Biografia/Drama/Música
Data de Estréia no Brasil: 29/10/2015
Direção: F. Gary Gray
Distribuição: Universal Pictures
Não se deixe enganar
pela capa e pelo nome, "Straight Outta Compton" não é um filme sobre
rap ou sobre rappers: é muito mais do que isso. Claro, o eixo central do filme
é a formação do grupo de rap NWA, como eles explodiram no cenário da música no
final dos anos 80 e a posterior carreira de seus membros nos anos 90. Usando
esse pano de fundo, "Straight" discute temas extremamente relevantes
para a sociedade atual: segregação racial, abuso de força policial, liberdade
de expressão. Tudo isso está presente do começo ao fim do filme, muito bem
interconectado com a história que o roteiro propõe a contar.
Assim como qualquer
outro tipo de arte, a base da música é sobretudo expressão.
"Straight" mostra como um grupo de jovens de Compton usaram a música
como forma de exprimir todos os conflitos de seu cotidiano. Muitos acusavam as
letras de seu rap "agressivo" de incitar a violência e a desordem.
Elas não incitavam a violência, mas eram apenas um reflexo da presença desta no
cotidiano de qualquer jovem negro nos Estados Unidos de qualquer época, sempre
alvo de suspeita e abuso de força policial por causa da cor de sua pele.
Através do rap, estes jovens se levantam contra essa injustiça social que
transborda seu cotidiano, gritando junto com a platéia "Fuck the
Police". Este é o tema que justifica a existência e enorme importância de
um filme como "Straight Outta Compton": liberdade de expressão,
independente da forma que se escolha para fazer isso.
Além de extremamente
relevante, "Straight" é também um filme muito bem produzido. O ótimo
roteiro escrito consegue cumprir a dificílima tarefa de
condensar em uma única história estes importantes temas citados com a origem do
grupo em si, o sentimento de fraternidade e pertencimento que envolvia seus
criadores, as dissidências internas, os caminhos que cada um seguiu depois da
dissolução do NWA. Nesse sentido, "Straight" me lembra muito
"Boogie Nights", partindo de uma história mais pessoal para explorar
toda uma indústria, nesse caso a da música, e um momento cultural. Além disso,
a edição também é muito competente, fazendo com que a trama se mova rapidamente
entre um momento e outro, mas sempre dando o tempo necessário para que o
público se situe.
Outro ponto fortíssimo
de "Straight" está em seu elenco. Além da impressionante semelhança
física que a produção conseguiu atingir entre os atores e os músicos
representados (o caso mais impressionante de semelhança sendo entre Ice Cube e seu filho, O'Shea Jackson Jr.), os
protagonistas entregam performances excelentes. Todos eles transmitem a
sensação de compreenderem completamente a importância da história que estão
contando através deste filme, conseguindo captar e transmitir com perfeição o
sentimento daqueles jovens que se revoltaram através da música. A dinâmica
entre eles também funciona muito bem, tanto nos momentos mais
"amigáveis" quanto nas brigas. Além disso, a direção de F. Gary Gray ajuda a
unir todos estes elementos, funcionando muito bem para transmitir o sentimento
que o filme pretende passar, principalmente nas cenas que envolvem a polícia.
O único problema de
"Straight", que não chega a prejudicar muito o filme, é sua duração
um tanto quanto excessiva, que faz o filme ficar um pouco cansativo e suas temáticas
se diluírem um pouco em meio a tantos conflitos pessoais entre os rappers.
Apesar disso, "Straight Outta Compton" é um grande filme, certamente
um dos melhores e mais importantes de 2015. Rap não é dos meus estilos musicais
favoritos, mas este filme me fez olhar para ele com um grande respeito, pois o
coloca em seu devido contexto de luta social. Por isso, me sinto obrigado a ser
um pouco repetitivo: "Straight Outta Compton" não é um filme sobre
rap ou somente para aqueles que gostam do estilo musical. É muito mais do que
isso.
Excelente
Por Obi-Wan
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