e a mantém por 7 anos
trancada dentro de um pequeno cômodo no quintal (room), estuprando-a regularmente e mantendo mãe e filho somente com
o estritamente necessário para a sobrevivência. Porém, apesar da pesada temática, o roteiro não
aposta majoritariamente no suspense e no horror de tal situação. O enfoque é
claramente a condição psicológica das vítimas de tal abuso, sendo que o filme
utiliza a inteligente solução de abordar a situação através da inocente
perspectiva de Jack, uma criança de 5 anos.
"Room"
acaba sendo muito mais um estudo de personagem do que um thriller, diferente do que fez o recente e também ótimo "Os
Suspeitos" (2013) com uma temática semelhante. Nesse sentido, a trama de
"Room" se move muito mais rápido do que o esperado. É impressionante
observar a quantidade de temas extremamente complexos que o filme consegue
abordar de maneira inteligente e satisfatória em apenas duas horas de duração.
O estudo de personagem a que me referi acontece do começo ao fim do filme,
explorando seus dois personagens principais a cada novo importante
acontecimento. Há inclusive abordagens extremamente sutis, que tenho certeza
que só perceberei após assistir "Room" uma segunda vez (algo que
certamente farei).
Como todo estudo de
personagem, "Room" depende em grande medida de fortes atuações.
Estas são abundantes, do começo ao fim do filme. Além de contar com um grande
elenco coadjuvante, com ótimas atuações por exemplo intérprete do homem que mantém mãe e
filho em cativeiro (Sean Bridgers) e dos pais de Jack (Joan Hellen e William H. Macy), as atuações dos dois protagonistas são
brilhantes. O menino, Jacob Tremblay, é um ator extremamente promissor, que lida muito
bem com a complicada situação imposta pela trama do filme, dando toda a entrega
emocional que o filme precisava, conseguindo fugir daquela atuação mais
"dura" que seria esperado de uma criança tão jovem. Já Brie Larson
entrega uma excelente atuação como Joy, merecendo com honra sua vitória no
Globo de Ouro e sua indicação ao Oscar.
A atuação de Larson é
brilhante pois é extremamente minuciosa. Através de pequenos trejeitos e
olhares a também jovem e promissora atriz constrói a personalidade de Joy. E
isto é feito logo nas primeiras cenas, em que vemos uma mulher cansada, alguém
que carrega em seu semblante o pesar e a dor de ter perdido sua vida e ter que
criar um filho em sórdidas condições. Porém, há em seu olhar uma dureza que indica
que ela não perdeu a força de vontade para lutar pela sua liberdade e a de seu
filho. Destaco ainda outro elemento: ao optar por narrar o filme do ponto de
vista de Jack, os produtores tornaram ainda mais difícil o trabalho de Larson,
que não tem uma narração, mas apenas gestos e olhares para fazer com que o público acompanhe o
desenvolvimento psicológico de sua personagem.
Além de tudo isso,
"Room" é também um filme muito bem produzido e dirigido. Os cenários
são muito bem construídos (principalmente o room),
os figurinos são muito bem escolhidos, ajudando a representar o estado
psicológico dos personagens, e a maquiagem é também muito bem feita,
principalmente a de Joy. Por sua vez, a direção de Abrahamson ("Frank") é bastante contida, deixando a
maior responsabilidade na mão dos atores, mas tendo interessantes e eficientes
soluções visuais para representar o estado emocional de seus personagens. Em minha opinião "Room" é um filme impecável e absolutamente marcante. Porém, isso também pode servir como desencorajamento. Apesar de considerar "Room" um dos melhores filmes de 2015, por conta de sua forte temática não o recomendo para todos os públicos.
Excelente
Por Obi-Wan
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