terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Crítica: "Joy - O Nome do Sucesso"

Joy - O Nome do Sucesso
(Joy)
Data de Estreia: 21/01/2016
Direção: Davi O. Russell
Distribuidora: Fox

David O. Russel parece cada vez mais fascinado em estudar núcleos familiares problemáticos que em certo ponto parecem entrar em colapso mesmo que não haja uma separação total de seus membros psicologicamente quebrados. Foi assim com “O Vencedor”, “O Lado Bom da Vida”, “Trapaça” e é assim com seu novo trabalho, “Joy: O Nome do Sucesso”, que o trás novamente contando uma história real, mas que em muitos pontos a magia do cinema se faz escancarada aos nossos olhos.
Se existe um mérito a ser destacado a cima de tudo no filme de O. Russel é o fato de que uma premissa tão simples é executada de maneira interessante e com bastante energia. Joy Mangano é uma mulher com um talento criativo que um dia decide patentear uma invenção sua (um tipo de esfregão mais prático e higiênico para a limpeza), tornando-se mais tarde uma das maiores personalidades empreendedoras dos Estados Unidos.


Como pode-se observar, a narrativa é basicamente a jornada da pessoa comum, aquela com uma idéia na cabeça e que com muito suor e sangue acaba por batalhar por seus sonhos, e se tal história não soa banal e entediante, muito se deve a atuação de Jennifer Lawrence que transparece uma infinidade de sentimentos a partir da sutileza de sua composição. Sentimos medo e afeto pela personagem que se demonstra a “fragilidade” necessária para que nos importemos de verdade com os problemas que esta enfrenta, ao mesmo tempo em que nem por um segundo desacreditamos na capacidade da protagonista de superar até as próprias expectativas. É uma atuação contida e segura, que não aposta em maneirismos e faz transparecer o talento da jovem atriz.
Ainda assim, “Joy” conta ainda com um elenco que parece ter encontrado em um todo um tom homogêneo que beneficia a narrativa ainda que seus papeis se mostrem pouco complexos (já volto a este tema). Desde mais uma ressurreição de Robert de Niro como o pai da personagem título, até mais uma participação de Bradley Cooper nos filmes de O. Russel (sim, o diretor não mantém somente seus temas, mas sua equipe também) as atuações valem um destaque. Principalmente a deste ultimo numa sequencia passada dentro de um estúdio de TV no qual Cooper consegue não somente convencer Joy de que este sabe o que está fazendo, como também o expectador (e aqui a direção, edição e montagem do filme operam de maneira perfeita).
Edição e montagem que por vezes são aplicadas de formas desconexas e muito estranhas, bastando uma olhada mais atenta no filme para perceber como determinadas falas foram remanejadas ao longo de cenas na pós-produção do filme (não que isto seja algo anormal, mas a forma com que o filme realiza é totalmente disfuncional). Além disso, a justaposição dos dramas dos personagens no tom adotado pelo filme, que se mune da edição e montagem no percurso, soa drasticamente novelesco. Mas não se engane, o filme nunca atinge tal aspecto num sentido “Almodóvar”, não há complexidade o suficiente para chegar perto de tal façanha.
O que nos leva a aquele que é o grande problema do filme: seu roteiro. Estabelecendo claramente todos os passos de uma cinebiografia que já apontei em Steve Jobs, o roteiro (escrito pelo próprio diretor e por Annie Mumolo) utiliza ainda de um narração em off de Diane Ladd – que vive a avó de Joy - que desaparece por boa parte do filme sendo utilizada quando somente conveniente e nunca de forma orgânica, sendo um elemento descartável. Relegando ainda seus personagens secundários um subdesenvolvimento somente a partir de seus embates e discussões com Joy, sendo um desperdício reconhecer tantas boas atuações presas a figuras planas (algo que está a anos luz de distância da complexidade de personagens em filmes como “O Vencedor” e “O Lado Bom da Vida”, por exemplo).
Além disso, é impossível não observar como as coincidências narrativas soam como meras formalidades para se criar drama e prender o expectador na poltrona, já que o roteiro adota uma estrutura calcada em apresentar um obstáculo para a cena seguinte ser a superação deste (e isto fragiliza até mesmo seu clímax). Se por um lado possuímos potencial de momentos divertidos, intensos e dramáticos com todos os acontecimentos na família Mangano, por outro a todo o momento somos lembrados de estarmos vendo um filme... Ou melhor, um capítulo de uma novela estadunidense de duas horas de duração.
Fato este ainda mais concretizado pela referência estranha (aquilo de forma alguma pode ser acidental) ao clássico “O Poderoso Chefão”, destoando completamente do restante do filme, num ponto no qual a direção do cineasta desanda quase que por completo. O que é mesmo uma pena já que segundos antes este roda um plano sequencia interessante para a narrativa, além de criar planos muito belos (como no início do filme com Joy e sua avó conversando contra luz), sem contar em um uso de uma trilha sonora invejável.
Não sendo um desastre nem tão pouco uma obra prima, “Joy: O Nome do Sucesso” merece aplausos por nos entreter moderadamente, ainda que num vácuo enorme de inventividade e sutileza, algo que é irônico já que o filme retrata de forma medíocre uma mulher om ideias e invenções acima da média.







REGULAR

Por HAN SOLO

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