segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Crítica: "Cinquenta Tons de Cinza"

Cinquenta Tons de Cinza
(Fifty Shades of Grey)
Erótico/Drama/Romance - 2015 (Estados Unidos)
Data de Estreia no Brasil: 12/02/2015
Direção: Sam Taylor-Johnson
Distribuidora: Universal Pictures 



(Obs.: Eu não li as obras originais da autora E.L. James, logo esta crítica não leva em consideração a adaptação do livro. De qualquer modo, a minha analise se dá em relação ao filme e não aos livros, sendo tal leitura irrelevante para essa crítica.)

Cinquenta Tons de Cinza é um filme que se vende pelas cenas de sexo, que se constrói em um drama amoroso e que falha miseravelmente em ambos. O filme apresenta problemas de roteiro, plot, atuações e tom de narrativa ao mesmo tempo em que representa tudo o que há de mais errado com a indústria Hollywoodiana: Um filme ruim, feito para um público alvo sedento por uma adaptação “fiel”, que ganhará milhões e lucrará ainda mais com suas continuações.

Adotando uma estrutura absurda de praticamente dois atos, o roteiro do filme se desenrola da seguinte forma: um ato de 10 minutos para “apresentar os personagens” e criar a relação deles e um segundo ato que se estende pelo resto do tempo com a absurda dinâmica de mais de uma hora e meia de idas e vindas que inexplicavelmente não dizem nada dos personagens que nós já não tivéssemos notado na primeira cena do casal juntos. Ela é tímida e com uma péssima auto-estima e ele é controlador que trata tudo como objeto. Qualquer informação maior dos personagens é irrelevante visto que elas parecem estar ali muito mais para suas futuras continuações do que para nos dar qualquer carga psicológica dos personagens.
Tudo isso ainda poderia ser interessante se as atuações funcionassem, mas nem isso o filme nos dá. Ainda que Dakota Johnson se esforce, mesmo, para tentar criar algo interessante com sua Anastasia Steele a partir do péssimo roteiro, Jamie Dornan cria um Christian Grey que faz com que o Edward de crepúsculo seja o cara com mais expressão facial do mundo, já que as suas emoções variam entre um olhar severo e um sorriso que tenta mostrar charme. E já que falei das atuações principais, devo dizer que fazia tempo que não via um casal tão sem química quanto Anastasia e Christian, em todas as cenas os dois parecem desconfortáveis, não parecem um casal verossímil, e em qualquer filme que gire em torno de uma história de amor (?) é vital que não só simpatizemos com os personagens como ainda assim torçamos para estes, algo que aqui não acontece de maneira alguma.
Como se já não bastasse entediar em sua dinâmica, o filme ainda apresenta um grande problema em relação ao seu tom. Parece que os realizadores não sabiam o que fazer entre as cenas de sexo e ficaram tateando em busca de alívios cômicos e frases de efeito. O resultado é um só: Nem uma das piadas que o roteiro utiliza funciona de verdade, por outro lado, as frases de efeito, essas sim, funcionam como um grande alivio cômico. Como não rir quando Christian Grey manda um “Até mais tarde, baby”?; Como não sentir vergonha alheia quando o mesmo fala a pavorosa frase “Como eu queria morder essa boquinha!”?; ou, como não gargalhar ao ricaço mandar a perola “Eu não faço amor. Eu fodo... Forte!”?.
Mesmo os elementos de sadomasoquismo e problemas psicológicos que poderiam representar bons momentos, no longa são utilizados de forma ridiculamente simples. No final das contas temos uma visão de que as tais práticas sexuais só são feitas por pessoas perturbadas e nunca possuímos uma visão real do que as motiva para tais práticas (prazer e trauma se intercalam), tratando ainda as mulheres como submissas á qualquer homem bonito e com dinheiro, mesmo que este não possua um pingo de escrúpulos. E, ainda assim, quando as cenas de sexo chegam estas são feitas de forma mecânica e sem inspiração nenhuma. Não chocam, não se mostram sensuais, não representam nada de novo em relação aos filmes que trabalham com uma temática sexual. Em outras palavras, as cenas de sexo são chatas tornando o restante do filme insuportável.
Surgindo desde os seus momentos iniciais como uma produção que se rende ao óbvio, iniciando a projeção com um céu cinza e apresentando a característica de "estabanada" da protagonista com um tropeço, esta abominação em forma de filme talvez seja  uma obra incompreendida e possa, na verdade, ser um exercício metalinguístico realmente eficiente: transformou aos poucos o meu prazer de ver filmes em uma experiência dolorosamente ruim. 















Horrível! 

Por Han Solo

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