domingo, 17 de janeiro de 2016

Crítica: "Straight Outta Compton: A História do N.W.A."

Straight Outta Compton
Biografia/Drama/Música
Data de Estréia no Brasil: 29/10/2015
Direção: F. Gary Gray
Distribuição: Universal Pictures


Não se deixe enganar pela capa e pelo nome, "Straight Outta Compton" não é um filme sobre rap ou sobre rappers: é muito mais do que isso. Claro, o eixo central do filme é a formação do grupo de rap NWA, como eles explodiram no cenário da música no final dos anos 80 e a posterior carreira de seus membros nos anos 90. Usando esse pano de fundo, "Straight" discute temas extremamente relevantes para a sociedade atual: segregação racial, abuso de força policial, liberdade de expressão. Tudo isso está presente do começo ao fim do filme, muito bem interconectado com a história que o roteiro propõe a contar.
Assim como qualquer outro tipo de arte, a base da música é sobretudo expressão. "Straight" mostra como um grupo de jovens de Compton usaram a música como forma de exprimir todos os conflitos de seu cotidiano. Muitos acusavam as letras de seu rap "agressivo" de incitar a violência e a desordem. Elas não incitavam a violência, mas eram apenas um reflexo da presença desta no cotidiano de qualquer jovem negro nos Estados Unidos de qualquer época, sempre alvo de suspeita e abuso de força policial por causa da cor de sua pele. Através do rap, estes jovens se levantam contra essa injustiça social que transborda seu cotidiano, gritando junto com a platéia "Fuck the Police". Este é o tema que justifica a existência e enorme importância de um filme como "Straight Outta Compton": liberdade de expressão, independente da forma que se escolha para fazer isso.

Além de extremamente relevante, "Straight" é também um filme muito bem produzido. O ótimo roteiro escrito consegue cumprir a dificílima tarefa de condensar em uma única história estes importantes temas citados com a origem do grupo em si, o sentimento de fraternidade e pertencimento que envolvia seus criadores, as dissidências internas, os caminhos que cada um seguiu depois da dissolução do NWA. Nesse sentido, "Straight" me lembra muito "Boogie Nights", partindo de uma história mais pessoal para explorar toda uma indústria, nesse caso a da música, e um momento cultural. Além disso, a edição também é muito competente, fazendo com que a trama se mova rapidamente entre um momento e outro, mas sempre dando o tempo necessário para que o público se situe.
Outro ponto fortíssimo de "Straight" está em seu elenco. Além da impressionante semelhança física que a produção conseguiu atingir entre os atores e os músicos representados (o caso mais impressionante de semelhança sendo entre Ice Cube e seu filho, O'Shea Jackson Jr.), os protagonistas entregam performances excelentes. Todos eles transmitem a sensação de compreenderem completamente a importância da história que estão contando através deste filme, conseguindo captar e transmitir com perfeição o sentimento daqueles jovens que se revoltaram através da música. A dinâmica entre eles também funciona muito bem, tanto nos momentos mais "amigáveis" quanto nas brigas. Além disso, a direção de F. Gary Gray ajuda a unir todos estes elementos, funcionando muito bem para transmitir o sentimento que o filme pretende passar, principalmente nas cenas que envolvem a polícia.
O único problema de "Straight", que não chega a prejudicar muito o filme, é sua duração um tanto quanto excessiva, que faz o filme ficar um pouco cansativo e suas temáticas se diluírem um pouco em meio a tantos conflitos pessoais entre os rappers. Apesar disso, "Straight Outta Compton" é um grande filme, certamente um dos melhores e mais importantes de 2015. Rap não é dos meus estilos musicais favoritos, mas este filme me fez olhar para ele com um grande respeito, pois o coloca em seu devido contexto de luta social. Por isso, me sinto obrigado a ser um pouco repetitivo: "Straight Outta Compton" não é um filme sobre rap ou somente para aqueles que gostam do estilo musical. É muito mais do que isso.

Excelente

Por Obi-Wan

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