(Light Between Oceans)
Drama/Romance
Data de Estreia no Brasil: 03/11/2016
Direção: Derek Cianfrance
Distribuição: Paris Filmes
É difícil saber por onde começar quando se trata
de escrever sobre “A Luz Entre Oceanos”. É um filme bonito em seus aspectos
técnicos mais básicos, porém pouco impactante. O longa dirigido por Derek Cianfrance
tinha potencial para ser um sério candidato ao oscar (suas temáticas são um
prato cheio para os membros da academia) ao mesmo tempo que também poderia ser
um melodrama ridículo e aborrecido. Da forma com que foi construído, o filme traz, sim, a aura de um melodrama vencedor do oscar de melhor filme, mas
sempre de forma tão pouco provocativa e que parece ter tão pouco a dizer que
paradoxalmente, embora se desenvolva de forma lenta, possui um desfecho
atropelado e repentino.
O mais impressionante de tal resultado é o fato de
que os principais envolvidos com o longa parecem desempenhar suas tarefas com
coerência, afastando a película de ser de maneira alguma ruim. Assim, temos a construção impecável de
Michael Fassbender como Tom Sherbourne, um veterano da primeira guerra mundial
que vai trabalhar em um farol na Austria. Lá conhece e casa-se com Isabel
Graysmark (Alicia Vikander) com ambos indo morar na ilha do farol onde decidem
começar suas vidas juntos – e o filme aqui faz uma construção belíssima dos
laços afetivos do casal, o que será importantíssimo para o desenrolar do filme.
Com Isabel sofrendo de abortos espontâneos, certo dia o casal encontra um
pequeno bote com um recém nascido e um homem morto dentro, fazendo com que
Isabel e Tom adotem o bebê e guardem em segredo a origem da criança até que o sentimento de
culpa e certas revelações gerem obstáculos a felicidade daquela família.
E se escrevo “certas revelações” é para que o
leitor vá para a sala de projeção sem saber exatamente o que acontecerá, pois
se souber terá que aguentar cerca de 40 minutos de projeção para que algum
conflito (já esperado) se instaure, e ainda mais tempo para que se desenvolva
de alguma maneira reveladora, já que o roteiro (escrito também por Cianfrance a
partir de livro homônimo de M.L. Stedman) se estabelece numa estrutura interessante pela
caracterização dos indivíduos no filme, mas fraco e repetitivo na construção de
personagens a partir de seus conflitos. Assim, Isabel acaba ficando presa a sua
obstinação por ser mãe que simplesmente se reforça ao longo do filme, até mesmo a Hannah de Rachel Weisz acaba se estabelecendo como uma figura trágica, mas que
ganha pouquíssimo desenvolvimento – e quando ganha algum destaque acaba se
mostrando redundante e desnecessário por ser abordado em forma de flashbacks.
Quem acaba ganhando o verdadeiro holofote em
complexidade é mesmo o Tom Sherbourne de Fassbender. Vivendo sempre num limbo de culpa
aparentemente até mesmo pela felicidade encontrada em sua esposa, Sherbourne
apresenta um ar introspectivo característico de veteranos de guerra em filmes,
mas com certa intensidade que nos da a percepção de que os atos polidos e
calmos são muito mais um auto condicionamento por parte daquele homem (como se
possuísse medo de explodir) do que somente por traumas que o abalaram. Mas ainda
assim o roteiro parece perder uma grande oportunidade em elevar a complexidade
de seu personagem em suas atitudes de claro caráter autodestrutivo. Sim, aqui e
ali o personagem verbaliza tal perspectiva que ele possui de si mesmo, mas ao
se encontrar em conflitos internos a possibilidade de tal abordagem é muito
pouco explorada. Ainda, até mesmo a motivação do protagonista recai sempre para
uma racionalização, enquanto a própria motivação de sua esposa parece sempre
recair para um aparente instinto materno (humpf!), algo que se fosse explorado
na perspectiva do ex-combatente daria ainda mais dimensão para seus atos
Ao menos quando se concentra em estabelecer as
nuances de cada caracterização destes personagens o roteiro se sai muito
melhor, desde a impulsividade de Isabel que vai se desdobrando, até mesmo a
falta de felicidade de Tom – e somente um ator do calibre de Michael Fassbender
poderia esboçar um sorriso revelador que mistura felicidade e agonia, ao se ver
pela primeira vez sozinho e em tranquilidade após a guerra. Assim, o departamento
de figurino do filme faz um trabalho esplendoroso ao trazer nas roupas da
protagonista seu próprio arco dramático, sendo um verdadeiro primor a forma
gradativa com que Vikander consegue entregar os sentimentos de sua personagem.
Além disso, o próprio caráter cíclico envolvendo uma temática do passado de
guerra na vida de Tom merece aplausos por se estabelecer sem chamar a atenção para a sua inclusão.
Fazendo um trabalho de direção apenas correto
(igual a seu trabalho como roteirista) Derek Cianfrance merece congratulações
por suas composições contra luz que se beneficiam das estonteantes belezas
naturais das locações onde o filme foi gravado, sabendo trazer tanto uma aura
melancólica quando romântica quando é necessário ao filme. Porém, o cineasta
perde oportunidades inacreditáveis de seu filme brilhar com as atuações de seus
atores, já que Cianfrance aposta sempre em planos muito fechados. Embora estes
demonstrem uma atmosfera claustrofóbica, o diretor poderia ao menos tirar
proveito de seu estupendo elenco com alguns “planos conjuntos” um pouco mais
longos que dariam mais liberdade de atuação para com que os atores fizessem a
emoção aflorar, o que daria também a bela trilha sonora de Alexdra Desplat (um
dos melhores compositores no meio hoje) a oportunidade para ser mais incisiva em
suas emoções ao invés de ficar relegada a construções de montagem em passagens
de tempo.
Com
uma reconstrução de época simples e extremamente poderosa por ser evocativa, “A
Luz Entre Oceanos” ainda é um filme visualmente interessante pela fotografia
linda e também evocativa de Adam Arkapaw, que sabe explorar sempre bem a luz de
um por ou nascer do Sol. Mesmo com tais pontos positivos, o filme ainda nos frustra em seu desfecho
anticlimático que nos leva para fora da sala de cinema com uma constipação
emocional. Após prometer um desenvolvimento impactante e emocionante ao longo
de sua projeção, o longa nos deixa com um gosto de artificialidade por se
entregar às soluções mais rápidas e fáceis, com o espectador tendo que se
despedir de um(a) personagem de maneira abrupta, o que retira muito do potencial
dramático do filme. Falta coragem ao longa de Cianfrance de admitir-se como o dramalhão
de oscar que ele realmente é.
Bom
Por Han Solo
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