(Inherent Vice)
Drama/Mistério/Policial - 2014 (Estados Unidos)
Data de Estreia no Brasil: 26/03/2015
Direção: Paul Thomas Anderson
Distribuidora: Warner Bros
Algumas das
palavras que saem com maior prazer da boca de um cinéfilo são “eu nunca vi isso
antes!”. Aconteceu algumas vezes como quando vi Quero ser John Malkovich, ou ao
final de 2001: Uma Odisseia no Espaço, além do momento final de Magnólia. São
momentos raros, porém que marcam definitivamente a vida de um cinéfilo, pois
tais reações de perplexidade e estranhamento são típicos de filmes amados e/ou
odiados pelo publico geral e sendo assim, deixam o filme longe de qualquer
forma de esquecimento. Eis que Paul Thomas Anderson atingiu admiravelmente este
resultado com o seu novo longa Vício Inerente, uma obra tão particular que
mesmo funcionando como a soma de filmes como Big Lebowski e Chinatown, ainda se
mostra inventiva e de certa forma original.
O filme dá
muito espaço para o desenvolvimento de seus personagens e do clima de tensão,
medo, curiosidade e principalmente a paranoia (já volto neste item) do que em
sua história que se desenrola de forma atrapalhada com dezenas de personagens
coadjuvantes e histórias paralelas, o que pode levar a grande das pessoas para
fora da sessão pensando que o filme foi ruim por não terem conseguido
acompanhar o andamento da história. Para todos eu repito, este filme não está
focado em sua trama de mistério, o grande foco da história está na criação de
uma ambientação magnífica do mundo que o personagem Doc. Sportello (Joaquin Phoenix)
e de toda a confusão massiva que representa a sua mente.
Sportello é
um detetive particular que literalmente simplesmente vive a sua vida a base de
muita maconha até o momento em que sua ex-namorada Shasta vem lhe pedir ajuda
lhe contando um plano da mulher de seu amante, e do amante desta, para sumir
com Mickey Wolfmann gerando uma série de eventos e sub tramas que realmente não
fazem diferença serem especificadas aqui. Basta se ter a noção de que o
material base do romance de Thomas Pynchon é tão rico em ambientação e criação
de seus personagens confusos e ambíguos que é um prazer (quase
sempre)presenciar seus diálogos muito fielmente adaptados para o filme.
O tom “onírico”
e “chapado” do filme são os seus motores. Tudo se encaixa nessa atmosfera,
desde o ritmo do filme, o jogo de luz e sombras (numa construção Noir
interessantíssima), a trilha sonora com clássicos dos anos 60 e 70 sem ser
composta por músicas óbvias, e as atuações que são fantásticas, merecendo um
destaque Joaquin Phoenix que está absolutamente perfeito no papel principal ,sendo
um parceiro perfeito para o “Dude” de Jeff Bridges, e Katherine Waterston que
funciona numa variação de “femme fatale” digna de nota. O restante do elenco está
todo muito afinado e todos os personagens (e olha, são muitos) têm seus
momentos.
Vendo tantos
elementos presentes num mesmo filme é fácil imaginar que este entraria em
colapso, o que chega muito perto de acontecer, mesmo, porém a mão controlada do
brilhante diretor Paul Thomas Anderson (um dos melhores da atualidade e particularmente
um dos meus favoritos de uma forma geral) é o que mantem este filme deliberadamente
confuso, porém muito bem construído. O diretor, que também assina o roteiro,
utiliza dos seus já famosos takes longos e faz uma bela composição e
administração de seus planos, fazendo com que tematicamente estes elementos
adicionem à narrativa em um dos pontos mais fortes do filme que é o embate
entre uma classe social padrão burguesa e uma onda hippie da década de 70,
sendo assim o personagem de Josh Brolin, Big-Foot, tematicamente perfeito assim
como a já antológica cena de um jantar de pizza reencenando a santa ceia. Tal
cena é breve e trabalha de forma memorável a transformação “contra-cultural” de
um elemento puramente conservador.
O que nos
leva aquele que considero ser o elemento “atmosférico” mais importante para a
narrativa, a paranoia. Seja esta criada pelo efeito das drogas, da perseguição policial
ou pela própria sociedade (e a cena do filme anticomunista no manicômio é
perfeita por isso), a paranoia está sempre nas cenas mesmo que colocada de
forma sutil, seja por um plano mais claustrofóbico, pelos diálogos ou por
figurantes que se repetem em situações especificas. A paranoia está tanto na
forma com que os eventos da narrativa se resolvem quanto nos elementos ambíguos
citados no parágrafo acima, chegando ainda a gerar uma falta de confiança do
espectador de se tudo aquilo que Doc. vê é realmente o que está acontecendo já
que eventos e imagens parecem se confundir em sua visão sem qualquer mudança de
linguagem do filme.
Mesmo sendo
um tanto quanto indulgente demais e exagere em sua duração, Vício Inerente é
sem dúvida nenhuma uma experiência diferente de qualquer outra no cinema. Não
sei se isso fará com que você goste mais ou menos do filme, posso imaginar
algumas pessoas abandonando-o no meio da história, mas é inegável a sua auto
compreensão de confusão e de que ao chegar aos créditos finais eu estava com um
sorriso (cansado, é verdade) no rosto e simplesmente pensei: “Eu nunca vi isso
antes!”.
Ótimo
Por: Han Solo
Nenhum comentário:
Postar um comentário