quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Crítica: "Dois Dias, Uma Noite"

Dois Dias, Uma Noite
(Deux jours, une nuit)
Drama - 2014 (Bélgica/França/Itália)
Data de Estreia no Brasil: 05/02/2015
Direção:
Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne Distribuidora: Imovision (Brasil) Cinéart (Bélgica)



         "Dois Dias, Uma Noite" acompanha Sandra, uma personagem belga que após se recuperar de uma depressão, ficando algum tempo afastada de seu emprego, descobre que seu chefe decidiu promover uma votação entre a equipe de 16 funcionários para decidir se a décima sétima vaga seria reocupada ou se cada um dos restantes funcionários receberiam um bônus de mil euros e faria hora extra para cobrir a ausência de Sandra. O mais interessante sobre a premissa do filme, é que ele consegue, a partir de uma situação minimalista, envolvendo apenas alguns personagens, expor em tela os inúmeros problemas causados pela fragilidade de uma Europa em crise econômica.

        O que mais me agrada sobre "Dois Dias, Uma Noite" é a maneira que os diretores optam por conduzir o filme, com aquela crueza muito característica do cinema francês. Apesar de tocar em temas extremamente delicados, como depressão, desemprego e todo tipo de dificuldades econômicas, o filme o consegue fazer de maneira extremamente sutil e delicada, sem apelar para o sentimentalismo barato que grande parte dos dramalhões hollywodianos tanto prezam. Apesar dessa aparente frieza, o que o filme consegue fazer é atingir o público de uma maneira muito mais profunda, pois soa muito mais realista. Como exemplo podemos citar o francês "Amor" (2012) que é capaz de impressionar e chocar sem a presença de cenas apelativas.
        Tudo que envolve "Dois Dias, Uma Noite" exala realismo, fazendo com que o filme soe muitas vezes mais como um documentário sobre a crise econômica do que como uma história fictícia. Um elemento facilmente perceptível, mas que certamente contribui muito para essa sensação é a ausência de uma trilha sonora, extremamente presente nos dramas que estamos mais acostumados. As únicas duas cenas em que o filme se utiliza de música para transmitir os sentimentos de seus personagens acontece quando essa trilha faz parte da narrativa, é tocada por um rádio presente na cena. Outro fator também muito importante é a edição do filme, que não apressa seu ritmo e permite que os atores demonstrem muito das emoções de seus personagens com poucos diálogos. O que está sendo mostrado na tela não é constantemente repetido pelos personagens para tornar o filme mais "fácil".
        Falando sobre os atores, Marion Cotillard, atuando no seu conhecidíssimo território dos dramas europeus, dá uma excelente performance, digna do seu nível de atriz ganhadora de Oscar e certamente merecedora de sua indicação ao Academy Awards de 2015. Em ótima sintonia com o tom do filme, Cottilard não procura chamar atenção para si, interpretando Sandra de uma maneira aparente simples, mas que nos faz acreditar completamente na veracidade das dificuldades e dos sentimentos conflituosos que sua personagem enfrenta do começo ao fim. A direção de Jean-Pierre e Luc Dardenne, dá aos atores o espaço necessário para que desenvolvam seus personagens, sem influenciar muito na história que está sendo contada, mas deixando logo no início sua marca através do aspecto visual do filme.
        É a partir dessa espécie de conexão direta que os idealizadores do filme conseguem criar entre os personagens e o público que "Dois Dias, Uma Noite" consegue desenvolver de maneira muito satisfatória todos os dramas de seus personagens principais, ao mesmo tempo que explora a influência direta da fragilidade econômica europeia na vida de cada um de seus habitantes. Estranha e injustamente de fora da categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira do Oscar de 2015, "Dois Dias, Uma Noite" é um filme que certamente merece ser assistido, por conta de sua comovente história, muito sintomática da atual situação europeia.





Excelente

Por Obi-Wan

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