quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Crítica: "Livre"

Livre
(Wild)
Biografia/Drama - 2014 (Estados Unidos)
Data de Estreia no Brasil: 15/01/2015
Direção: Jean-Marc Vallée
Distribuidora: Fox Filmes



Em um determinado momento de Livre, novo longa do diretor Jean-Marc Vallée (Clube de Compras Dalas), vemos nossa protagonista se entregar a uma expressão de prazer durante um ato de sexo casual após uma sequencia de expressões de dor, decepção, tristeza e arrependimento demonstrados no restante do filme. É uma cena maravilhosa construída desde a insegurança da personagem quanto ao seu corpo, marcado devido suas novas atividades físicas, até uma entrega silenciosa ao seu parceiro sexual, sem que com isso o filme pare para fazer qualquer julgamento ou um balanço obvio daquele momento com o restante da vida da personagem. Tudo se resume a um momento de felicidade daquela mulher com uma vida tão complicada.

Uma vida complicada que vive como uma sombra sobre Cheryl Strayed (Reese Witherspoon), uma mulher que após a morte de sua mãe viu seu casamento chegar ao fim enquanto se envolvia com outros homens e se viciava em heroína, e que decidiu mudar de vida estabelecendo como objetivo andar milhares de quilômetros da trilha de Pacific Crest Trail totalmente sozinha.
Filmes de histórias biográficas de superação normalmente se equilibram nas atuações de seus personagens principais, e aqui não é diferente. Reese Witherspoon se entrega totalmente a personagem dando uma atuação sensível e extremamente forte, conseguindo ainda carregar o filme atuando praticamente em todas as cenas e muitas delas sem expressar o que realmente sente em palavras (e quando o filme utiliza da narração em off, na maior parte do tempo, funciona).
Além disso, é realmente facinante reparar nos pequenos detalhes da composição da atriz. Note como se tem a impressão clara de que Strayed está se desenvolvendo nos hábitos de trilha sem que isso soe forçado ou rápido de mais, assim como na forma de andar com os joelhos meio curvados e o corpo levemente inclinado lhe dão um ar de frágil ainda que a moça possua uma fenomenal persistência. A atriz ainda faz um entrega física, típica de filmes assim, a qual transforma seu corpo no de uma pessoa normal muito maltratada pelas drogas, fugindo da sua imagem de atriz de Hollywood. E mesmo se nos lembramos de que ali está uma atriz, a persona delicada que Witherspoon criou em seus demais filmes nos ajuda ainda a simpatizar com a personagem.
Tendo uma atuação principal tão forte, o filme se dedica a desenvolver a sua personagem a partir de seus traumas e medos utilizando de flashbacks que surgem na maior parte do tempo relacionado a objetos do tempo presente no filme, como por exemplo, livros, músicas, animais e uma rima visual estranhamente eficiente envolvendo um apito. É realmente uma pena que os flashbacks sejam usados de maneira tão invasiva e repetitiva no meio do filme (certas cenas são passadas três vezes diferentes) e que a maquiagem feita em Reese Witherspoon não nos convença nem um pouco  como uma garota tão jovem quanto o filme quer passar. Acredito que apenas nos deixamos levar nessas cenas graças à presença extremamente carismática e eficiente de Laura Dern, que interpreta de forma tocante a mãe de Strayed.
Um dos pontos altos dos filmes, vale ressaltar, é percebermos que muito alem das drogas, dos amantes e de qualquer problema conjugal que nossa protagonista apresente, ela é muito mais assombrada por problemas familiares de sua infância bem como pela perda de sua mãe. E o diretor Vallé, por mais que não faça uma direção lá muito inspirada, mantem o filme sobre um controle sóbrio sem querer arrancar uma lágrima fácil, o que, assim como no filme A Teoria de Tudo, acaba prejudicando um pouco no envolvimento dramático do espectador. Ainda assim, a montagem acerta (ai sim) ao nos trazer todas essas lembranças desenvolvendo até chegarmos a “redenção” da personagem.
“Redenção” esta que emociona por sua “simplicidade”. Em um determinado momento Strayed afirma que não se arrepende de nada do seu passado, que teria feito tudo de novo, fazendo com que aquela caminhada funcione como a sua terapia pessoal, como se o silencio e a dor física tivessem liberado espaço para ela enfrentar tudo aquilo que guardou em sua mente durante anos. Dessa forma, o título original do filme acaba se tornando muito mais referencial a liberdade, dentro do contexto do final do filme, do que a própria palavra Livre. O filme pode não revolucionar filmes do gênero, mas é inegável que funciona justamente por seus valores tão simples.








Ótimo
Por Han Solo

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