(The Neon Demon)
Terror(?)/Suspense(?)/Nada(?)
Data de Estreia no Brasil: 29/09/2016
Direção: Nicolas Winding Refn
Distribuição: California Filmes
Nicolas
Winding Refn é um pornógrafo! Criando filmes que visam apenas provocar o
espectador (aparentemente, o excepcional “Drive” foi um exemplo mais controlado
disso) o cineasta de origem dinamarquesa é sem dúvida alguma um dos diretores
mais talentosos esteticamente na atualidade, criando composições e lógicas
visuais impressionantes - a partir de milhares de técnicas narrativas -, mas
que sempre possuem um toque exibicionista e exagerado ao tratar de maneira
gráfica e fetichizada tudo o que envolve sexo e violência – Inclusive, a
afirmação a qual abri meu texto é do próprio Refn. Assim, após defender o
dinamarquês por seus quatro últimos filmes (sim, aprecio até mesmo o tão criticado
“Apenas Deus Perdoa”) me vejo na obrigação de afirmar que sua auto-indulgência
chegou a seu ápice, ultrapassando qualquer limite do aceitável com este “Demônio
de Neon”, que consegue ser uma obra impactante em seus aspectos técnicos, mas
completamente vazia (e por vezes reprovável) em seu conteúdo.
A narrativa se dá através de algo que parece uma história,
mas é apenas um ponto de partida para que Refn componha seus quadros a partir
de luzes lancinantes e sequencias oníricas numa evocação clara, e falha, a David
Lynch. Acompanhamos Jesse, uma aspirante a modelo que acaba de
chegar a Los Angeles chamando muita atenção por sua beleza estonteante e
completamente natural. A garota acaba atraindo inveja e desejo para a sua
direção, algo que dá ao espectador a idéia de que em algum lugar de “Neon Demon”
há intenções de criticar a superficialidade fetichista do mundo da moda, o que
é uma proeza hipócrita gritante já que estas são justamente as qualidades que o
próprio filme possui. O filme, assim, desenrola sua pouca história de forma
extremamente lenta por dois fatores: uma edição que em certos momentos se
estende e pela própria técnica do seu realizador por trás das câmeras.
Dessa forma, é importante ressaltar que embora Winding Refn faça
um trabalho minucioso em técnica, isto não o restringe de críticas em sua
abordagem. Não há como negar que a deculpagem das cenas foi feita de forma
minimalista, mas Refn parece tão apaixonado por suas
imagens que as estende a partir de longos travellings e panorâmicas
extremamente lentos, contando ainda com um uso demasiado e irritante de câmera
lenta que ainda denuncia o fetiche pela violência e pelos corpos de suas
atrizes que o diretor possui. Embora cumpra com perfeição as tarefas de
aspectos plásticos que cabem a um diretor, Refn é sabotado por sua arrogância ao
acreditar que seus simbolismos não só são o centro da narrativa (o que desloca
todos os personagens para o status de meras figuras cenográficas), como também que
estes possuem algo muito importante a dizer.
A verdade, que os realizadores aparentemente não perceberam,
é que é justamente em seus simbolismos e metáforas que o filme acaba por perder
o espectador. Querendo brincar de Stanley Kubrick, o dinamarquês aposta no
impacto de suas imagens para apresentar a aparente relevância de seu filme, sem
constatar que estas possuem significados extremamente rasos, o que parece depor
para um conhecimento simplório dos roteiristas (Refn junto de Mary Laws e Polly
Stenham) sobre o mundo que querem retratar. Ao contrário do mestre de "2001", as
imagens não são profundas em sua reflexão - e Kubrick, em 68, já mostrava que a
direção certa para tais simbolismos estava justamente na comunicação de todos
os aspectos de um filme e não simplesmente na aniquilação de uma história em
detrimento de impacto imagético –, sendo, na verdade, por muitas vezes machista
e de um mau gosto terrível. (E RECOMENDO QUE NÃO LEIA O
PRÓXIMO PARÁGRAFO CASO NÃO TENHA VISTO O FILME!)
A própria transformação da protagonista ocorrida na metade
do filme, além de ser extremamente forçada e abrupta, reforça um estereótipo
doloroso de que aquilo se dá quando a garota se entrega a sua feminilidade (egocêntrica
e competitiva, na perspectiva dos realizadores) ao desfilar na passarela em
direção a um triângulo invertido, que é o símbolo do “feminino”, e que passa do
azul para o vermelho, numa transição que denota a sua entrega a cor do desejo e
da vaidade. Se nesse ponto o filme está nos mostrando a protagonista abraçando
a sua sexualidade e egocentrismo (ela chega a beijar sua imagem num espelho), é
alarmante o fato de que a partir disto ela logo se torna uma pessoa fria com
seu amigo fotógrafo que, apaixonado por ela e tendo ajudado-a em um momento
difícil, agora é meramente desprezado por Jesse. Some a isso o fato de que o desejo sexual irrefreável de Ruby (Jena Malone em atuação segura) é retratado com um caráter de periculosidade, já que é o impulso para a sequencia de perseguição e canibalismo na mansão, além a tentativa da personagem de forçar Jesse a transar com ela e da sequencia necrófila, e pode se ter uma ideia do que o filme tem a dizer sobre o desejo sexual das mulheres.
Como já é de praxe num filme de NWR, a fotografia (obra de Natahsa
Braier) em “Demônio de Neon” é impecável, com as variações certas de iluminação
que trazem o peso onírico desejado, ao passo em que também revela as texturas e
jogo de luz completamente artificial e que evoca o aspecto de “neon” até mesmo
em lâmpadas simples, revelando-se um deleite para os olhos. O filme conta ainda
com uma trilha sonora caótica que aposta na combinação eletrônica dos mais
variados instrumentos musicais (ouve-se sintetizadores, flautas e guitarras,
por exemplo.) que se por vezes soa cafona e invasiva – são poucos os segundos
de silêncio no filme – pelo menos revela-se também completamente proposital. É sintomático que o filme de Nicolas Windin Refn como um todo deixe um gosto amargo ainda com sua objetificação de suas atrizes, mesmo que isto também se revele aparentemente proposital não é menos repulsivo e criticável a quem aborda a antropofagia do mundo da
moda com tamanho olhar pornográfico.
Por Han Solo
Ruim
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