sexta-feira, 29 de julho de 2016

Crítica: "Batman - A Piada Mortal"

Batman - A Piada Mortal
(Batman - The Killing Joke)
Animação/Ação
Data de Estreia no Brasil: 25/07/2016
Direção: Sam Liu

Adaptar uma obra famosa e adorada fervorosamente por milhares de fãs é sempre uma tarefa difícil. O roteirista fica encarregado de não só transpor a essência da obra original com fidelidade, mas também lhe cabe a tarefa de adaptar a linguagem, de se fazer valer a transposição para o cinema sem soar meramente como uma cópia desnecessária do material fonte. Sendo assim, a categoria de "melhor roteiro adaptado" presente em tantas premiações do cinema já trás justamente em seu nome o ponto principal de uma adaptação: não deveria se estar julgando quem adaptou melhor um livro, por exemplo, para um roteiro de cinema, mas sim o melhor roteiro de cinema (em questões de coerência, estrutura, fluidez, etc...) que se originou de uma outra obra.

Neste Aspecto "Batman - A Piada Mortal" é tanto um grande acerto quanto um tremendo fracasso, já que podemos compreender não só as intenções dos realizadores ao tentarem acrescentar cenas e passagens à famosa HQ da DC para que o filme se justifique como uma obra independente da leitura ou não desta, ao mesmo tempo em que é inegável como a grande maioria dos caminhos traçados pelos realizadores soa clichê, completamente descartável e incrivelmente machista. No fim das contas, tais adições diluem a narrativa brilhante criada por Alam Moore e Brian Bolland, lançada em 1988, e que conta com uma das melhores histórias de embate ideológico e psicológico entre o Batman e o Coringa, sendo que o plano deste é provar que basta um único dia ruim para enlouquecer uma pessoa, para corrompê-la.
De cara o que mais prejudica o andar do filme é seu primeiro ato completamente enfadonho. Procurando dar maior destaque para a figura da BatGirl (numa busca compreensível de ampliar as repercussões dos acontecimentos do decorrer da história), o filme peca justamente por fazer um desserviço com a personagem, transformando-a no esteriótipo da mulher obcecada por relacionamentos, que não sabe separar trabalho de relações pessoais, apostando ainda numa tensão sexual entre a personagem e o homem morcego que é completamente descartável para a narrativa. Na verdade, todo este primeiro segmento do filme se mostra completamente descartável, contando ainda com um fade out  que deixa claro o caráter de prelúdio que estes primeiros 30 minutos de filme possuem.
Porém, quando o filme engata realmente na história base de Alam Moore este se transforma completamente em seu tom, conseguindo transferir com brilhantismo toda a base argumentativa do Coringa, ampliando ainda com muito sucesso vários segmentos de diálogos e passagens famosas que tornam mais perceptíveis verbalmente os temas presentes na HQ, sem que com isso soe didático demais ou expositivo, algo que representa um verdadeiro acerto do roteirista Brian Azzarello. O material escrito do filme acaba sendo elevado justamente por possuir um elenco de dubladores não só extremamente competentes, mas também completamente familiarizados com seus personagens, representando um verdadeiro destaque, como não podia deixar de ser, a composição vocal de Kevin Conroy como Batman e a de Mark Hamill como Coringa.
Enquanto Conroy faz seu trabalho com personalidade e solidez, não soando referencial demais a outras interpretações do vigilante mascarado no cinema e nem mesmo destoante da própria personalidade característica deste personagem, Hamill sabe bem como buscar a variação de voz de seu personagem, fazendo as pausas perfeitas e dicção eficaz para dar todas as variações da mente do palhaço psicopata - e o filme inclui ainda uma referência divertida ao "Cavaleiro das Trevas" de Nolan ao apresentar uma foto que é retirada diretamente da famosa cena de aplauso na prisão, numa decisão divertida do diretor Sam Liu. O diretor acerta ainda ao recriar diversos quadros da HQ no momento perfeito, combinando não só um apelo para os fãs do quadrinho, como também por saber da força que os desenhos de Holland possuem (a famosa cena do tiro e a reconstituição da história de origem do Corgina, particularmente, chamam a atenção). 
Porém, quando olhado num panorama total é impossível não ressaltar o aspecto decepcionante que a animação possui, parecendo sempre um episódio estendido de um programa de TV com sua técnica simplória, destoando os bons enquadramentos escolhidos para a produção e o cuidado na construção da sequencia de frames na cena em si. Ainda que as sequencias de ação sejam montadas com certa energia, é inaceitável que o quadrinho original carregue 90% das qualidades que este filme possui e quase nenhuma de suas falhas. Se ao adaptar-se como filme a obra de Moore e Holland funcionam muito bem, são justamente as ideias estruturais novas no roteiro que se tornam falhas e gratuitas.






Bom

Por Han Solo

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