(Train to Busan)
Data de Estreia no Brasil: 29/12/2016
Direção: Sang-ho Yeon
Distribuição: Paris Filmes
Apesar da forte presença dos zumbis na cultura popular nos últimos anos, é difícil encontrar bons filmes do gênero feitos nos últimos dez anos. Chovem filmes thrash que não sabem lidar com as criaturas como ameaças e antagonistas, explorando-as como mera desculpa para o gore ou mostrar o quanto um personagem é badass (estou falando de você, "Resident Evil"). O grande mérito deste novo "Invasão Zumbi", portanto, é recuperar o antigo significado de crítica social elaborado por George A. Romero em sua clássica franquia de zumbis dos anos 1960. O roteiro escrito pelo diretor Sang-ho Yeon acompanha Yoo Gong, um empresário bem-sucedido e pai ausente que cede ao desejo de sua filha Soo-an Kim e decide levá-la de trem até sua ex-esposa em Busan (daí vem o título em inglês). Logo após o embarque os personagens começam a perceber que alguns dos passageiros não estão se comportando de forma muito "normal", ou seja, estão pulando no pescoço de outras pessoas.
A adaptação brasileira do título transmite uma impressão errada sobre o filme, passando a ideia de que trata-se de um gore sobre zumbis. Na contramão disso, "Invasão Zumbi" é um drama e um filme de ação que se utiliza das criaturas sem torná-las o foco de toda a narrativa. A película sul-coreana funciona como uma mistura do inteligente roteiro de "Contágio" (2011) e a ação em níveis de "Snowpiercer" (2014). Yeon consegue encontrar um equilíbrio muito eficiente entre um drama familiar de estudo de personagens e grandiosas sequências de ação dentro do trem. A edição e montagem do filme tem um timing muito aguçado, sabendo o momento preciso de mover os elementos da trama e gerando um tudo conciso e dinâmico.
A principal façanha de "Invasão Zumbi" é constituir sequências que ultrapassam a mera ação sem cérebro para constituir verdadeiros estudos de personalidade e críticas sociais. Enquanto os clássicos filmes de Romero utilizavam-se dos zumbis para estabelecer paralelos entre sua falta de vida e o consumismo da sociedade norte-americana, "Invasão Zumbi" faz algo parecido seguindo um caminho distinto. Utilizando-se da figura de um empresário da bolsa de valores como protagonista, o filme tece um interessante comentário sobre a aparente falta de empatia demonstrada pela humanidade. O filme nos apresenta regularmente cenas em que personagens tem a chance de correr por suas próprias vidas ou ficar para salvar alguém. Nestes momentos, a agressividade dos personagens para com seus pares é equiparada a das "criaturas" para criar algumas das melhores cenas que "Invasão Zumbi" tem a oferecer.
Sang-ho Yeon sabe aproveitar muito bem de forma visual tudo aquilo que seu roteiro proporciona, fazendo um uso eficiente da câmera lenta para transmitir uma mensagem, seja sobre emoções humanas ou a ausência delas. O diretor utiliza também de variadas técnicas, como por exemplo uma boa variação entre planos abertos e fechados, que ressaltam ao mesmo tempo o contraste e aproximação entre humanos e zumbis. As criaturas, por falar nelas, tem uma estética muito bem produzida. O time responsável pelos zumbis faz um uso muito competente da maquiagem para criar um visual bastante marcante para os mortos-vivos, que ao mesmo tempo não os deixa artificiais demais, erro cometido pelo recente "Guerra Mundial Z", por exemplo. A maquiagem empregada deixa-os na medida exata entre parecerem irreais demais e serem muito facilmente confundidos com humanos. Sua semelhança conosco, aliás, só faz o terror aumentar, tanto no sentido real quanto metafórico.
Mérito deve ser dado também às atuações, principalmente dos encarregados de interpretar os zumbis, que o fazem de forma extremamente competente, em um tipo de agressividade convulsionada que é absolutamente aterrorizadora. Há uma cena muito bonita mais ao fim do filme que utiliza todos estes elementos a seu proveito. O principal problema de "Invasão Zumbi", aliás, é que este final demora muito a chegar. A duração de 120 minutos é cansativa em alguns pontos, principalmente durante o terceiro ato. Uma resolução mais rápida poderia diminuir a duração do filme e deixar seu ritmo mais leve. Independente destes pequenos problemas de montagem, "Invasão Zumbi" é seguramente um dos melhores filmes de terror do ano e de zumbis da década, possuindo a sutileza de utilizar as criaturas com o subtexto que as popularizou no cinema. O momento mais aterrorizante do filme é quando nos colocamos na situação dos personagens e percebemos que não somos tão diferentes das criaturas quanto gostaríamos de pensar.
Ótimo
Por Obi-Wan
A adaptação brasileira do título transmite uma impressão errada sobre o filme, passando a ideia de que trata-se de um gore sobre zumbis. Na contramão disso, "Invasão Zumbi" é um drama e um filme de ação que se utiliza das criaturas sem torná-las o foco de toda a narrativa. A película sul-coreana funciona como uma mistura do inteligente roteiro de "Contágio" (2011) e a ação em níveis de "Snowpiercer" (2014). Yeon consegue encontrar um equilíbrio muito eficiente entre um drama familiar de estudo de personagens e grandiosas sequências de ação dentro do trem. A edição e montagem do filme tem um timing muito aguçado, sabendo o momento preciso de mover os elementos da trama e gerando um tudo conciso e dinâmico.
A principal façanha de "Invasão Zumbi" é constituir sequências que ultrapassam a mera ação sem cérebro para constituir verdadeiros estudos de personalidade e críticas sociais. Enquanto os clássicos filmes de Romero utilizavam-se dos zumbis para estabelecer paralelos entre sua falta de vida e o consumismo da sociedade norte-americana, "Invasão Zumbi" faz algo parecido seguindo um caminho distinto. Utilizando-se da figura de um empresário da bolsa de valores como protagonista, o filme tece um interessante comentário sobre a aparente falta de empatia demonstrada pela humanidade. O filme nos apresenta regularmente cenas em que personagens tem a chance de correr por suas próprias vidas ou ficar para salvar alguém. Nestes momentos, a agressividade dos personagens para com seus pares é equiparada a das "criaturas" para criar algumas das melhores cenas que "Invasão Zumbi" tem a oferecer.
Sang-ho Yeon sabe aproveitar muito bem de forma visual tudo aquilo que seu roteiro proporciona, fazendo um uso eficiente da câmera lenta para transmitir uma mensagem, seja sobre emoções humanas ou a ausência delas. O diretor utiliza também de variadas técnicas, como por exemplo uma boa variação entre planos abertos e fechados, que ressaltam ao mesmo tempo o contraste e aproximação entre humanos e zumbis. As criaturas, por falar nelas, tem uma estética muito bem produzida. O time responsável pelos zumbis faz um uso muito competente da maquiagem para criar um visual bastante marcante para os mortos-vivos, que ao mesmo tempo não os deixa artificiais demais, erro cometido pelo recente "Guerra Mundial Z", por exemplo. A maquiagem empregada deixa-os na medida exata entre parecerem irreais demais e serem muito facilmente confundidos com humanos. Sua semelhança conosco, aliás, só faz o terror aumentar, tanto no sentido real quanto metafórico.
Mérito deve ser dado também às atuações, principalmente dos encarregados de interpretar os zumbis, que o fazem de forma extremamente competente, em um tipo de agressividade convulsionada que é absolutamente aterrorizadora. Há uma cena muito bonita mais ao fim do filme que utiliza todos estes elementos a seu proveito. O principal problema de "Invasão Zumbi", aliás, é que este final demora muito a chegar. A duração de 120 minutos é cansativa em alguns pontos, principalmente durante o terceiro ato. Uma resolução mais rápida poderia diminuir a duração do filme e deixar seu ritmo mais leve. Independente destes pequenos problemas de montagem, "Invasão Zumbi" é seguramente um dos melhores filmes de terror do ano e de zumbis da década, possuindo a sutileza de utilizar as criaturas com o subtexto que as popularizou no cinema. O momento mais aterrorizante do filme é quando nos colocamos na situação dos personagens e percebemos que não somos tão diferentes das criaturas quanto gostaríamos de pensar.
Ótimo
Por Obi-Wan
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