terça-feira, 5 de julho de 2016

Crítica: "Procurando Dory"

Procurando Dory
(Finding Dory)
Animação/Comédia
Estreia no Brasil: 30 de Junho de 2016
Distribuição: Disney/Buena Vista
Direção: Andrew Stanton

Se você é fã de "Procurando Nemo" (ou faz parte do público alvo desta sequencia) é quase certo que gostará do mais novo longa da Pixar, afinal "Procurando Dory" é uma obra que de forma alguma inova e parece a todo momento apelar para as emoções nostálgicas referentes ao primeiro filme, mas isso não a impede de ser profundamente tocante, muito divertida e uma verdadeira maravilha técnica de animação. É óbvio que ao longo do caminho é fácil de perceber como que, aqui e ali, rostos conhecidos de personagens queridos surgem meramente como um "fan service" desnecessário à história, mas que inevitavelmente deixarão um leve sorriso no seu rosto como se tivesse acabado de ouvir a mesma velha piada de um grande amigo de outros tempos.


E quando digo outros tempos me refiro à exatos 13 anos (você leu e entendeu certo... Você tá ficando velho...) quando "Procurando Nemo" foi lançado e se tornou um verdadeiro sucesso, mesmo que com suas imperfeições estruturais de road movie, contando não só com uma trama bem estabelecida, mas também com um personagem coadjuvante que representava um alívio cômico tão bom que chega a ser inacreditável que demoraram tantos anos para a produção do seu spin-off (13 anos... Meu senhor...). Assim, a nova aventura marítima se passa um ano após os acontecimentos do longa de 2003 (13 ANOOOOS AHHHH!) quando Dory resolve sair em busca de sua família logo após ter diversos flashes de memória com esta. Acompanhada dos peixes palhaços Marlin e Nemo, Dory conta ainda com a ajuda do polvo Hank - o coadjuvante carismático da vez.
Formulado a partir de pequenos obstáculos sendo apresentados e ultrapassados um de cada vez, "Procurando Dory" possui em cada pequeno seguimento tanto virtudes quanto defeitos: por um lado, cada desafio enfrentado pelos peixes é sempre muito bem estabelecido e fornece uma peça importante pro quebra cabeça (tudo temperado com os problemas de memória da nossa querida protagonista), movimentando a narrativa e satisfazendo o espectador; por outro, fica evidente o caráter seguimentado do longa ficando fácil de prever como cada episódio levará pra uma próxima pista, algo que se torna ainda mais problemático por ser extremamente fácil de se imaginar qual será o desfecho dos nossos personagens - particularmente, o arco dramático de Hank é fragilmente previsível.
Além disso, a presença constante dos protagonistas do primeiro filme torna-se não só repetitiva quando comparada com os seus arcos no longa anterior, como também completamente desnecessárias para o andar da história, representando somente uma distração e uma justificativa ilusória do título "Procurando Dory". O que se destaca em meio a qualquer defeito é realmente a bem sucedida transição de Dory de um alívio cômico "fofo" para uma protagonista com motivações e medos convincentes, algo presente até mesmo a perda de memória recente da personagem, que se no filme anterior gerava o riso e era usado moderadamente como profundidade dramática, neste se mostra um real drama para a protagonista (algo importantíssimo para gerar empatia) ainda proporcionando sim boas risadas.
Ainda assim, não posso deixar de contestar a casualidade com a qual os realizadores praticamente repetem a estrutura do filme anterior, algo ainda mais escancarado em seu ato final no qual o filme parece não se interessar em ser meramente original e se atirar na mesma estrutura de climax que funcionava tão bem no seu filme antecessor. De qualquer forma, devo dizer que por mais que tais aspectos de roteiro sejam frustrantes em sua demonstração de "mais do mesmo", isoladamente os eventos retratados funcionam como uma conclusão da história, contando com boas risadas e possíveis lágrimas para o espectador (emocionando a criança dentro de você há 13 ANOS).
Mas os elogios não se devem somente aos personagens, mas aos realizadores desta produção que conseguem de maneira simples demonstrar todo um cuidado por trás de cada frame. Notem como, a cada onda de água ao redor dos peixes quando estes estão com a cabeça fora d'água, o reflexo destes sofre pequenas alterações que dão um caráter mais realista para a animação digital. Até mesmo a caracterização que trás leves marcas no corpo dos animais salientando se possuem escamas ou não, ou mesmo o formato da barbatana dos peixes que remetem à cortes de cabelos ou penteados humanos. Em cada detalhe nota-se a entrega do diretor Andrew Stanton e de sua equipe para proporcionar uma experiência esteticamente perfeita, contando ainda com dois momentos nos quais se faz o uso de uma "câmera subjetiva" para mostrar toda a desorientação de uma determinada personagem.
Talvez o melhor exemplo de convergência de todas as qualidades esteja mesmo na sequencia, logo no começo do filme, na qual acompanhamos Dory desde a infância (o bebê peixe mais fofo que o cinema já viu) até o seu encontro com Marlin, quando este perseguia o barco que raptara seu filho: com uma montagem ágil "Procurando Dory" parte de boas risadas para momentos profundamente tocantes enquanto caminha por trajetos seguros e nostálgicos. Um resumo que pode ser feito também quanto ao filme num todo, mas com um adendo de que ao ganhar na nostalgia o filme peca em falta de originalidade.






Bom

Por Han Solo

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