domingo, 8 de março de 2015

Crítica: "Kingsman: Serviço Secreto"

Kingsman: Serviço Secreto
(Kingsman: The Secret Service)
Ação/Aventura/Comédia- 2015 (Estados Unidos)
Data de Estreia no Brasil: 05/03/2015
Direção: Matthew Vaughn
Distribuidora: Twentieth Century Fox Film Corporation


    Já se tornou lugar comum estabelecer comparações entre "Kingsman" e "Kick-Ass", porém as enormes semelhanças entre os dois filmes torna impossível não colocá-los lado a lado. Ambos são fruto de uma pareceria entre o diretor Matthew Vaughn e o escritor Mark Millar, autor das Graphic Novels que deram origem aos dois filmes.
     Por conta disso, fui ao cinema sabendo exatamente o que esperar de "Kingsman". E certamente, não me decepcionei. Assim como "Kick-Ass", "Kingsman" consegue o incrível feito de homenagear e ao mesmo tempo parodiar os filmes em que se baseia, desenvolvendo sua própria história no processo. Enquanto o filme de 2010 funciona como uma paródia do gênero dos filmes de super-herói, o novo filme de Vaungh tem inúmeras referências aos antigos filmes de espionagem, principalmente os filmes mais antigos da franquia James Bond, conseguindo a admirável façanha de ao mesmo tempo criar uma interessantíssima e irreverente narrativa própria.


      Todos os personagens de "Kingsman" são muito bem escritos e desenvolvidos, conseguindo ao mesmo tempo seguir certas fórmulas do gênero de espionagem e ainda assim manter sua originalidade e deixar sua marca. A já tradicional fórmula do novato que é introduzido a uma grande organização secreta é revigorada em "Kingsman", que se utiliza de interessantes artifícios de roteiro para manter a trama do filme sempre interessante, utilizando-se de clichês do gênero, sim, mas sempre sendo completamente sincero e bem-humorado quanto a isso.
         "Kingsman" deve essa originalidade principalmente a três fatores. O primeiro, como já citado, seu incrível roteiro. Porém, o filme dificilmente funcionaria tão bem sem a interessantíssima direção de Matthew Vaughn. Não há ninguém em Hollywood no momento que consiga filmar cenas de ação com tamanho número de elementos acontecendo em cena com a competência de Vaughn (Christopher Nolan deveria ter algumas aulas particulares com ele). O diretor tem um incrível e original estilo de retratar a violência, fazendo com que cada cena de ação do filme se destaque das demais. Cada uma dessas cenas consegue atingir um incrível nível de entretenimento, e apesar de seu alto nível de violência e brutalidade, não parecer nunca deslocado do tom do restante do filme. Assim como em "Kick-Ass", e em quase todos os filmes de Quentin Tarantino, as fortes cenas de violência são tão estilizadas e absurdas que nunca chegam a chocar, apenas intrigar e divertir.
        O terceiro elemento que funciona maravilhosamente bem em "Kingsman" são as atuações. Todos os atores que participam do excelente elenco do filme entregam performances muito inspiradas, que certamente colaboram para deixar sua marca em personagens que poderiam parecer desinteressantes e clichês se mal interpretados. O protagonista do filme, Eggsy, interpretado por Taron Egerton, é um personagem extremamente interessante, que certamente merece aparecer mais em possíveis futuros filmes sobre os Kingsman. Egerton por sua vez se mostra aqui como um ótimo ator, e certamente ainda ouviremos muito esse nome nos próximos anos. Samuel L. Jackson, como sempre, marca muito sua presença no filme, interpretando um vilão extremamente excêntrico e magnético, dono de um mirabolante plano maligno, digno dos clássicos Bond vilões. Outro ponto extremamente positivo do filme são as duas principais personagens femininas, a vilã Gazelle e a outra candidata a adentrar a organização Kingsman, Roxy, que escapam completamente dos estereótipos de personagens femininas, principalmente pelo fato de o filme não tentar inventar um chato interesse amoroso entre Eggsy e Roxy, aproximando muito a dinâmica que os dois tem com a de Kick-Ass e Hit Girl.
            Agora chego no maior destaque do filme. E Colin Firth merece um parágrafo a parte. Quem teria pensado, ao assistir "O Discurso do Rei", que aquele incrível ator britânico de meia idade, muito acostumado a dramas e comédias, teria em si tamanho potencial para se tornar uma estrela de ação? Firth é em diversos momentos a alma do filme, representando tudo o que é ser um Kingsman: o tranquilo e educado britânico, um verdadeiro cavalheiro, capaz de manter um incrível sangue frio e pedir "por favor" antes de dar uma surra nos capangas. É exatamente essas maneiras super educadas de seu personagem, Galahaad, que tornam suas cenas de ação tão interessantes, pois o potencial que ele guarda dentro de si para a violência parece ser liberado somente em último caso. Os momentos em que Colin Firth se mostra como um verdadeiro astro de ação são certamente os melhores de todo o filme, combinando as incríveis coreografias executadas pelo ator com o incrível estilo gráfico de Vaughn.
           Além de tudo isso que foi comentado, a trama de "Kingsman" ainda consegue discutir de maneira muito elegante e sutil aquele que ainda é um dos maiores problemas mundiais, má distribuição de renda e desigualdade social (aparentemente Neill Blomkamp ("Elysium") também faria bom uso de umas aulinhas). Com uma trama ao mesmo tempo formulaica e incrivelmente original, "Kingsman" se trata de 129 minutos de puro entretenimento, um daqueles filmes que te fazem sair do cinema com um sorriso de orelha a orelha. Trata-se de um filme perfeito? Certamente não. Mas se "Kick-Ass" é seu tipo de filme, "Kingsman" lhe serão duas horas maravilhosamente bem gastas.

PS: assistir o filme em sua versão dublada certamente será um grande desperdício. Boa parte da dinâmica dos Kingsman e do vilão de Samuel L. Jackson se perderia sem as vozes e sotaques originais.






  
Excelente

Por Obi-Wan

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