sexta-feira, 10 de junho de 2016

Crítica: "Como Eu Era Antes de Você"

Como Eu Era Antes de Você
(Me Before You)
Drama/Romance

Data de Lançamento no Brasil: 16/06/2016
Direção Thea Sharrock
Distribuidora: Warner Bros.


Como se já não bastasse a proliferação de filmes “Oscar Bate” (obras que procuram somente conquistar prêmios no final do ano com narrativas redondinhas e tradicionais), eis que me deparo com este “Como Eu Era Antes de Você” que se coloca numa outra categoria: “Tears Bate”, que se relaciona com filmes genéricos que possuem o único objetivo de emocionar através de recursos dramáticos extremamente artificiais, construindo uma jornada de esperança, amor e lágrimas (como o nome do termo evidencia) e que soa sempre aborrecida e superficial, mesmo que aqui e ali o filme possua todas as oportunidades do mundo de se aprofundar melhor em seus personagens e os dramas destes.

A história não poderia ser mais propícia para tal abordagem, após ser demitida e se ver pressionada a arranjar um novo trabalho devido a situação financeira de sua família, a jovem e energética Louisa Clarck (Emilia Clarke) arranja um emprego na imensa propriedade dos Traynor como uma “assistente” nos cuidados do jovem William (Sam Claflin) que após um grave acidente se vê tetraplégico e deprimido. Logo a função da moça se mostra mais como uma acompanhante/animadora na vida de Will (que já tentou o suicídio), criando uma ligação com o jovem que logo vai se desenvolvendo... E não é preciso que eu lhes dê mais nenhuma informação sobre o assunto, já que é fácil deduzir qual será o destino emocional dos dois.
Aliás, é justamente pelo fato das relações entre os personagens se mostrarem meras obrigações do roteiro de Jojo Moyes ao adaptar seu próprio livro, ao invés de um desenvolvimento gradual e lógico das emoções daqueles indivíduos, que já se estabelece como uma falha grotesca do filme.  Enquanto o livro (o qual, antes que alguém venha me questionar, eu li) podia se apoiar no fato de ser em primeira pessoa para demonstrar os pensamentos da protagonista e organizá-los com os acontecimentos, no filme diversos pontos da história soam desnecessários justamente por não fazerem sentido para o espectador que, sem poder ler os pensamentos da personagem principal e sem qualquer profundidade na história para que entendamos meramente como funcionam estes, acaba sempre se deparando com sequências completamente descartáveis.
Tomemos, por exemplo, o namorado de Clark, interpretado por Matthew Lewis. Sendo sem dúvida alguma completamente dispensável para a história toda, o personagem está presente somente pela famosa desculpa que todos os fãs gostam de dar para os erros de suas adaptações: “Mas no *coloque aqui o nome da obra original na qual o filme foi baseado* também é assim!”. Por mais que o roteiro construa uma gag engraçadinha envolvendo o personagem e seu vício por exercícios físicos, é fato de que este se encontra ali para gerar uma tensão de “triângulo amoroso” já tão esgotada pelas obras da atualidade e que aqui não funciona de maneira alguma inclusive por não haver qualquer motivação para que o espectador torça pela união de Will e Louisa, já que não há qualquer motivo para que a atração dos dois pareça meramente verossímil.
Este ponto é o que mais frustra, pois, como eu já havia escrito em minha crítica sobre Ciquenta Tons de Cinza, num filme que se auto-intitula um “romance” é mais do que natural que esperemos qualquer química do casal principal. E por mais que Claflin faça um bom trabalho ao ressaltar todas as frustrações e tristezas por trás de sua amargura (que parece completamente contida pela direção) e sarcasmo, Emilia Clarke aposta na pura histeria e overacting que ao invés de tornar sua personagem carismática e energética só a deixa insuportável. Como se não bastasse, a mensagem deixada pelo filme sobre “viver a vida” e “aproveitar grandes momentos” torna-se completamente elitista, com todas as atividades “interessantes” e “divertidas” estando ligadas a viagens caras, jantares elegantes e um acervo cultural considerado “erudito” contando com música clássica, livros clássicos e filmes em preto-e-branco franceses. Sendo inevitável pensar nisso já que todos estes elementos sugerem uma mudança positiva na vida da protagonista quando emparelhados ao título do filme.
Mudança de vida esta que sempre chega ao limiar de se tornar uma mensagem completamente machista, com as roupas e o penteado da protagonista se transformando ao longo da projeção, já que ela aos poucos vai adquirindo novos gostos e estilos. Ao menos tal arco de figurino é realizado com a protagonista abandonando objetos mais infantis (como uma presilha de borboleta que está prende ao cabelo) e mesmo assim não de forma completa, já que ao final do filme podemos ver a protagonista usando uma determinada peça de roupa com um caráter nostálgico e infantil para ela. Tal abordagem ao menos “faz sentido” quando nos deparamos com questões complexas que a protagonista enfrenta e que mudaria a percepção de qualquer um acerca da vida – E é mesmo uma pena que para um tema tão interessante e complexo presente no filme possua somente poucos diálogos sem qualquer discussão aprofundada.
Com isto, devo ressaltar que o designe de produção faz um ótimo trabalho ao saber explorar a pequenez da residência dos Clarke em relação a grande propriedade dos Traynor, trazendo ainda no arco de Will uma variação de suas roupas que, por ainda se manterem dentro de um padrão de cor, demonstram qual será o futuro do personagem. Mas é aqui que as congratulações acabam ao filme, já que a diretora Thea Sharrock faz um trabalho burocrático inclusive na escolha de sua trilha sonora em suas transições de cenas repetitivas e sem qualquer imaginação. Ao menos posso dizer que o filme quase cumpriu seu objetivo nos seus demasiadamente longos 110 minutos de duração, já que ao termino da projeção todos na sala de cinema beiraram as lágrimas pelo tão aguardado fim do filme.





Ruim

Por Han Solo

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