(Batman Vs Superman: Dawn of Justice)
Ação/Fantasia
Data de Estreia no Brasil: 24/03/2016
Direção: Zack Snyder
Distribuição: Warner Bros.
Por Mr. Spock
A transposição do universo dos
super heróis para o cinema pelas duas grandes gigantes dos quadrinhos – Marvel e DC – se fez
por caminhos contraditórios. Enquanto a primeira enfileirava sucessos
estrondosos de bilheteria, permeados por alguns tropeços, a segunda teve
dificuldades para fixar seus personagens nas telonas. Só no final da década
passada e no começo desta a DC, em parceria com a Warner, finalmente acertou a
mão com a trilogia Batman, dirigida por Christopher Nolan, e que restituiu ao
personagem a dignidade perdida depois dos fiascos protagonizados por Val Kilmer
e George Cloney.
Nolan assina a produção de “Batman
vs. Superman – A Origem da Justiça”, que estreia amanhã nos cinemas brasileiros.
Sua presença, no entanto, parece tímida, ofuscada pela mão forte do diretor
Zack Snyder. O filme é grandiloquente, mas isso não chega a ser, ou não é o tempo
todo, um aspecto necessariamente positivo. Esse “excesso de Zack Snyder” se desdobra
em outros pequenos excessos que pontuam o filme, alguns deles já marca
registrada do diretor, responsável pela adaptação, para o cinema, de outras
duas histórias em quadrinhos, “300” e “Watchmen”.
Há, inicialmente, o excesso de
testosterona, coisa que nem a presença de Lois Lane (Amy Adams) e da Mulher
Maravilha (Gal Gadot) – que faz quase uma participação especial –, duas figuras femininas fortes, consegue resolver. Os excessos característicos de Snyder
prosseguem nas cenas de ação, que pecam algumas pela pirotecnia; no uso algo
desmedido da câmera lenta; na trilha sonora de Hans Zimmer e, claro, na duração
do filme e seus excessivos (e desnecessários) 150 minutos!
Mesmo a tão esperada batalha entre
Batman e Superman (“os dois homens de calça justa mais famosos da cultura pop”,
segundo a Indiewire) incorre nesse pecado: se excede na pancadaria, mas sua
solução é frouxa e mal resolvida. A impressão é que os roteiristas (Chris
Terrio e David Goyer), maravilhados com a possibilidade de levar às telas o que
poucos ousaram fazer antes mesmo em outras mídias (Frank Miller, nos
quadrinhos, é certamente a melhor lembrança), e contando com amplos recursos
financeiros e tecnológicos, tivessem dado pouca atenção à necessidade de narrar
o confronto para além de sua óbvia exuberância visual.
O filme, certamente, não é
feito apenas desses excessos. Há acertos no elenco, que além de Amy Adams como
Lois Lane, traz de volta Laurence Fishburne (Perry White) e Henry Cavill (Clark
Kent/Superman) repetindo seus papéis em “O homem de aço”, também dirigido por
Snyder. Além das participações de Kevin Costner e Diane Lane, interpretando
Jonathan e Martha Kent, respectivamente, e Michael Shannon, como o General
Zod/Apocalipse.
Mas é no elenco novo que o filme
surpreende positivamente: Jeremy Irons está bem como Alfred Pennyworth, e Jesse
Eisenberg faz um bom Lex Luthor, ainda que o personagem soe um pouco deslocado
no tempo da narrativa e em relação a caracterizações anteriores de Luthor no
cinema, mais próximas ao universo dos quadrinhos. E se ainda é cedo para se
falar com mais propriedade da Mulher Maravilha de Gal Gadot, já podemos ao
menos respirar aliviados em relação ao Homem Morcego: Ben Affleck funciona como
Batman/Bruce Wayne mais envelhecidos que o personagem de Christian Bale na
trilogia de Nolan, emprestando aos personagens o ar cansado e desencantado advindos
com o passar dos anos.
Há um acerto também, a meu ver, na
aproximação sutil com os quadrinhos. Nisso, não há exagero, mas uma apropriação
bem conduzida de algumas passagens e escolhas narrativas, por exemplo, na
constante cobertura midiática dos eventos ao longo da trama, visivelmente
inspirada em “O cavaleiro das trevas”, de Frank Miller. A dupla de roteiristas
e o diretor acertaram também ao fazer uma opção mais didática – ou clássica, a
depender do ponto de vista – na apresentação dos personagens.
Se pode soar repetitivo aos mais
familiarizados com o Universo DC o trauma de infância de Bruce Wayne/Batman,
órfão de pai e mãe desde muito cedo; e a sensação de deslocamento de Clark
Kent/Superman, um alienígena entre humanos, na Terra, o didatismo pode ser útil
aquela parcela do público que vai ao cinema sem conhecer o suficiente dos quadrinhos.
Mesmo para os leitores das HQs, o filme acerta ao não complexificar demais suas
origens; atendo-se ao já conhecido, BvsS se poupa (e nos poupa) de explicações
que poderiam contabilizar mais excessos em uma lista que já tem alguns.
Uma escolha narrativa, por outro
lado, que abre espaço para o melhor do filme, a meu ver: a maneira como a história
explora os conflitos entre os dois heróis, a percepção contraditória que ambos
tem de sua “missão”, e que tanto explica o confronto como faz aparecer
sentimentos mais complexos nem sempre explorados mesmo em Batman – um humano –
e muito menos em Superman.
Uma pena que, seja pela dificuldade a fugir do estilo que o consagrou,
pelas pressões da indústria (não esqueçamos que BvsS é o prelúdio para “A Liga
da Justiça” que, por sua vez, concorre na mesma faixa que “Os Vingadores”, da
Marvel) ou por um pouco dos dois, Zack Snyder optou por manter esses aspectos
em segundo plano na trama. “Batman vs. Superman – A Origem da Justiça” é,
principalmente, uma experiência visual sem dúvida primorosa, e um bom filme de
heróis e de ação. Não é pouco, é verdade. Mas se a mão de Snyder fosse um pouco
menos pesada, penso que ele poderia ser mais que isso.
BOM
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