terça-feira, 27 de setembro de 2016

Crítica: "O Lar das Crianças Peculiares"

O Lar das Crianças Peculiares
(Miss Peregrine's Home for Peculiar Children)
Data de Estreia no Brasil: 29/09/2016
Direção: Tim Burton
Distribuição: Twentieth Century Fox Film Corporation


         É impossível olhar para o pôster deste filme sem pensar que Tim Burton está em casa ao dirigir o projeto. Partindo apenas da percepção gerada pelo trailer e pelas artes conceituais, "O Lar das Crianças Peculiares" (ao qual a partir de agora me referirei utilizando apenas a última parte do título, por pura preguiça) parece um X-men com a tradicional esquisitice trazida por Burton. Nesse sentido, meu maior medo era que o filme apostasse em uma estrutura que tentasse pegar a onda de sucesso dos filmes de super-herói e acabasse perdendo em originalidade. Para minha surpresa e alegria, "Peculiares" não é genérico pelas razões que eu imaginava. Mas para minha tristeza, o é por outras.

         O filme tem um ótimo primeiro ato que logo acha um caminho para a originalidade ao focar em Jake e na relação com seu avô, Abe. Tudo o que envolve os dois personagens consegue soar muito genuíno e verdadeiro, estabelecendo uma grande empatia que certamente atingirá boa parte do público. As atuações de Terence Stamp como o avô e de Asa Butterfield como o neto ajudam muito nessa construção, carregando o público de maneira efetiva através de rudimentos da trama e do universo do filme que ganham uma interessante carga de lenda a partir dos acontecimentos expostos. Sabemos apenas o que Jake sabe e Butterfield é extremamente competente em executar esta função de "guia" que aos poucos alimenta a platéia com informações. O ator me lembra muito um jovem Jake Gyllenhaal, tanto pela semelhança física quanto por ser também uma grande promessa (como Gyllenhaal era em "Donnie Darko") que ainda tem muito a mostrar em Hollywood. Para o primeiro ato dou algo como três estrelas da morte do Episódio IV e uma do Episódio VI (pra quem não pegou a referência: três e meio).
       O segundo ato do filme consegue se manter interessante, com Jake se dedicando à exploração do universo que conhecia apenas a partir das histórias de seu avô. Este trecho de exploração de uma pequena cidade galesa em busca do orfanato descrito por Abe é muito competente, bem como os primeiros momentos de exploração do lar para crianças peculiares. O real problema do filme é que sua originalidade praticamente morre ali. Alguns conceitos interessantes ainda pipocam de vez em quando, mas o restante do filme é majoritariamente uma concha de retalhos de ideias genéricas executadas à exaustão em diversos outros momentos. Boa parte dos personagens pivotais da trama soam clichês e sua motivação simplista, fazendo com que gerem entre si relações quase automáticas e muito previsíveis. Para este segundo ato dou dois estrelas da morte e um meia.
           Falando ainda sobre os personagens, as atuações de seus intérpretes são também muito irregulares. Quando um filme tem um elenco de grandes atores e atrizes, mas que não estão bem neste caso em particular, quase certamente é um problema de orientação por parte do diretor. Eva Green, que já provou sua grande capacidade de atuação em diversos momentos, faz uma Miss Peregrine completamente desinteressante e caricata, sem nenhum real traço de personalidade. Já Samuel L. Jackson vendeu sua alma para Hollywood. Há não muito tempo atrás era sempre uma boa surpresa se deparar com a cara do ator em um filme. Agora, a não ser que seja um filme de Tarantino, ninguém mais se importa. O vilão que o ator interpreta é a síntese de tudo que há errado nesse filme, um personagem sem nenhum tipo de motivação e com um plano esdrúxulo que já foi visto no cinema um milhão de vezes antes. Para este terceiro ato, dou uma estrela da morte.
               Fiz esta incomum avaliação fracionária do filme como uma forma de representar o quanto ele próprio é completamente irregular e inconsistente. Por um lado, Tim Burton consegue empregar o que o diretor faz de melhor, com excelentes e nostálgicas cenas de stop motion e um estilo visual que torna o filme memorável. Por outro, sua direção de atuação se demonstra péssima e ele claramente perde as rédeas do filme a partir de um certo ponto. Se a já citada relação de Jake e Abe dá um senso orgânico para o filme, todos os outros personagens lutam para retirar do filme essa originalidade. O primeiro ato é muito bom, o segundo apenas ok e o terceiro um desastre (não vou entrar em spoilers, mas só digo uma coisa: branca de neve. Lembrem-se disso ao assistir). Dessa forma, eu poderia deixar a "nota" do filme espalhada pelo texto, ou fracioná-la com um "e meio". Porém, apesar de analisar a obra como um todo, a impressão mais forte de um filme é geralmente a de seu clímax, o terceiro ato que fecha a história. Portanto, para um filme que tem "Peculiar" em seu título, "O Lar das Crianças" é apenas 







Regular

Por Obi-Wan

Nenhum comentário:

Postar um comentário