sábado, 29 de agosto de 2015

Crítica: "It Follows"

Corrente do Mal
(It Follows)
Horror/Suspense
Data de estréia no Brasil: 27/08/2015
Direção: David Robert Mitchell
Distribuição: RADiUS-TWC


    Ahhhhhh, as adaptações de título brasileiras e sua compulsiva atração pelo clichê. É impressionante observar o estritíssimo padrão seguido: grande parte dos títulos difíceis de se traduzir ganham um complemento genérico, que é geralmente "do amanhã" para as ficções-científicas, "do amor" para comédias românticas e "do mal" para os filmes de terror. Seguindo essa lógica, "It Follows", título que define de maneira perfeita sobre o que o filme se trata e o clima geral de suspense que o cerca, virou por aqui o genérico "Corrente do Mal", que não se mantém verdadeiro ao filme e induz uma audiência desatenta a acreditar que este se trata de um terror no sentido mais estrito do termo, cheio de ação e cenas aterrorizantes, algo que "It Follows" definitivamente não é.

         Portanto, aviso logo de cara: "It Follows" se desenrola de maneira consideravelmente lenta, com longas cenas de desenvolvimento de personagem, onde não há nenhum tipo de ameaça ou ação se desenrolando. Porém, esses momentos de suspense existem em certa abundância e são muito bem explorados por roteirista e diretor. Isso é possibilitado pela criativa e muito bem construída natureza da "assombração" que segue a personagem principal. O "It" do título em inglês é alguma espécie de criatura que está sempre perseguindo uma nova vítima, que adquire tal maldição ao ter relações sexuais com o último amaldiçoado. O mais interessante sobre a figura que persegue os amaldiçoados é o fato de que ela não corre e não desaparece somente para ressurgir do nada proporcionando os clássicos momentos de jump scare. Não, "it" anda em um ritmo extremamente lento e pode ser visto a grande distância. É exatamente isso que mais assusta e dá o tom geral de todo o filme, pois a pessoa com a maldição tem certeza de que ele está vindo, mas não há nada que possa fazer para impedi-lo, a não ser passá-lo para a pessoa seguinte.
          Assim, De forma extremamente inteligente, o roteiro subverte um dos maiores clichês moralistas do gênero de terror: do grupo de adolescentes aterrorizados pelo antagonista do filme, os primeiros a morrer são sempre os que se afastam dos demais para fazer sexo. Aqui isso é elevado a décima potência, pois somente a pessoa infectada, através do sexo, pode ver a criatura e a única forma de livrar-se dela é transando com outra pessoa. É aí que entra a "corrente do mal", unindo as várias pessoas que carregaram a doença e já a transmitiram. Se a criatura mata uma pessoa ela passa a perseguir a penúltima pessoa da corrente. Assim, não há forma de livrar-se completamente de "it", criando em torno do personagem uma grande aura de inevitabilidade, responsável por todo o suspense do filme. "It" não precisa correr, nem se apressar, de um jeito ou de outro ele vai acabar te alcançando, pois não há nenhum lugar seguro o suficiente para se esconder.
         Roteiro, direção e edição são os responsáveis por conseguir criar essa incrível aura de suspense que segue todos os personagens até o fim. Você se pega procurando por "it" em cada cena, em cada quadro, sentindo na pele uma das mais desagradáveis sensações: a de estar sendo sempre perseguido. Outro grande responsável pela criação dessa atmosfera, e um dos melhores elementos do filme, é a trilha sonora, constituída de músicas e temas que parecem ter saído diretamente de clássicos da ficção-científica, como "Blade Runner" (1982) ou do terror, como "O Exorcista" (1973), com excelentes ritmos eletrônicos e batidas pulsantes que conseguem criar um forte senso de misticismo em torno dos acontecimentos que a narrativa do filme expõe (a principal delas já é para mim clássico instantâneo do gênero, portanto a deixo abaixo).


       Outro ponto positivo é o bom elenco, algo que se tornou raridade nos filmes do gênero. Nenhum dos atores chega a comprometer em nenhum momento, mas o destaque fica mesmo por conta da protagonista, Jay, interpretada por Maika Monroe, que já havia aparecido muito bem em outro trhiller, "The Guest" (2013) (que também recomento fortemente). Em "it follows", Monroe consegue transmitir de maneira extremamente competente a situação desesperadora e amedrontadora enfrentada por sua personagem.
        Com muito mais acertos do que erros, "It Follows" traz um novo fôlego extremamente bem-vindo a um gênero que certamente precisa deles, e felizmente os está recebendo. Talvez ele desagrade aqueles que esperam mais sustos e ação de um filme de terror, mas agradará qualquer apreciador de um bom filme. Se você pretende ir ao cinema neste final de semana, evite a bomba que é "A Entidade 2", péssima sequência de um filme que certamente não precisava de continuação, e aproveite "It Follows", pois digo sobre ele o mesmo que disse sobre "O Babadook": não se trata de apenas um bom filme de terror, mas um ótimo filme de maneira geral.





Ótimo

Por Obi-Wan

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