segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Crítica: "Aliança do Crime"

Aliança do Crime
(Black Mass)
Data de Estréia no Brasil: 12/11/2015
Direção: Scott Cooper
Distribuição: Warner Bros.


Em toda temporada de Oscar, surgem à tona filmes que se destacam entre tantos outros pela qualidade da atuação de seu protagonista mais do que por sua qualidade em si. Isso pode ser muito bem observado em "Livre" e "Para Sempre Alice", por exemplo. Desde o lançamento dos primeiros trailers de "A Aliança do Crime", muito se falou sobre o filme como uma espécie de "grande volta" para Jhonny Depp, ator muito querido pelo público que acabou caindo em uma sequência de filmes de qualidade muito duvidosa e fracassos de bilheterias nos últimos anos. Porém, ao contrário dos outros dois casos citados, em que Reese Witherspoon e Juliane Moore eram absolutas protagonistas de seus filmes, sendo difícil imaginá-los sem tais atrizes, "A Aliança do Crime" não gira tanto em torno da figura de Jhonny Depp como se imaginava.

A grande diferença é que a intenção do filme é justamente tirar Depp do centro das atenções. Isso não quer dizer que o ator não tenha dado uma magnífica interpretação do mafioso James "Whitey" Bulger, o que ele fez, porém o filme prefere contar uma história envolvendo Bulger, não necessariamente sua biografia. Ao invés do que fizeram famosos filmes de máfia como por exemplo "Os Bons Companheiros", "A Aliança do Crime" não acompanha seu protagonista passo a passo nos caminhos da máfia, preferindo escolher um período específico, 1975-1985, para contar uma interessantíssima história da qual Bulger participou. O filme gira em torno principalmente entre o acordo feito por James Bulger e o agente do FBI John Connoly (a tal Aliança do título em português), que colocava Bulger oficialmente como um informante do FBI na investigação da máfia de Boston, mas que na verdade o dava proteção policial para expandir seus negócios.
Este é exatamente o pilar que sustenta "Aliança do Crime", e lhe dá traços de originalidade. É um filme que consegue intrigar e interessar muito quem o assiste, conseguindo um alto grau de envolvimento e imersão na história. É impossível não sentir todo o magnetismo da persona de Bulger e observar atentamente qual será o próximo movimento de tão errático personagem e como isso irá afetar sua intricada rede de relações criminosas. Porém, ao mesmo tempo, considero que esteja aí também o grande erro de "Aliança". Ao invés de se propor a investigar a fundo a psiqué de seu personagem principal, fazendo com que seja ele quem leve o espectador através daquele mundo, o filme prefere manter uma espécie de distância respeitosa em relação ao seu protagonista. Funciona no sentido de que conta melhor a história mais geral, porém desperdiça a oportunidade de explorar mais de um ótimo personagem.
. Assim, o grande destaque a ser tirado do filme está realmente em seu elenco. Como já dito antes, Jhonny Depp consegue se esconder perfeitamente por trás da figura de Bulger, não somente por conta da maquiagem, mas realmente personificando a figura do mafioso e muitas vezes fazendo-o esquecer que é o mesmo excêntrico ator de "Piratas do Caribe" que está ali. Destaque também deve ser dado à ótimas interpretações de Joel Edgerton e Bennedict Cumberbatch. Enquanto o primeiro faz um ótimo trabalho na figura da moralmente quesionável agente do FBI que armou todo o esquema envolvendo Bolger, Cumberbatch não decepciona quem já vem acompanhando seu ótimo trabalho, sempre marcando sua presença no limitado tempo de tela fornecido por seu personagem.
Apesar dessas fortes atuações, "Aliança" é um filme problemático, que atira para vários lugares, acertando muitos, mas também errando alguns outros. Para o que se propôs a fazer, "Aliança" deveria ter no mínimo 30 minutos a mais de duração, pois o filme lançado aos cinemas parece comprimido demais, editado inúmeras vezes até conseguir uma duração mais comercialmente vendável. A consequência disso é que temos a impressão de assistir a uma história incompleta, com vários pedaços faltando e um inevitável grave problema de ritmo em decorrência disso. A sensação final ao término do filme é a de se ter assistido uma interessante trama, que cumpre muito do que promete, mas que não chega a trazer um conjunto totalmente original, dificilmente entrando na seleta galeria dos grandes filmes de máfia.

Bom

Por Obi-Wan

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