Data de Estréia no Brasil: 23/06/2016
Direção: Julio Santi
Distribuição: Spcine
"O Caseiro" é uma raridade: um filme de terror produzido no Brasil e que, ainda por cima, conta com um caro orçamento (3,2 milhões) e um elenco recheado de faces conhecidas pelo grande público, algo que certamente lhe renderá um grande lançamento nos cinemas daqui. O filme acompanha Davi Carvalho, um professor de psicologia especialista no estudo de casos em que a mente humana projeta traumas passados em "eventos sobrenaturais" no presente. Renata, uma estudante da universidade em que Davi dá aula, vai até sua classe lhe contar sobre coisas inexplicáveis que estão acontecendo com sua irmã mais nova em uma pequena cidade do interior e pede sua ajuda. Davi, buscando mais um caso que comprovasse e exemplificasse sua tese, decide ir até a cidade investigar os acontecimentos.
No entanto, a particularidade que mais me agrada em relação a "O Caseiro" é sem dúvida seu personagem principal. Davi Carvalho tem uma personalidade própria que é construída de maneira muito interessante ao longo do filme, não sendo nem o cético absoluto que se coloca em uma posição de descrença ante a tudo o que presencia e nem o tradicional investigador de atividades paranormais, como por exemplo os Warren. Davi lembra muito mais o padre Karras de "O Exorcista" (1973), um estudioso da mente humana que se esforça por enxergar todos os acontecimentos por um viés psicológico. Apesar do claro paralelo, Davi nunca parece um personagem simplista ou unidimensional, graças a uma ótima performance de Bruno Garcia e ao tempo de desenvolvimento que o filme lhe dá. Acho particularmente interessante o quanto sentimos que Davi está deslocado naquela situação, dormindo em uma casa de completos estranhos e conversando com crianças pequenas sem ninguém da família por perto.
O elenco é certamente um dos pontos fortes de "O Caseiro", contando também com atuações muito boas por parte de Leopoldo Pacheco, pai das crianças, e Denise Weinberg, tia delas. Surpreendente também são as atuações de Annalara Prates e de Bianca Batista, que fazem um ótimo trabalho representando as crianças atormentadas pelos estranhos acontecimentos. No entanto, o ponto mais forte do filme está certamente em seu aspecto técnico, contando com um excelente trabalho do diretor Julio Santi e de seu cinematografista, que contribuem para criar uma estética muito particular para o filme, com cenas visualmente muito bonitas e bem construídas que se destacam já na sequência inicial. Além disso, a trilha sonora do filme é simplesmente sensacional, sabendo escolher os momentos exatos para intervir e contribuir com a iluminação e a direção para criar uma atmosfera de profundo suspense psicológico que se desenvolve de maneira perfeita ao longo do filme.
Já quanto aos pontos negativos, o principal é certamente o roteiro, especialmente em seu terceiro ato. Enquanto funciona perfeitamente na primeira metade do filme, criando um tom e ritmo muito bons para o desenrolar da história, o roteiro peca muito dali para frente, contendo um número cada vez maior de furos em sua história e inserindo personagens, como Pedro e o Padre José, que aparecem somente para movimentar a trama para onde ela precisa ir. Também não me agradou muito a resolução do filme, com um certo twist que soa forçado em comparação ao resto da história. De qualquer forma, "O Caseiro" é um filme que exala originalidade, sendo um dos primeiros exemplares do gênero de terror brasileiro que me lembro de ter tido tamanha qualidade de produção à sua disponibilidade. O filme é essencialmente um suspense psicológico capaz de envolver profundamente qualquer tipo de público, dos mais crentes em atividades paranormais até os mais céticos.
Ótimo
Por Obi-Wan
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