quarta-feira, 23 de março de 2016

Crítica: "Batman Vs Superman: A Origem da Justiça"

Batman Vs Superman: A Origem da Justiça
(Batman Vs Superman: Dawn of Justice)
Ação/Fantasia
Data de Estreia no Brasil: 24/03/2016

Direção: Zack Snyder
Distribuição: Warner Bros.


Por Mr. Spock


A transposição do universo dos super heróis para o cinema pelas duas grandes gigantes dos quadrinhos – Marvel e DC – se fez por caminhos contraditórios. Enquanto a primeira enfileirava sucessos estrondosos de bilheteria, permeados por alguns tropeços, a segunda teve dificuldades para fixar seus personagens nas telonas. Só no final da década passada e no começo desta a DC, em parceria com a Warner, finalmente acertou a mão com a trilogia Batman, dirigida por Christopher Nolan, e que restituiu ao personagem a dignidade perdida depois dos fiascos protagonizados por Val Kilmer e George Cloney.
Nolan assina a produção de “Batman vs. Superman – A Origem da Justiça”, que estreia amanhã nos cinemas brasileiros. Sua presença, no entanto, parece tímida, ofuscada pela mão forte do diretor Zack Snyder. O filme é grandiloquente, mas isso não chega a ser, ou não é o tempo todo, um aspecto necessariamente positivo. Esse “excesso de Zack Snyder” se desdobra em outros pequenos excessos que pontuam o filme, alguns deles já marca registrada do diretor, responsável pela adaptação, para o cinema, de outras duas histórias em quadrinhos, “300” e “Watchmen”.
Há, inicialmente, o excesso de testosterona, coisa que nem a presença de Lois Lane (Amy Adams) e da Mulher Maravilha (Gal Gadot) – que faz quase uma participação especial –, duas figuras femininas fortes, consegue resolver. Os excessos característicos de Snyder prosseguem nas cenas de ação, que pecam algumas pela pirotecnia; no uso algo desmedido da câmera lenta; na trilha sonora de Hans Zimmer e, claro, na duração do filme e seus excessivos (e desnecessários) 150 minutos!
Mesmo a tão esperada batalha entre Batman e Superman (“os dois homens de calça justa mais famosos da cultura pop”, segundo a Indiewire) incorre nesse pecado: se excede na pancadaria, mas sua solução é frouxa e mal resolvida. A impressão é que os roteiristas (Chris Terrio e David Goyer), maravilhados com a possibilidade de levar às telas o que poucos ousaram fazer antes mesmo em outras mídias (Frank Miller, nos quadrinhos, é certamente a melhor lembrança), e contando com amplos recursos financeiros e tecnológicos, tivessem dado pouca atenção à necessidade de narrar o confronto para além de sua óbvia exuberância visual.
O filme, certamente, não é feito apenas desses excessos. Há acertos no elenco, que além de Amy Adams como Lois Lane, traz de volta Laurence Fishburne (Perry White) e Henry Cavill (Clark Kent/Superman) repetindo seus papéis em “O homem de aço”, também dirigido por Snyder. Além das participações de Kevin Costner e Diane Lane, interpretando Jonathan e Martha Kent, respectivamente, e Michael Shannon, como o General Zod/Apocalipse.
Mas é no elenco novo que o filme surpreende positivamente: Jeremy Irons está bem como Alfred Pennyworth, e Jesse Eisenberg faz um bom Lex Luthor, ainda que o personagem soe um pouco deslocado no tempo da narrativa e em relação a caracterizações anteriores de Luthor no cinema, mais próximas ao universo dos quadrinhos. E se ainda é cedo para se falar com mais propriedade da Mulher Maravilha de Gal Gadot, já podemos ao menos respirar aliviados em relação ao Homem Morcego: Ben Affleck funciona como Batman/Bruce Wayne mais envelhecidos que o personagem de Christian Bale na trilogia de Nolan, emprestando aos personagens o ar cansado e desencantado advindos com o passar dos anos.
Há um acerto também, a meu ver, na aproximação sutil com os quadrinhos. Nisso, não há exagero, mas uma apropriação bem conduzida de algumas passagens e escolhas narrativas, por exemplo, na constante cobertura midiática dos eventos ao longo da trama, visivelmente inspirada em “O cavaleiro das trevas”, de Frank Miller. A dupla de roteiristas e o diretor acertaram também ao fazer uma opção mais didática – ou clássica, a depender do ponto de vista – na apresentação dos personagens.
Se pode soar repetitivo aos mais familiarizados com o Universo DC o trauma de infância de Bruce Wayne/Batman, órfão de pai e mãe desde muito cedo; e a sensação de deslocamento de Clark Kent/Superman, um alienígena entre humanos, na Terra, o didatismo pode ser útil aquela parcela do público que vai ao cinema sem conhecer o suficiente dos quadrinhos. Mesmo para os leitores das HQs, o filme acerta ao não complexificar demais suas origens; atendo-se ao já conhecido, BvsS se poupa (e nos poupa) de explicações que poderiam contabilizar mais excessos em uma lista que já tem alguns.
Uma escolha narrativa, por outro lado, que abre espaço para o melhor do filme, a meu ver: a maneira como a história explora os conflitos entre os dois heróis, a percepção contraditória que ambos tem de sua “missão”, e que tanto explica o confronto como faz aparecer sentimentos mais complexos nem sempre explorados mesmo em Batman – um humano – e muito menos em Superman.
Uma pena que, seja pela dificuldade a fugir do estilo que o consagrou, pelas pressões da indústria (não esqueçamos que BvsS é o prelúdio para “A Liga da Justiça” que, por sua vez, concorre na mesma faixa que “Os Vingadores”, da Marvel) ou por um pouco dos dois, Zack Snyder optou por manter esses aspectos em segundo plano na trama. “Batman vs. Superman – A Origem da Justiça” é, principalmente, uma experiência visual sem dúvida primorosa, e um bom filme de heróis e de ação. Não é pouco, é verdade. Mas se a mão de Snyder fosse um pouco menos pesada, penso que ele poderia ser mais que isso.







BOM

Nenhum comentário:

Postar um comentário