Data de Estréia: 08/09/2016
Direção: Caito Ortiz
Distribuição: Paris Filmes
Todo brasileiro conhece esta história. Como o próprio filme conta em seus minutos iniciais (de maneira bastante efetiva, devo dizer), Jules Rimet era o nome da taça que a seleção campeã de uma Copa do Mundo conquistava. No entanto, o cobiçado troféu ficava sob a posse do país campeão somente até a próxima copa. Só levaria definitivamente a taça a seleção que conquistasse o torneio pela terceira vez seguida. O Brasil atingiu tal feito em 1970, com o famoso time formado por Pelé, Carlos Alberto e companhia. Dessa forma, a taça foi para a sede da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) no Rio de Janeiro. O filme conta a famosa história dos responsáveis pelo roubo da Jules Rimet no fim de 1983.
Como disse acima, o começo de "O Roubo da Taça" é extremamente competente. Com uma boa narração de Taís Araújo e imagens da época que descreve, o filme vai aos poucos criando uma boa imersão no período retratado e na própria história. Gosto muito também da primeira sequência que mostra o roubo, ressaltando muito bem o amadorismo absoluto dos ladrões e da própria CBF, capaz do absurdo incompreensível de deixar uma das mais cobiçadas taças do mundo esportivo sendo guardada por uma segurança risível. Este pedaço tem um quê satírico a la "Fargo" (1996) que me agradou bastante.
O problema de "O Roubo da Taça" é justamente o fato de que seu ápice se dá no primeiro ato. A sequência do roubo é entrecortada por um flashback que conta como o protagonista, Peralta, chegou ao ponto em que o filme começa. Esta estrutura, apesar de formulaica, é muito bem executada, conseguindo ser interessante e engraçada. Porém, a partir do momento em que Peralta leva a Jules Rimet para sua casa, o filme vai por água abaixo. Se espera de um filme de comédia que ele tenha pelo menos um punhado de momentos genuinamente hilários, marca que "O Roubo da Taça" não passa nem perto de atingir. O filme tem pouquíssimos momentos que realmente se dão ao trabalho de tentar ser engraçados e mesmo assim não o são. A aposta é em uma comicidade geral da situação, que apesar de funcionar em muitos momentos não é o suficiente para construir um produto com bom valor de entretenimento.
Não acredito que o problema seja exatamente o roteiro de "O Roubo da Taça", mas sua execução. Tenho a impressão de que algumas cenas devem ter parecido muito boas no papel mas simplesmente não funcionaram na prática. Isso deve ser atribuído a um elenco majoritariamente fraco e personagens extremamente unidimensionais. O único personagem realmente desenvolvido pelo roteiro é Peralta, um malandro carismático com problemas de vício muito bem interpretado por Paulo Tiefenthalter. Já Dolores (Taís Araújo) e o delegado interpretado por Milhem Cortaz são, apesar da competência dos atores, extremamente simplistas e mal desenvolvidos. Mas o Framboesa de Ouro deve ir sem sombra de dúvida para Mr. Catra. Independente do que pense sobre seu trabalho musical, seu "talento" para a dramaticidade é absolutamente inexistente. A aparição dele no filme é patética, numa cena que não consegue ser nem ameaçadora e muito menos engraçada, enquanto o "ator" se esforça para cuspir suas falas com uma cara de deboche que mal consegue controlar.
Apesar de utilizar um eufemismo inadmissível para o período ditatorial (o filme fala sempre que tem um "General na presidência", como se esse fosse em si o maior dos problemas), "O Roubo da Taça" é muito competente em sua recriação do Brasil dos anos 80, utilizando coisas simples como antigas embalagens de produtos conhecidos, mas que são muito eficazes na criação de uma atmosfera. O filme é, aliás, muito bem executado no sentido técnico, com uma boa direção Caíto Ortiz, que se utiliza de enquadramentos de câmera muito interessantes e cenários bem construídos para dar personalidade ao seu filme. No entanto, isso se limita apenas ao aspecto visual, pois a trama é extremamente genérica e mal executada, com um final previsível que não faz nenhum sentido. No fim das contas, "O Roubo da Taça" peca por sua irregularidade e falta de um tom mais bem definido, resultando em um produto final bem intencionado, mas medíocre.
Regular
Por Obi-Wan
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