sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Crítica: "Victor Frankenstein"

Victor Frankenstein
Drama/Horror/Sci-Fi
Data de Estreia no Brasil: 26/11/2015
Direção: Paul McGuigan
Distribuição: Twentieth Century Fox Film Corporation


          "Frankenstein ou o Moderno Prometeu", de Mary Shelley é um dos mais conhecidos e importantes livros da história da literatura. Assim o é pois captura e explora de maneira perfeita os medos, anseios e esperanças da sociedade em que foi escrito, a Inglaterra do começo do século XIX. Como quase todo grande clássico da literatura, a história de Frankenstein já foi adaptada aos cinemas pelo menos mais de uma vez, em diferentes períodos. O que é interessante de se observar sobre essas adaptações é que, por mais fiéis que tentem ser ao livro original, todas elas acabam por ser essencialmente diferentes. Se eu havia dito que o livro representa os anseios da sociedade inglesa do século XIX, isso se aplica a cada uma de suas adaptações cinematográficas. Como indivíduos de uma determinada sociedade em um determinado período, tudo o que fazemos transparece aspectos de nossa própria cultura. Isso fica ainda mais claro quando se trata de cinema, uma forma de expressão artística, logo, cultural.

           Desde o ano passado, filmes como "I, Frankenstein" (2014) e "Dracula Untold" (2014) vem tentando trazer à uma nova geração os clássicos filmes de monstro dos anos 30, entre eles a Múmia, Dracula e o próprio Frankenstein. Nesse sentido, "Victor Frankenstein" chega aos cinemas com a difícil missão de "modernizar" uma das histórias mais clássicas de nossa cultura ocidental. Porém, diferentemente dois outros dois filmes que citei a pouco, que apostam na ação e na fantasia como seu centro, "Victor Frankenstein" traz a proposta de ser uma mistura de vários aspectos, tentando manter-se de certa forma próximo à narrativa original, aos mesmo tempo que pretende corresponder às demandas de do público atual, adicionando elementos de humor e ação, sem deixar de lado a ficção-científica (que muitos apontam ter surgido como gênero no livro de Mary Shelley).
          Confesso que entrei na sala de cinema com expectativas baixíssimas para esse filme, muito por conta do completo fracasso do filme de 2014, mas também porque os trailers não despertaram muito interesse. Para minha surpresa, os primeiros 10 minutos de Frankenstein me pareceram bastante interessantes e promissores. Isso acontece por conta da principal mudança que o filme faz em relação ao livro e ao meu ver a mais acertada. O famoso ajudante do dr. Frankenstein nos filmes antigos (e que nem existe no livro), Igor, é forma modernizado pelo personagem criado por Daniel Radcliffe, pois de certa forma traz em si preocupações contemporâneas sobre a posição dos excluídos socialmente, coisa que os filmes mais antigos não tinham. Nessa nova versão, Igor é um corcunda que vive como palhaço em um circo, sem nunca ter conhecido o que é andar como uma pessoa normal e ter sua liberdade. Victor Frankenstein o liberta de seu cativeiro e "conserta" seu problema físico, transformando-o assim em sua maior criação.
          O problema é que "Victor Frankenstein" nunca passa da promessa. Apesar de ter alguns bons momentos durante o desenrolar de sua trama e um desfecho que considero satisfatório, nenhuma dessas partes corresponde ao que os primeiros minutos do filme haviam proposto. Tirando o interessante Igor, todos os outros personagens são extremamente clichês e previsíveis, principalmente o dr. VIctor Frankenstein (James McAvoy, sempre preso à caricatura do cientista louco e obcecado por sua criação. Quase todas as situações que a narrativa cria são reaproveitadas de algum outro lugar e a magnífica discussão trazida pela obra de Mary Shalley sobre os limites da ciência em um mundo cada vez mais tecnológico é desperdiçada e reduzida a um infantil existencialismo e conflito simplista entre religião e ciência. A direção de Paul McGuigan também abusa de elementos fáceis e muito pouco originais, como flares, que enchem a tela de uma luz ofuscante, e filma cenas de ação de maneira precária e confusa.
              No fim das contas, assim como o monstro, "Victor Frankenstein" é muito mais uma junção de várias partes difusas do que uma obra realmente concisa. Tenho a impressão de que trata-se de um bom projeto, com um roteiro que continha ideias promissoras o suficiente para atrair ótimos atores como Daniel Radcliffe e James McAvoy. Porém, sua execução não foi boa o suficiente para constituir um filme realmente ótimo, que fizesse jus à história em que se baseia. De qualquer forma, apesar de reconhecer que gosto de "Victor Frankenstein" muito mais pelo que poderia ser do que pelo que realmente é, me diverti com o filme, não o considerando de forma alguma um desperdício de tempo. Assim como "Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros" (2012), "Victor Frankenstein" acerta ao não tentar se levar a sério demais e se você conseguir fazer o mesmo, provavelmente conseguirá se divertir o assistindo.









Bom

Por Obi-Wan

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