quarta-feira, 1 de junho de 2016

Crítica: "Warcraft"

Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos
(Warcraft)
Data de Estreia no Brasil: 02/06/2016
Direção: Duncan Jones
Distribuição: Universal Pictures


          Lançado pela Blizzard em 1994, o jogo de estratégia "Warcraft: Orcs & Humans" tornou-se rapidamente extremamente popular, criando uma franquia no gênero de jogos de estratégia em tempo real. 10 anos mais tarde, foi lançado "World of Warcraft", MMORPG que rapidamente tornou-se uma febre mundial online, reunindo mais de 10 milhões de jogadores ao redor do globo. Por conta da enorme popularidade que carrega o nome Warcraft, criou-se desde cedo uma enorme expectativa em torno do filme que tinha lançamento anunciado para 2016. Grande fã do game, Duncan Jones prometia uma grande experiência cinematográfica para aqueles que como ele haviam se apaixonado pelo mundo de Warcraft. Isso logo levantou a pergunta: seria "Warcraft" o primeiro grande filme baseado no universo de um videogame?
           Admito que não tenho muito conhecimento em relação ao game em si pois não o joguei, mas a partir de conversas com pessoas que jogam World of Warcraft sempre acreditei no potencial existente naquele universo para dar origem a uma grande franquia de filmes. O que há de mais original no mundo de fantasia de Warcraft é a sua recusa a uma visão maniqueísta dos confrontos existentes dentro de seu mundo. Desde o primeiro game de 1994 à versão online posterior, não há heróis e vilões no mundo de Warcraft, mas classes e raças que trazem benefícios e malefícios ao jogador que as escolhe. Deste modo, diferentemente das obras de Tolkien e de boa parte dos autores por ele inspirados, o papel de "herói" e de "vilão" não cabe naturalmente a nenhuma das raças e personagens presentes no mundo do game.
         O grande acerto do roteiro de "Warcraft" é saber como traduzir essa complexidade para a trama de um filme que tem como missão atingir o grande público, muito mais acostumado com a visão de Tolkien do que a dos RPGs. Dessa forma, o filme opta por manter seu foco e sua atenção sempre divididos entre dois lados de um mesmo confronto, funcionando como uma história de origem para a guerra ininterrupta entre humanos e orcs que é explorada pelos games. A principal missão de "Warcraft" é estabelecer justamente a ideia de que não há um lado iminentemente "bom" e nem um "mau" na história, mas uma guerra gerada por um conflito de interesses entre dois lados distintos, o dos humanos e o dos orcs.
           A estrutura do roteiro de "Warcraft" em si não é muito original, com a ideia de uma espécie precisando invadir outro mundo por conta da destruição do seu próprio, que já apresentada por H. G. Wells em seu "A Guerra dos Mundos" de 1897 e repetida muitas outras vezes desde então. O filme também utiliza-se de vários outros clichês e mini "plot twists" que qualquer pessoa que tenha vido um filme de fantasia na vida saberá identificar instantaneamente. Apesar disso, os personagens criados pelo filme são interessantes e carismáticos o suficiente para carregar toda a trama nas costas, amenizando muito os clichês do roteiro com sua complexidade. "Warcraft" está repleto de personagens humanos bem construídos, como o guerreiro Anduin Lothar do ótimo Travis Fimmel (o Ragnar de "Vikings"), o mago  Khadgar, que foge de sua Ordem e luta pelos humanos e o próprio rei Llane Wrynn.
           No entanto, a melhor parte de "Warcraft" está realmente dentre os orcs, sendo que todos os melhores aspectos do filme se desenvolvem em torno deles e de sua planejada invasão ao mundo de Azeroth. Toda a estrutura social dos orcs é apresentada de modo muito interessante, principalmente pela visão de Durotan, grande líder de um clã que tem todas as suas ações motivadas pelo interesse e defesa de seu clã e de sua família, mesmo quando isso implica na difícil decisão de ir contra o restante de sua espécie. Os elementos da dominação exercida por Gul'dan são muito bem desenvolvidos e o filme encontra na mestiça Garona uma excelente maneira de transitar entre os dois mundos, pois ela própria é metade humana e metade orc e não se encontra totalmente em nenhum dos dois.
         Um dos principais erros de "Warcraft" é justamente negligenciar um pouco seu núcleo mais interessante para acompanhar os humanos em sua tentativa de combater os orcs e impedir sua invasão. Por um lado, isso é extremamente compreensível, pois a maior parte do grande público precisa de um rosto humano para estabelecer algum tipo de conexão com um personagem. Por outro, esse "abandono" dos orcs e um foco excessivo nos humanos que se dá do começo até a metade do filme é prejudicial ao ritmo da trama, utilizando-se muito de personagens como o Guardião para explicar aspectos do mundo de Azeroth e da trama. Porém, passando-se este momento de relativo tédio, "Warcraft" mostra a que veio, com visuais assustadoramente bem feitos e modelados, principalmente com relação aos orcs e suas expressões e movimentações extremamente realistas.
         O diretor Duncan Jones compreende de maneira perfeita o que a trama de "Warcraft" requer em termos visuais, sendo capaz e tendo a coragem de dar ao filme um aspecto inteiramente inspirado nos games e no mundo de Warcraft, não se importando nem um pouco em representar humanos com armaduras ridiculamente grandes e brilhantes e muito menos a utilização da famosa visão aérea e panorâmica dos MMORPG. Por conta disso, a imersão em um mundo não só de World of Warcraft, mas também um mundo de video game num sentido mais abstrato certamente vai agradar àqueles que há anos esperavam um grande filme baseado em um game e que até agora só haviam recebido atrocidades como o terrível "Dungeons & Dragons" (2000).
                 Porém, o maior acerto de "Warcraft" infelizmente tem uma grande probabilidade de ser também sua maior fraqueza. Não tenho dúvidas de que fãs dos games de Warcraft e de videogames em geral se sentirão muito satisfeitos com o resultado final dos delírios de nerdice e nostalgia de Duncan Jones. No entanto, não consigo prever qual seria a reação do grande público a um filme espalhafatoso e brilhante como "Warcraft", com uma narrativa e personagens muito incomuns para o gênero da fantasia e para os filmes mais mainstream que chegam aos cinemas hoje em dia. Dessa forma, "Warcraft" é um filme que particularmente gostei muito, mas não o recomendo a todos os públicos e certamente entenderei aqueles que não gostarem do filme. Mas como esta é minha crítica e minhas impressões do filme, preciso dar uma classificação mais específica. Então, aqui vai:






Ótimo

Por Obi-Wan

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