quarta-feira, 9 de março de 2016

Crítica: "A Bruxa"

A Bruxa
(The Witch)
Drama/Mistério/Terror
Data de Estreia no Brasil: 03/03/2016
Direção: Robert Eggers
Distribuidora: Universal Pictures

É muito fácil encontrar na internet qualquer notícia, post ou qualquer relato informal sobre pessoas saindo da sessão de “A Bruxa” acreditando que o filme foi uma experiência incrível, enquanto pessoas ao seu lado o criticam duramente e vice-versa. É mais fácil ainda entender o porquê disso: sendo uma obra que não se calca nas convenções do gênero para agradar os espectadores em suas posições cômodas, “A Bruxa” é muito mais do que um drama, terror ou mesmo thriller, é um estudo eficaz e perturbador sobre uma figura muito comum na cultura pop do horror, que brinca com as emoções e pensamentos de qualquer um que esteja disposto a dedicar sua atenção ao filme.

Sem jumpscares ou truques baratos comuns em produções extremamente populares hoje em dia (sim, “Annabelle”, eu estou olhando pra você!), o filme utiliza de um ritmo lento e um tom etéreo para contar a história de uma família com religiosidade fervorosa durante o século XVII na Nova Inglaterra. Após se mudarem para uma região próxima a um bosque, coisas horríveis começam a acontecer fazendo com que nós e os próprios personagens comecemos a questionar nossa lógica e fé a partir dos acontecimentos que passam na tela.
Talvez este seja o elemento principal do filme, criando uma atmosfera de tensão e de pura dúvida na cabeça de qualquer indivíduo envolvido com os fatos, a obra parte para uma análise da própria natureza religiosa daquelas figuras, além de utilizar de vários dos elementos clássicos atribuídos ao longo da história a bruxas (e, como também se pode ver ao final da projeção, o filme é resultado de uma incrível pesquisa de relatos e estudos quanto ao assunto). O medo e a tensão são gerados não só pelo o que o filme pode mostrar, mas também com a sugestão que se completa com o imaginário coletivo que o tema detém.
Não que isto se crie somente pelos aspectos temáticos dentro da película, as atuações são todas excelente e formam um tom uníssono para a abordagem do filme. Se por um lado a figura dos pais William e Katherine (Ralph Ineson e Kate Dickie respectivamente) é muito bem representada pelos atores para expor o abalo gradual na psique dos personagens, os atores mirins do filme brilham ao serem extensões da religiosidade exacerbada dos pais, em especial Anya Taylor-Joy que compõe Thomasin com a malícia e inocência perfeitos para criar uma interpretação magnética. A onde quer que ela esteja na tela os olhos do espectador a procuram.
Esta entrega dos atores (que tiveram que lidar com inglês arcaico) é um complemento para a mesma dedicação do roteirista e diretor do filme, o estreante, Robert Eggers. Criando planos maravilhosos que saltam do “plano geral” para o “plano médio” e então o “close-up” muitas vezes a partir da movimentação dos atores, o diretor utiliza do movimento de câmera para mostrar o necessário no momento mais oportuno. Assim, a montagem e a fotografia caminham de mãos dadas com a técnica do diretor, já que, como dita a atual tendência criada por Emmanuel Lubezki, o filme foi gravado sem luz artificial, com o diretor de fotografia Jarin Blaschke utilizando de uma paleta acinzentada e esfumaçante para contribuir para a tensão do filme.
Tensão esta que fica no meio do caminho justamente em sua sequencia final que parte para a exposição exagerada dos elementos que justamente davam tons de mistério ao filme. Após fazer uma representação tão maravilhosa de todos os tópicos que o roteiro quis abordar, é mesmo frustrante que Eggers caia na tentação de amarrar as pontas soltas que eram mais ricas quando passiveis de uma interpretação mais questionadora e curiosa por parte do espectador. Este é o único momento no qual o lado sensorial e o intelectual não podem compactuar com a imaginação, apenas aceitar uma resolução que ainda abre espaço pra interpretação, mas não da mesma maneira poderosa que o filme vinha demonstrando.
Mas de qualquer forma, a curiosidade e o medo que se intercalam, ganham grandes proporções não só pela ambientação precisa e sufocante da região próxima ao bosque (que além de tudo, parece um labirinto assustador), mas também pela trilha sonora que utilizando por vezes de um coro distorcido ou mesmo harmonias cacofonicas é capaz de gelar a espinha. Dessa forma, ao invés de tentar buscar o susto fácil com acordes altos de piano, a música surge, muitas vezes, antes mesmo de um elemento perturbador realmente nos ser mostrado, quase que num presságio do mal que está a caminho.
Não nos sobra outra palavra para definir o filme além de “perturbador”. Se a falta de sustos afastará quem quer um mero passatempo esquecível ou mesmo será utilizado para afirmar de que não se trata de um filme de terror, o elemento psicológico presente na tensão do filme irá me levar a tomar um dos lados que apontei no início deste texto: “A Bruxa“ é quase uma obra prima do terror (quase), mas é sem dúvida alguma um filme capaz de causar a reflexão, gerar tensão e ainda nos entregar um drama de época fascinante.

  





ÓTIMO
POR HAN SOLO

2 comentários:

  1. Ótima critica, assisti terça feira o filme e adorei, realmente assustador, dramático e perturbador.

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    Respostas
    1. Muito obrigado, Jean!
      Acho que os adjetivos que você colocou são os mais perfeitas para esse filme. Quando se tem um gênero tão subestimado e já surrado por produções medíocres, filmes como este são uma verdadeira e maravilhosa surpresa.

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