sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Crítica: "O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos"

O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos
(The Hobbit: The Battle of The Five Armies)
Aventura/Fantasia - 2014 (Estados Unidos)
Data de Estreia no Brasil: 11/12/2014
Direção: Peter Jackson
Distribuidora: Warner Bros.


"A Batalha dos Cinco Exércitos" começa exatamente no instante em que termina o filme antecessor, "A Desolação de Smaug", portanto, quem ainda não assistiu o anterior ficará bastante perdido durante os primeiros minutos deste último filme da trilogia O Hobbit. A trama do filme começa acompanhando o dragão Smaug partindo para atacar a Cidade do Lago, enquanto os anões da Companhia de Thorin e Bilbo Baggins assistem à tudo impassíveis. Porém, como o subtítulo do filme deixa bastante claro, o tema central do filme é a Batalha dos Cinco Exércitos, travada entre orcs, humanos, elfos e anões, e que visa a conquista de Erebor, valiosa por conta do tesouro que guarda em seu interior e por sua valiosa posição estratégica.

            Apesar de se tratar de um livro escrito por Tolkien visando atingir um público bastante jovem, o grande tema que permeia toda a trama desse filme é o da ambição. De maneira geral, os filmes anteriores da trilogia O Hobbit já flertavam com o tema, através da aparição de Gollum, da cobiça desmedida de Smaug, e através do flashback que explica o que aconteceu ao avô de Thorin, Thror. Porém, tudo isso se mostra ainda mais marcante nesse último capítulo da trilogia, quando acompanhamos o desenvolvimento de Thorin, escudo de carvalho, aquele que considero ser o melhor personagem, tanto no livro quanto nos filmes. Contribuí muito à isso a maravilhosa interpretação de Richard Armitage, que consegue demonstrar, a partir de sua voz e de suas expressões, todos os conflitos internos e a confusão de seu personagem, dando vida à um personagem extremamente complexo e bem construído. Thorin começa no primeiro filme como um príncipe exilado que perdeu seu lugar no mundo e procura retornar à sua terra natal, Erebor, e retomar o que antes pertenceu à sua família. Nesse último filme podemos observar o desenvolvimento da cobiça  de Thorin, tema sempre recorrente nos filmes da trilogia do Senhor dos Aneis, no que diz respeito ao "Um Anel". O roteiro do filme constrói muito bem a relação entre Thorin e às pessoas ao seu redor, sejam antigos rivais, os elfos, ou com os demais anões. Também a interessante relação estabelecida entre escudo de carvalho e Bilbo Baggins (também ele muito bem interpretado pelo sempre eficiente Martin Freeman), encontra um ótimo desenvolvimento e um belo desfecho neste filme. São nesses momentos que brilha aquela velha e conhecida luz do universo da Terra-Média.
            A Batalha em si também é muito bem construída, assim como todas as motivações que levam à sua disputa, que é novamente muito perpassada pela cobiça, seja do próprio Thorin e dos anões, quanto do Rei dos elfos da Floresta das Trevas, Thranduil. O motivo da participação dos orcs também fica muito bem explicado ao espectador, estabelecendo também, de maneira eficaz e sem parecer forçosa, uma conexão com a Trilogia Senhor dos Aneis. No aspecto técnico, Peter Jackson usa toda a sua experiência para entregar empolgantes e bem coreografadas cenas de combate, principalmente as lutas travadas fora do campo da Batalha principal. Também os efeitos especiais desse terceiro filme tiveram uma melhora muito significativa em relação ao filme anterior, que fazia tudo parecer muito pouco natural.
           Os problemas que "A Batalha dos Cinco Exércitos" apresenta são todos fruto do panorama geral da trilogia, que foi muito mal planejada e dividida. O problema não é apenas a decisão equivocada de se dividir a história de um livro de 300 páginas em 3 filmes, ao invés de 2, mas sim da maneira que se optou por fazer isso. O primeiro filme, "Uma Jornada Inesperada" funciona maravilhosamente como uma grande introdução à tudo que se desenrolará no decorrer da história, assim como o último filme funciona bem como um grande clímax e um bom final para a história. O problema está no elo de ligação entre eles. O segundo filme cria várias situações que atrapalham o desenvolvimento do capítulo final da trilogia. Ele cria e desenvolve uma grande ameaça, o temível dragão Smaug, que teoricamente deveria ser a grande ameaça do terceiro filme, porém acaba mal aproveitado, e sua presença, imprudentemente empurrada para o começo do terceiro filme, não condiz em nada com o tom do restante do filme, acabando por ficar extremamente deslocado.
           Outro desenvolvimento que foi mal estabelecido no filme anterior e por isso acaba prejudicado neste é a relação entre Tauriel e Kili, que ganha um bom desfecho e não parece ser tão forçada quanto anteriormente, mas que soa um pouco aleatória, devido à maneira que ela teve início em "A Desolação de Smaug". Tauriel é uma personagem criada exclusivamente para os filmes, e serve o propósito de "preencher" um pouco o arco dos elfos durante a trilogia. À esse mesmo propósito serve a presença de Legolas, uma "cara familiar" da trilogia anterior, e que ajuda a mostrar o ponto de vista dos elfos no conflito, que é pouco explorado no livro. Porém, acredito que o desenvolvimento das relações desses personagens com aqueles que estão presente nos livros deixe a desejar, na esparsamente desenvolvida relação entre Legolas e seu pai, Thranduil, mas principalmente no péssimo "triângulo amoroso" inventado entre Legolas, Tauriel e Kili.
         "A Batalha dos Cinco Exércitos" é um desfecho extremamente digno à trilogia, resolvendo de maneira bastante satisfatória tudo o que foi começado nos filmes anteriores, principalmente o arco de Thorin e de Bilbo Baggins, que é peça chave, desde o primeiro filme, dentro da relação entre todos os anões e do desenvolvimento de suas jornadas. A trilogia como um todo deixa a desejar, não pelo modo como cada filme opera individualmente, mas sim pela maneira em que eles dialogam entre si em um panorama mais geral. Tenho a amarga sensação de que, daqui a alguns anos, a trilogia "O Hobbit" será aquele prelúdio que nos obrigaremos a assistir antes de "O Senhor dos Anéis", em nossas maratonas da "Saga da Terra-Média".




                           


Ótimo



Por: Obi-Wan

3 comentários:

  1. Parabéns pela resenha Obi! Concordo com os pontos que você apresentou e queria compartilhar minha opinião (de uma total leiga) acerca da inclusão de mulheres nos filmes. Eu já havia tido a sensação de que Peter Jackson estava introduzindo mais mulheres no filme em Osenhor dos anési do que originalmente o livro apresenta, mas esta decisão de Peter se tornou ainda mais clara ou longo de O Hobbit principalmente no terceiro filme. Mulheres pegando em armas, menções à mãe do Legolas que, ao longo de minhas pesquisas, não encontrei em nenhuma obra de Tolkien (se alguém souber, me avise!) e a inclusão de uma "super"-elfa certamente demonstram o quanto a demanda por essas personagens aumentou desde que Tolkien escreveu seus livros. Outra questão que você bem mencionou foi a cobiça que já era um tema dominante em O senhor dos anéis, mas se tornou ainda mais aparente em O Hobbit como uma crítica direta à nossa sociedade. De fato, um dos momentos que mais me encanta nos livros é quando Sam Gamgee é tentado pelo anel em Mordor e percebe que o que ele deseja não é um território imenso que outros governarão em seu nome, mas sim um pequeno jardim que ele possa cuidar sozinho. Se esta cena não foi reproduzida na primeira trilogia, o discuso de Thorin Oakenshield certamente passou a mensagem. Mais uma vez parabenizo a resenha!

    ResponderExcluir
  2. Muito obrigado Brenda! Pelos elogios e pelo feedback. Realmente, eu não tinha pensado nisso, mas não me lembro de nenhuma personagem feminina importante no livro O Hobbit, talvez isso justifique a criação de Tauriel para o filme, mas certamente não justifica a inclusão forçada da personagem em um triângulo amoroso que nada tem de Tolkien (shame on You Peter Jackson!). Não reclamo do envolvimento entre uma elfa e um anão (acho até que foi dai que surgiram os Hobbits), mas por que incluir Legolas. Sobre a cobiça, sempre achei que é um tema extremamente adulto e pesado, que é discutido por Tolkien com enorme maestria e sutileza, tanto no Hobbit quanto no Senhor dos Anéis, achei essa parte muito bem adaptada no cinema. Para mim, o arco de Thorin é a melhor coisa do livro e de toda a trilogia O Hobbit

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. De nada! Irei pesquisar acerca do aparecimento dos hobbits hehe, nunca tinha pensado que eles poderiam ter sido resultado de relações entre elfos e anões, mas é uma hipótese muito válida. De fato o triângulo amoroso ficou bastante forçado, embora eu concorde que o fim dele foi bastante apropriado. Sim, Thorin é realmente um personagem complexo (uma das maiores críticas contra Tolkien é a respeito dele ter criados poucos personagens complexos, no que eu discordo, é só dar uma olhada no Silmarillion para entender que não é bem assim) e o modo como ele foi abordado realmente transmitiu suas diversas faces. Estamos aí!

      Excluir