domingo, 11 de dezembro de 2016

Crítica: "Sing"

Sing: Quem Canta Seus Males Espanta
(Sing)
Data de Estreia no Brasil: 22/12/2016
Direção: Garth Jennings, Christophe Lourdelet
Distribuição: Universal Pictures


          A fábula é uma das mais antigas formas encontradas pela humanidade para transmitir ensinamentos a crianças. Por algum motivo, animais falantes são uma forma eficaz de transmitir a famosa "moral da história". Sendo assim, é um fenômeno nada incompreensível o fato de "Sing" ser o quinto filme de animação com animais falantes de 2016 a ter uma crítica neste blog (os outros são: "Zootopia", "Angry Birds", "Procurando Dory", e "Pets"). Destes que citei acima, "Zootopia" destaca-se por sua genialidade ao explorar importantes problemas sociais através de inteligentes metáforas entre predadores e presas. Por outro lado, "Pets" é um filme absolutamente sem graça e totalmente formulaico. Em termos de qualidade, "Sing" fica no meio termo entre estes dois títulos.

           O roteiro elaborado por Garth Jennings acompanha os sonhos de grandeza artística do coala Buster Moon, nome interessante que faz uma homenagem bacana aos primórdios de Hollywood, misturando o nome do comediante Buster Keaton e o título de um dos primeiros filmes do grande George Mélliès, "A Trip to The Moon". Tal nome combina com o personagem, uma vez que Moon é o dono de um grandioso antigo teatro que se encontra em um estado de profunda decadência. Tal qual seu teatro, Moon também possui dificuldades em manter seus espetáculos funcionando, enfrentando graves problemas financeiros. Tentando sair de tal crise, Moon elabora um concurso de cantores amadores que em sua visão atrairia um enorme público interessado em assisti-lo e participar dele.
       "Sing" apresenta um primeiro ato extremamente promissor, utilizando-se de transições de cena muito criativas para explorar seus vários personagens, todos aspirantes a cantores que encontram uma oportunidade no concurso promovido por Moon. O filme consegue de maneira eficiente apresentar personagens variados e com personalidades e situações de vida muito bem definidas, conseguindo ao mesmo tempo interessar e informar o público. A convergência destes diferentes animais para um único lugar faz sentido para a principal temática do filme, tornando-o semelhante a um grande coral ou musical, onde cada participante se prepara individualmente para aparecer no espetáculo final.
            Preciso destacar que apesar da temática, "Sing" (felizmente) não é um musical. A música é muito presente no filme e se manifesta das mais diversas formas, porém a história não é contada a partir de grandes espetáculos musicados, como boa parte dos filmes clássicos da Disney faziam. "Sing" utiliza-se majoritariamente de diálogos entre seus personagens principais para explorar os problemas e a personalidade de cada um. Dentre estes dramas pessoais, gosto particularmente do personagem de Jhonny, um gorila que é obrigado por seu pai a participar de roubos com sua gangue. O anseio de Jhonny por seguir uma carreira na música contraria a vontade e os ideais de masculinidade de seu pai e gera um subtexto muito interessante, funcionando como uma metáfora para a homossexualidade.
        Por outro lado, "Sing" faz constante uso de estereótipos de gênero, estruturando figuras femininas com personalidades clichês e submissas. Ao abordar a vida de Rosita, uma "dona de casa" que passa seu dia inteiro cuidando do marido e dos 23 filhos, o filme foge de maneira covarde de tal problema, criando um solução absolutamente irreal para que a personagem possa cuidar de tudo isso e ainda participar dos ensaios. Há uma certa "libertação" da personagem no final, mas é algo muito superficial e apenas simbólico. 
             "Sing" perde bastante força em seu terceiro ato, enveredando por um caminho absolutamente previsível em uma estrutura de roteiro que já foi explorada à exaustão por animações e outros filmes infantis, desperdiçando muito do potencial fornecido pelo forte primeiro ato. No entanto, quando observamos o quadro geral, "Sing" ainda consegue envolver com bons personagens e competentes momentos cômicos, conseguindo constituir situações memoráveis apesar de seu roteiro formulaico. A versão brasileira faz também um bom trabalho ao optar por traduzir algumas músicas que são importantes ao arco dramático dos personagens, deixando as demais na versão original. As dublagens são surpreendentemente boas se levarmos em conta o fato de a maior parte das personagens ter sido dublada por cantores e não dubladores profissionais (a triste exceção é Sandy, tão incapaz de atuar como é de cantar). Estreando no país dia 22 de dezembro, "Sing" é uma ótima opção para os pais buscando um divertido entretenimento para seus filhos que estão em férias escolares. Para os demais públicos, "Sing" é apenas um bom filme.









Bom

Por Obi-Wan

Nenhum comentário:

Postar um comentário