domingo, 20 de março de 2016

Crítica: "Demolidor" (2ª Temporada)

Demolidor
Ação/Crime/Drama
Data de Lançamento: 18/03/2016
Distribuição e Disponibilidade: Netflix
Produção: Drew Goddard


       Antes de mais nada, preciso avisar: esta é uma análise sem spoilers, portanto não entregarei nada de crucial para o desfecho da história. Porém, tratando-se de uma série de televisão, é impossível falar sobre a trama sem pelo menos citar eventos que ocorrem ao longo dos primeiros episódios, como por exemplo personagens que retornam e alguns acontecimentos que movem a trama. Assim, se você pretende assistir esta temporada sem saber absolutamente nada sobre o desenvolvimento da narrativa aconselho que leia esta crítica somente após ter assistido todos os episódios, ou pelo menos a metade da temporada.

     Assim como "Jessica Jones", a primeira temporada de "Demolidor" já havia sido incrível, explorando elementos da personalidade de seus personagens principais que nenhum filme de super-heróis jamais havia conseguido. A primeira temporada das duas séries demonstra um esmero enorme dos produtores em estabelecer um universo para as séries, uma Hell's Kitcken que assume vida própria e faz parte da história, um ambiente perfeito para o desenvolvimento das histórias dos heróis "urbanos" da Marvel. Ambas as séries haviam acertado em cheio ao contar as origens de seus personagens de maneira não linear e, principalmente, atreladas à origem e o desenvolvimento de seus vilões. A primeira temporada de Demolidor havia sido tanto dele quanto do Rei do Crime. Portanto, quando foi anunciado que o Justiceiro faria parte da nova temporada, minhas expectativas não poderiam ter sido mais altas.
      Com tão grande expectativa, não me surpreendi de ter ficado um pouco decepcionado com o primeiro episódio da série. Não que ele não tenha sido ótimo, mas em minha opinião ele não conseguiu cumprir com a difícil tarefa de manter o padrão que o final da primeira temporada havia estabelecido. As coisas realmente começam a engrenar no segundo episódio, culminando em um terceiro episódio que muito provavelmente tenha sido o melhor momento da série até aqui. Este episódio foi a culminação de tudo o que eu esperava deste novo arco do personagem, utilizando o Justiceiro e sua falta de escrúpulos em matar como uma oposição perfeita ao personagem do Demolidor. Não pretendo entregar muito, mas o que posso dizer é que as ações nada heroicas do Justiceiro levam o próprio Demolidor a questionar suas próprias motivações e atitudes. O diálogo desta parte é excepcionalmente bem escrito.
        E isto nos leva ao final do episódio. A primeira temporada de Demolidor já havia estabelecido um nível excelente para as cenas de ação, que eram brutais e maravilhosamente bem coreografadas, algo muito mais semelhante à "The Raid" (2010) do que "Vingadores" (2012). Uma cena em particular ganhou notoriedade, logo no segundo episódio, quando o Demolidor luta contra um grupo de capangas em um corredor apertado. Esta cena já havia sido ótima, mas o que acontece ao final do terceiro episódio da atual temporada elevou tudo a um outro nível. A cena de luta começa também num corredor, e vai descendo as escadas, e descendo, e descendo... sem nenhum corte! Sim, é um plano sequência de aproximadamente 5 minutos em que o Demolidor luta contra inúmeros capangas de uma gangue de motoqueiros e a ação não para nem por um segundo. Imaginem o quão difícil deve ter sido para coreografar toda a cena sem cortar sequer uma vez.
           O problema é que este é justamente o ponto alto da terceira temporada. O que se esperava era que a trama inteira giraria entorno do confronto entre o Justiceiro e o Demolidor, que é de onde os melhores momentos são extraídos. Porém, no meio da temporada, do episódio 4 até o 9, os produtores decidiram deixar este arco de lado, explorando outros personagens e elementos. Temos neste meio tempo a volta de Stick, o desenvolvimento da organização criminosa famosa dos quadrinhos chamada A Mão e a introdução de Elektra. O problema é que estes eventos, dada a qualidade superior do arco do Justiceiro, ficam com uma cara de filler, algo que desvia da história principal da temporada e está lá apenas para preparar o "universo televisivo Marvel" para as próximas séries de "Punho de Ferro" e dos Defensores. Não consigo evitar a impressão de que a história do Justiceiro tenha sido "poupada" para uma possível e provável série solo do personagem. Pensando no universo como algo maior, tais opções são completamente compreensíveis, mas é inegável que tenham prejudicado esta história.
          Talvez a grande falha desta segunda temporada não seja nem o desenvolvimento das histórias paralelas, que são extremamente interessantes, mas a forma como isso foi feito. Os personagens coadjuvantes acabaram sendo em sua maioria mal desenvolvidos. Karen Page, que havia tido um ótimo arco na primeira temporada, acaba sendo mal utilizada nesta. Quando tem seus momentos sozinha ou com o Justiceiro ela é uma excelente personagem, porém seu interesse amoroso por Matt Murdock soa extremamente forçado e existe somente para movimentar a trama e desenvolver o personagem do Demolidor. Já Foggy Nelson é também bastante desperdiçado, não indo além da dinâmica de "consciência" de Matt estabelecida anteriormente. O outro grande destaque da temporada é Elektra. Seu passado envolvendo Stick e o próprio Matt são bem estabelecidos, mas demoram demais a se desenrolar e as "missões" que ela e o Demolidor realizam parecem demasiadamente paralelas, somente para preencher espaço. Novamente fica aquela sensação de ser um desvio em relação à história que realmente queríamos ver.
            A série retoma força a partir de seu nono episódio, terminando a temporada em alto nível. Porém, ao fim de todos episódios, não consigo evitar a sensação de que a história contada nesta temporada teria sido melhor explorada em menos tempo, pois ela acaba parecendo "fina" no decorrer dos longos 13 episódios da série. Em comparação com a primeira temporada, esta segunda parece muito menos bem acabada e estruturada. Porém, esta temporada contém inúmeras cenas de ação, que conseguem ser ainda melhores que as da anterior e que por conta própria já fazem valer a pena. Ela também é bem sucedida em desenvolver ainda melhor o personagem do Demolidor, assim como a história envolvendo A Mão e principalmente o Justiceiro, que realmente espero e acredito que em breve ganhará sua própria série. No fim das contas, dentro do universo compartilhado da Marvel às vezes a história é prejudicada pelas necessidades de estabelecimento de premissas e personagens para desenvolvimentos futuros. É o preço que se paga.







Ótimo

Por Obi-Wan

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