(War Dogs)
Data de Estreia no Brasil: 08/09/2016
Direção: Todd Phillips
Distribuição: Warner Bros.
Antes de mais nada, gostaria de expressar minha satisfação com a tradução literal do título em inglês, uma vez que sua proposital estranheza diz muito sobre a história e sobre o que é de fato o filme. Uma das histórias baseadas em fatos reais mais absurdas que eu já vi, o filme narra os esforços de David Packouz (Miles Teller) e Efraim Diveroli (Jonah Hill), dois jovens da comunidade judaica de Miami que entram no aquecido mercado de venda de armamentos para o exército norte-americano. Em guerra contra o Iraque no período em que a história do filme se passa (2005 - 2008), o governo de Bush lança milhares de licitações em um site na internet procurando negociantes para armar e equipar seus soldados. Enquanto as grandes companhias entram no jogo em busca dos grandes contratos, a empresa de David e Efraim vão atrás das licitações pequenas, "as migalhas que em conjunto formam uma torta inteira" como diz Efraim.
O filme conta sua história a partir da perspectiva de David, um massagista que vive com sua esposa Iz em um pequeno apartamento e está prestes a ter seu primeiro filho. Começar a história com David é essencial para o desenrolar da trana, uma vez que tira de Efraim o peso de carregar o público, deixando-o mais enigmático e com maior possibilidade de ser o alívio cômico. O filme funciona em grande parte, aliás, por conta das performances muito competentes e carismáticas de seus protagonistas. Miles Teller, que já havia provado ser um excelente ator em "Whiplash" (2014), dá uma performance muito sutil, que casa bem com o personagem principal, conseguindo transmitir todo o seu conflito interno a partir de expressões faciais sutis que nunca soam exageradas. Já Jonah Hill consegue me fazer lembrar de sua brilhante atuação em "O Lobo de Wall Street", com seu excelente timing cômico, ao mesmo tempo que cria um personagem extremamente novo, completamente errático e imprevisível, responsável pelos melhores momentos cômicos de todo o filme.
Estes, aliás, são numerosos e espalhados por todo o tempo de duração. As situações absurdas que vão surgindo em número cada vez maior rendem ao filme momentos verdadeiramente hilários, principalmente as que envolvem carregamentos de armas em Bagdá e na Albânia. Há um bom trabalho de direção feito por Todd Phillips, que (apesar de algumas más escolhas de posicionamento de câmera) consegue conduzir muito bem o filme, acertando o tom e o ritmo da narrativa. "Cães de Guerra" é um filme extremamente auto-consciente, que nunca deixa de ser uma comédia, apesar de abrir com uma excelente narração anti-guerra que eu não estava esperando.
Já que flerta com um estilo meio "A Grande Aposta" (2015), falta a "Cães de Guerra" uma certa seriedade em alguns momentos. A citada abertura anti-guerra é excelente, mas poderia ter aparecido com mais força durante o filme e em seu final. Logo é estabelecido que David é completamente contra a guerra, portanto sua motivação para entrar no negócio de armas acaba sendo um pouco apressada e seu posicionamento político é completamente esquecido. Isso me leva diretamente ao meu maior problema com o filme: a personagem de Iz. Apesar de uma boa atuação de Ana de Armas, a personagem é extremamente negligenciada pelo roteiro, servindo apenas para gerar algum tipo de conflito para David, mas sempre o perdoando de maneira muito fácil.
A falta de personalidade e ação por parte de personagens femininas é um problema muito antigo no cinema, ainda mais em comédia, mas é um que não pode mais ser tolerado. Fora essas escorregadas, "Cães de Guerra" é um filme extremamente competente no que se propõe a fazer. Contando uma história divertida sobre situações e personagens absurdos, "Cães de Guerra" não chega a ser nenhum "O Lobo de Wall Street" ou "A Grande Aposta", mas tampouco era esse seu propósito. Como a comédia descompromissada que é, funciona muito bem.
Ótimo
Por Obi-Wan
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