terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Crítica: "Steve Jobs"

Steve Jobs
Drama/Biografia
Data de Estreia no Brasil: 21/01/2016
Direção: Danny Boyle
Distribuidora: Universal Pictures 

Muito se argumentava do porque fazer mais um filme baseado na vida do controverso Steve Jobs. Tendo uma história famosa, muito explícita na internet e na literatura, porque afinal de contas era necessário mais uma obra cinematográfica, sendo que outra havia sido lançada ano passado? O que o filme de Danny Boyle poderia fazer diferente de seu “antecessor”? A resposta é simples: Ser um bom filme! Resultado não só alcançado, mas ultrapassado, sendo uma das obras mais coesas, bem atuadas e estruturadas que o pude ver no ultimo ano.
Filmes biográficos tendem normalmente a cair numa mesma fórmula: se constroem em três atos bem estabelecidos num arco dramático claro, desenvolvem-se a partir do que a figura central “deixa para a posteridade” e se solidificam em atuações espetaculares (e basta conferir os medianos “O Jogo da Imitação” e “Ray” e o bom “Johny e June” para perceber como essa regra se aplica quase sempre). Sabendo disso, o roteiro de Aaron Sorkin não nega sua estrutura clássica, pelo contrário, abraça tais características para um desenvolvimento mais complexo da “trama”.

Assim, possuímos três lançamentos de produtos específicos na carreira de Steve Jobs como marcos cronológico para que a caixa de pandora se abra e todos os assuntos mal resolvidos da vida do personagem saiam pelo mundo no mesmo momento. Seja pelos embates com o CEO John Sculley (Jeff Daniels), ou mesmo pelo relacionamento “problemático” (um eufemismo difícil de evitar) com sua filha Lisa Jobs (Makenzie Moss e Perla Haney-Jardine), podemos acompanhar então não só a forma de Jobs trabalhar, mas também o seu amadurecimento (?) e desenvolvimento psicológico através dos anos.
Sorkin é extremamente inteligente ao não tentar refazer uma história de origem com detalhes que a própria internet poderia fornecer em cinco minutos, partindo, no lugar disso, para uma abordagem das formas de relacionamento do indivíduo com os demais personagens da narrativa como objetivo de que seus diálogos representem toda a dubiedade de Jobs. Diálogos estes muito bem escritos, divertidos de se assistirem e que são o que carregam realmente a história. Mesmo que seu estilo de referência pop singular remeta muito ao de A Rede Social (roteiro também de Sorkin), todos os elementos contribuem para o contar da história.
Explosivo e extremamente pedante, Steve Jobs não é construído através de uma hagiografia. Muito pelo contrário, em certo momento do filme Steve Wozniak, completamente pasmo com a arrogância do colega, indaga: “Você não escreve códigos! O que faz de você tão especial?”, com a resposta do protagonista, compreendemos os sonhos de grandeza e arrogância de uma pessoa que basicamente “inventava vontades”, que criava produtos que não nos eram úteis, até que nos fosse ensinado que eram.
Com tantas características e conflitos pessoais, somente um ator talentoso poderia entregar uma performance tão bem dosada. Felizmente o papel caiu nas mãos de Michael Fassbender que, ao contrário de Ashton Kutcher no filme “Jobs”, não se propôs apenas a imitar o criador da Apple na forma de andar e todo o seu gestual, mas traz peso dramático e crueldade à voz do indivíduo, montando um ser humano desprezível, mas o qual nós sempre percebemos que está em conflito, mesmo que dentro de suas afirmações e aparentes “certezas”. É uma atuação sublime que aposta nos detalhes minimalistas sem chamar atenção para “maneirismos”.
Montado basicamente como uma sequencia de diálogos e “lavagem de roupa suja” entre os personagens, a película conta ainda com um elenco de apoio absolutamente fenomenal. Desde a atuação surpreendente de Seth Rogen (que pela primeira vez não é um... bom, Seth Rogen) até o desempenho carismático e calculado de Kate Winslet, os atores cumprem todos suas funções na tela mesmo que quem brilhe seja o ator alemão.
Sendo assim, a direção de Danny Boyle inteligente o bastante por perceber que o mais importante é o elemento humano. Brincando com fluidez nos “plano e contra plano” o diretor monta suas cenas sempre de maneira muito contida (algo agradável e novo na filmografia do famoso cineasta que em muitos filmes apelava para recursos estilísticos). Boyle não receberá prêmios, nem acho que os mereça, mas mostra que o primeiro compromisso de um diretor é com realizar um bom filme e não chamar atenção para si.
“Como” e “Porque” são sempre elementos que cinebiografias tentam responder, mas esta procura investigar. Assim, como seu personagem título “re- embalava” produtos já conhecidos por seu público em uma estética melhor, esta obra utiliza do mesmo método para abordar Jobs sem enaltecê-lo, mas ainda assim como um ícone. Mesmo que derrape no final, “Steve Jobs” é excelente nas atuações, diálogos e cumprimento direto de sua proposta: um estudo eficaz e cheio de sutilezas de um homem famoso por seus excessos. 

POR HAN SOLO







Ótimo

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