domingo, 22 de novembro de 2015

Crítica: "Jessica Jones" (1ª temporada)

Jessica Jones
Ação/Crime/Drama
Data de Lançamento: 20/11/2015
Distribuição e disponibilidade: Netflix
Produção: Melissa Rosenberg


       Desde que foi anunciada, a parceria entre Netflix e Marvel prevê a produção de cinco diferentes seriados: "Demolidor", "Jessica Jones", "Luke Cage", "Punho de Ferro" e "Defensores", que unirá os quatro personagens. Estes foram selecionados para este projeto por um motivo bastante específico: são todos defensores urbanos, que entram nos becos escuros de Hell's Kitchen que o Homem de Ferro de Robert Downey Jr. jamais entraria. Enquanto os Vingadores salvam o mundo, os Defensores salvam a vizinhança, lutam contra o crime organizado e vilões que atuam nas sombras. Eles fazem o trabalho sujo. Portanto, suas histórias possuem possibilidades temáticas muito mais pesadas e complexas, que só poderiam ser satisfatoriamente desenvolvidas com o tempo de uma temporada de série de televisão. Se "Demolidor" já havia sido surpreendentemente excelente, "Jessica Jones" não deixa cair em nada o nível estabelecido pela série anterior.

         Olhe para o poster acima. Se não fosse pela logotipo da Marvel em cima do nome Jessica Jones, é bastante improvável que alguém que não conhecesse a personagem das HQs adivinhasse que trata-se de uma super-heroína do estúdio. Se isso é provavelmente prejudicial de um ponto de vista financeiro, por ser mais difícil associar a imagem da série aos bem sucedidos filmes da Marvel, é algo extremamente positivo do ponto de vista narrativo. Tudo que sabemos sobre super-heróis não serve de parâmetro para entender a história de Jessica Jones. Além de questionar-se sempre sobre o próprio sentido do que é ser uma heroína, a série não trata as habilidades físicas de Jessica como superpoderes, mas como "dons". Sua força desproporcional é simplesmente algo que a história incorpora como uma característica da personagem, tanto quanto suas habilidades investigativas.

           Jessica Jones surgiu nas HQs como uma detetive particular, em uma primeira série chamada "Alias". Esse elemento é muito bem utilizado pela série, ao ponto de Jessica utilizar suas habilidades de investigação tanto quanto sua enorme capacidade física durante a série. É nesse sentido que "Jessica Jones" acaba encaixando-se muito mais nos gêneros "crime" e "drama" do que "ação". Isso acontece em grande parte por conta do vilão principal da série: Kilgrave (a legenda em português manteve o nome em inglês, mas nas HQs ele é conhecido como Homem Púrpura). Kilgrave é a definição do psicopata, pois utiliza suas habilidades de controle mental para obrigar as pessoas a fazerem o que ele deseja, cometer os crimes por ele, fazendo com ele nunca possa ser acusado de nada. É a definição do crime perfeito: Kilgrave captura sua vítima, a obriga a manter-se perto dele, a utiliza para cumprir seus objetivos e depois a obriga a se matar.
        De que adianta ter superforça contra um vilão com tais habilidades psíquicas? É justamente esse o maior acerto de "Jessica Jones". Assim como "Demolidor", a série desenvolve as personalidades de protagonista e antagonista em paralelo, mas sem o maniqueísmo de bem X mal. A experiência de ter sido controlada por Kilgrave é um dos elementos mais importantes do arco da personagem na série, algo que muda completamente sua vida. Os dois personagens não são tratados como o exato oposto um do outro, mas como pessoas que tomaram atitudes diferentes com o que tiveram em mãos: enquanto Kilgrave se acostumou a utilizar suas habilidades para facilmente conseguir o que quer, Jessica Jones resolve utilizar as suas para ajudar outras pessoas. Porém, ela não se encaixa na definição clássica de heroína altruísta, mantendo-se em uma linha tênue entre se importar com as pessoas a sua volta e preocupar-se em salvar apenas sua própria pele. Uma das principais discussões da série é o que faz alguém se tornar um vilão ou um herói e o quanto isso é definido por suas vivências e o quanto delimita sua vida,
            Outro elemento extremamente importante em "Jessica Jones" é a força e qualidade de seus personagens coadjuvantes. Quase todos eles são muito bem utilizados para nos ajudar a perceber a personalidade dos dois personagens principais, ao mesmo tempo que seus próprios arcos são muito bem construídos e explorados por si só. São muito importantes para a série personagens como Trish Walker, Jeri Hogarth e Malcolm, que servem de um ótimo apoio para as discussões abordadas no parágrafo anterior. Porém, o exemplo máximo disso é Luke Cage, personagem com habilidades físicas muito semelhantes a de Jessica e que é muito bem utilizado aqui como instrumento narrativo, ao mesmo tempo que é muito bem estabelecido para sua própria futura série.
        Algo que deve ser comentado é a qualidade das atuações, principalmente as de Krysten Ritter (Jones) e David Tennant (Kilgrave). Ritter prova ter sido a escolha perfeita para o papel, pois demonstra-se extremamente eficiente em construir uma personagem que, apesar de extremamente badass, não se deixa cair em fáceis clichês e caricaturas. O mais interessante sobre sua atuação é que o fato de ela ser uma mulher constituir um elemento fundamental de sua personalidade, mas não algo que a obrigue a se deixar limitar pelos parâmetros pré-estabelecidos pelo cinema para o que deve ser uma personagem feminina. Já Tennant brilha ao  encorporar de fato o psicopata que a série precisava que ele fosse. Com uma atuação ao mesmo tempo contida e carismática, Tennant domina todas as cenas em que aparece, construindo um personagem muito semelhante a Hannibal Lecter, mas com uma capacidade de manipulação psicológica elevada à máxima potência. As atuações dos coadjuvantes são também muito boas, com destaque a Carrie-Anne Moss ("Matrix") que estava há algum tempo bastante sumida da grande cena. No quesito personagem/atuação, minha única reclamação é com relação a Wil Traval (Will Simpson). Além de Simpson ser um personagem previsível e clichê, a atuação de Traval em nada ajuda a amenizar estes defeitos na elaboração do personagem, com maneirismos clichês que se tornam cada vez mais irritantes ao longo da série.
       Para concluir o que já está se tornando um texto bastante longo (afinal, estou analisando treze episódios de quase uma hora cada!) vou comentar sobre a estrutura da série. Assim como já tinha feito com "Demolidor" não pude resistir à tentação de assistir em dois dias todos os episódios da série, que já estão disponíveis no serviço de streaming. A capacidade de "Jessica Jones" de prender o espectador é incrível, principalmente por conta das ilimitadas possibilidades de exploração de um personagem como Kilgrave. O episódio piloto vai aos poucos lhe conquistando, porém é o final dele que te faz querer assistir todo o resto o mais rápido possível. "Jessica Jones" é uma daquelas histórias que consegue te deixar cada vez mais ansioso para ver o final. Porém, assim como "Demolidor", achei que "Jessica Jones" perde um pouco de sua força de atração a medida que vai aproximando-se do final (talvez isso se deva ao curto período de tempo em que assisti os episódios). Independente de alguns pequenos erros, "Jessica Jones" é uma excelente série, que desenvolve em seus treze episódios um viciante thriller psicológico. Assista o primeiro episódio e eu duvido que a série não te convença facilmente a assisti-la até o fim.








Excelente

Por Obi-Wan

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