sábado, 27 de agosto de 2016

Crítica: "Café Society"

Café Society
Romance/Comédia
Data de Estreia no Brasil: 25/08/2016
Direção: Woody Allen
Distribuição: Imagem Filmes

Créditos iniciais em preto e branco organizados em ordem alfabética, Jazz clássico como trilha sonora, diálogos existencialistas e piadas envolvendo as famílias judias de Nova York, basta estas poucas dicas para ficar claro que estamos falando de mais um filme "escrito e dirigido por Woody Allen". Tendo produzido um longa metragem por ano desde 1969, é natural que o cineasta fosse perder um pouco de fôlego e criatividade com o passar do tempo, com o novaiorquino afirmando ainda que se mantém trabalhando após tantos anos para se manter longe dos pensamentos em relação ao fato de estar cada vez mais próximo da morte. Basta olhar para este novo longa "Café Society" para que constatemos tanto que o talento de Allen não morreu - pelo contrário, este é um dos filmes visualmente mais ambiciosos do diretor - quanto que, com a atual idade do diretor (80 anos), este está muito mais preocupado em se manter trabalhando do que criar uma linha de narrativa coerente para seus roteiro.

Pois a verdade é que os reais problemas do longa residem justamente no fato deste ter uma crise de identidade tremenda com relação a história que quer contar. Aparentemente dividido entre duas ideias, Allen combina dois blocos narrativos distintos que, por se intrometerem frequentemente um no outro, acabam se diluindo por completo. Assim, temos a história principal de Bobby Dorfman (Jesse Eisenberg), um judeu novaiorquino (cof cof Woody Allen cof cof) que tenta começar uma nova vida em Hollywood, contando com o auxílio e tutela de seu tio Phil Stern (Steve Carrel), um influente agente de astros de cinema, e então conhecendo e se apaixonando por Vonnie (Kristen Stewart). Tudo isso combinado de maneira forçada com um segundo bloco narrativos - que dá ao filme uma divisão de núcleos novelesco - onde acompanhamos a família Dorfman em Nova York, principalmente os atos criminosos de seu irmão mafioso Ben (Corey Stoll).
Com dois filmes brigando dentro de um, o espectador se frustra amargamente por nenhum se desenrolar de maneira adequada, algo que danifica gravemente o filme já que assim constatamos o potencial de duas histórias que infelizmente nunca se desenvolvem para além da superfície. O romance entre Bobby e Vonnie, por exemplo, nunca é abordado para que realmente torçamos pelo casal (um elemento básico num romance), relegando ao espectador simplesmente aceitar um encantado de Bobby por Vonnie e que esta é extremamente interessantes não por ela demonstrar isso, mas simplesmente porque os personagens dizem que ela é. Até mesmo as motivações de Bobby quanto a nova vida em Hollywood são adicionadas e deixadas de lado quando o filme simplesmente se cansa destas - e a possível carreira de roteirista que é ofertado ao garoto aparece tão repentinamente que até nos esquecemos que o filme nunca mais menciona tal ocorrido.
Se por um lado Eisenberg veste a persona de Woody Allen tão bem, imitando gestos que qualquer um acostumado com a filmografia do diretor consegue reparar, não há muito material para que o ator possa trabalhar o personagem, mesmo que o faça de maneira competente no fiapo de arco dramático do garoto Dorfman. Aliás, quanto ao elenco não se pode fazer muitas reclamações, embora Stewart esteja ali para ser bonita e meiga (assim como Blake Lively), com o núcleo familiar dos Dorfman funcionando em sua proposta cômica que remete e muito a "Tiros da Broadway", cabe mesmo a Steve Carrel  - em papel que era originalmente de Bruce Willis - trazer humanidade para um personagem que poderia claramente cair na caricatura de frieza e ameaça, algo que seria fácil para Willis.
Em meio a tudo isso, o Woddy Allen diretor parece ter voltado a entender o tom do tratamento que quer dar a seus filmes, apostando na comédia e romance no grau certo em sua abordagem visual. Esta, aliás, é composta de longos planos tão característicos do diretor e movimentos de câmera que dão muito mais dinâmica para a história, já que Allen aposta numa linguagem que explora diversos ângulos de câmera sem parecer desordenado, formando rimas visuais que solidificam a proposta de cada cena (como nas sequencias passadas dentro do bar mexicano ou mesmo os contrastes de cada momento no qual certos personagens vão a clubes de Jazz). Há ainda pequenos floreios estilísticos colocados em transições de cenas que remetem a fade outs da época de ouro de Hollywood, contando ainda com um "fade in" que sobrepõe os olhos verdes de Kristen Stewart sobre o olhar sonhador de Boby.
Assim, o verdadeiro destaque de "Café Society" é mesmo os aspectos técnicos, como o brilhante designe de produção  de Santo Losquato e os figurinos de Suzy Benzinger que constroem brilhantemente o período que querem retratar, ainda conseguindo fazer comentários sobre o "arco" de Boby ao longo da narrativa (como a parede e tons de roupas amarelos no início da projeção, indicando ambição, para a cor predominante no ultimo plano do longa que possui um significado também interessante). Porém, nenhuma destas qualidades se compara à abordagem técnica da cinematografia do veterano Vittorio Storaro, que consegue fazer contrates tanto de ambientes diferentes em sua paleta de cores, manipulando a iluminação ao fazer uma belíssima composição quando Allen filma uma sequencia no contra-luz, trazendo ainda em suas filmagens uma melancolia romântica e nostálgica para o filme que é digna de oscar.
De qualquer maneira, tantos aspectos técnicos não salvam a bagunça frustrante que o roteiro de "Café Society" é, ficando claro o desperdício de tanto talento em seu plano final que em uma história mais coerente e melhor seria de grande impacto, não podendo negar que os aspectos técnicos são belos, mas estão presos a uma história (na verdade duas) de desenvolvimento enfadonho. O novo longa de Woody Allen (o de número 47) tem diversas características de um excelente filme do diretor de "Manhattan", "Annie Hall" e "Hanna e Suas Irmãs", mas também possuí os diversos defeitos da atual carreira deste.






Bom

Por Han Solo

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