quarta-feira, 6 de julho de 2016

Crítica: "Julieta"

Julieta
Data de Estreia no Brasil: 07/07/2016
Direção: Pedro Almodóvar
Distribuição: Sony Pictures Classics


     Novo filme do famoso diretor Pedro Almodóvar, Julieta contém algumas de suas melhores características como diretor, mas também algumas de suas piores como roteirista. O filme acompanha a personagem principal, que lhe dá seu título, em uma rememoração dos últimos anos de sua vida, enquanto ela alenta a esperança de encontrar sua filha Antía, a quem não vê há mais de doze anos. O grande motor da narrativa é o sentimento de descoberta. Encontramos uma Julieta alegre, aparentemente resoluta e pronta para dar um novo rumo para sua vida com uma mudança para Portugal. Porém, um encontro com uma amiga de infância de sua filha faz com que ela desenterre todos os sentimentos que havia se esforçado para suprimir, levando-a a retraçar a trajetória que a levou ao ponto que se encontra em sua vida.
          "Julieta" tem um começo muito forte, mostrando situações e personagens muito envolventes, deixando sempre na platéia uma grande curiosidade em saber mais sobre o que está sendo mostrado. Os primeiros momentos de flashback são excelentes, construindo uma personalidade muito "viva" e complexa para Julieta, conseguindo construir uma relação entre ela e Xoan, seu futuro marido, que soa muito orgânica. A maneira como a vida de Julieta se desenvolve a partir daí consegue envolver completamente, nos fazendo se importar com os personagens e seus dramas, simpatizando com eles e torcendo por seu sucesso. Neste primeiro momento, os exageros do estilo "novelesco" de Almodóvar funcionam perfeitamente.
           O principal problema do filme está em sua transição para o presente da narrativa. Há um determinado acontecimento na vida de Julieta, que a transforma completamente e também a relação que mantém com Antía. A partir deste ponto o roteiro do filme se perde, sendo incapaz de manter muito daquela empatia e interesse que sentíamos pela história que se propunha a contar. As motivações dos personagens passam a ser mal explicadas e a soar artificiais demais, com exageros que fortalecem a sensação de que tudo é roteirizado, que serve ao propósito da história que se tenta contar. Esse mal desenvolvimento da história a partir daí influencia negativamente também o que vemos no presente de Julieta, tornando artificial e distante uma personagem que antes parecia tão real. Credito muito dessa mudança a escolha equivocada, na minha opinião, de mudar a atriz que interpreta a personagem principal durante a narrativa. Isso acontece de maneira criativa, mas não justifica uma decisão que tira muito daquela organicidade da história.
             Há de se destacar que apesar das falhas de roteiro, "Julieta" é um primor visual. Almodóvar sabe utilizar cores e metáforas visuais de maneira muito interessante, com cada enquadramento de câmera ajudando a contar a história de maneira subjetiva. No começo do filme temos a predominância de closes extremamente fechados nos personagens, dando uma sensação de proximidade, e movimentos de câmera constantes, que dão uma impressão de algo vivo, enérgico. Mais para o final, com a mudança de rumo da narrativa, os personagens são vistos com maior distância e a filmagem se torna mais estática, buscando inverter nosso sentimento em relação ao filme. Há também um importante uso da cor vermelha, destacando emoções e sempre chamando nossa atenção para algo importante.
          A mudança de panorama entre a primeira e a segunda metade do filme são provavelmente propositais, buscando dar uma ideia de uma história que é recontada com pedaços faltando, com uma percepção do presente afetando a maneira que se lembra do passado. Porém, a decisão acaba se demonstrando um tiro no pé, perdendo toda a essência do filme na mudança, fazendo com que nos importemos cada vez menos com o que estamos vendo. A dinâmica de obsessão através da culpa é bem explorada em "Julieta", resultando em um bom filme, mas é difícil não pensar que Almodóvar pode fazer (e já fez) filmes muito melhores com a mesma temática e estilo.








Bom


Por Obi-Wan

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